80 anos do Dia da Vitória e os símbolos em disputa

Ocidente tenta apagar protagonismo soviético na derrota ao nazismo
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Presença de líderes internacionais contesta isolamento de Putin. Foto: Kremlin.ru

A Rússia prepara uma grande festa para marcar os 80 anos do Dia da Vitória na próxima sexta-feira (9). Veja detalhes sobre os 80 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial com a TVT News.

80 anos a vitória das tropas soviéticas sobre os nazistas

A data marca a vitória das tropas da União Soviética e de países aliados contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Ao lado do presidente russo, Vladmir Putin, confirmaram presença o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente chinês, Xi Jinping, que devem acompanhar um majestoso desfile cívico-militar na Praça Vermelha, em Moscou.

No contexto da atual guerra na Ucrânia, chama a atenção a total ausência de lideranças da Europa Ocidental nas comemorações que marcam justamente a libertação da continente do jugo nazista alemão. É mais um sinal da crescente russofobia que volta a contaminar as mentes europeias.

Além de Lula e Xi, também comparecerão o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic e o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico. Este último suspendeu o envio de armas para a Ucrânia e se opõe à adesão de Kiev à Otan.

Na semana passada, Putin anunciou um cessar-fogo na guerra na Ucrânia durante três dias – entre 8 e 10 de maio – durante as celebrações do Dia da Vitória. Ao mesmo tempo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou no último sábado (4) que “não pode garantir a segurança” dos líderes internacionais que estarão em Moscou, insinuando eventuais ataques militares ou terroristas durante o evento.

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A icônica foto ” içando uma bandeira sobre o Reichstag”. Ilustração sobre foto que mostra a bandeira soviética (URSS) içada no prédio do parlamento alemão. Foto: Yevgeny Khaldei

Para o historiador e cientista político Carlito Neto, a presença desses líderes internacional desmontra que Putin resiste ao isolamento que os países da Otan tentam lhe impor. “A Rússia quando se reúne com seus aliados, manda recado de que não está sozinha”, afirmou Neto nesta segunda (5) durante participação no Jornal TVT News Primeira Edição.

Além disso, a comemoração da vitória soviética também serve para desmentir de que o nazismo seria de esquerda. “E quem leu o Mein Kampf – Minha Luta, uma espécie de autobiografia da Adolf Hitler – o próprio Hitler explica que a escolha da cor vermelha, a escolha do nome Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, bem como a escolha de alguns emblemas, era justamente para tentar convencer a classe trabalhadora a atuar ao lado deles. Ele até ironiza, no livro, dizendo que os marxistas ficaram revoltados ao descobrir que ele havia adotado as cores que simboliza a luta da classe trabalhadora”, comenta Carlito Neto.

A importância do Dia da Vitória

A data é especialmente simbólica para a Rússia, por conta do papel central desempenhado pelo Exército Vermelho na derrota do regime de Adolf Hitler. Mais que uma celebração militar, o dia também relembra os imensos sacrifícios feitos pela população soviética durante o conflito.

A participação da União Soviética na Segunda Guerra Mundial foi marcada por uma mobilização sem precedentes. Após ser surpreendida pela invasão alemã em junho de 1941 — a chamada Operação Barbarossa —, a União Soviética iniciou uma gigantesca campanha de resistência e contra-ataque.

A guerra no front oriental se tornou o principal teatro de operações da Segunda Guerra, reunindo algumas das maiores e mais sangrentas batalhas da história, como as de Moscou, Leningrado, Kursk e, especialmente, Stalingrado.

A Batalha de Stalingrado (1942-1943) foi um ponto de inflexão decisivo. As tropas soviéticas conseguiram conter e cercar o 6º Exército alemão, forçando sua rendição. Essa vitória não apenas elevou o moral da população soviética, como também enfraqueceu consideravelmente o poder militar nazista. A partir daí, o Exército Vermelho iniciou uma longa e intensa ofensiva rumo ao oeste, libertando territórios ocupados e pressionando o avanço aliado pelo oeste europeu.

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Batalha de Stalingrado foi decisiva para os soviéticos deterem o avanço nazista. Foto: Arquivo Federal Alemão

Ao final da guerra, estima-se que a União Soviética tenha mobilizado mais de 34 milhões de soldados. As perdas humanas foram colossais: cerca de 27 milhões de soviéticos morreram no conflito, entre militares e civis. Cidades inteiras foram destruídas, e regiões inteiras do país foram devastadas pela guerra.

O sofrimento da população soviética foi agravado pela brutalidade da ocupação nazista em áreas como Belarus, Ucrânia e os países bálticos, onde milhões de civis foram mortos ou deportados.

Apesar das divergências políticas e ideológicas entre a União Soviética e os países ocidentais, o esforço militar soviético foi decisivo para o colapso do Terceiro Reich. Em maio de 1945, tropas do Exército Vermelho entraram em Berlim, selando a rendição alemã. A bandeira vermelha hasteada sobre o Reichstag tornou-se um dos maiores símbolos do fim da guerra na Europa.

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Tomada de Berlim pelo Exército Vermelho, em 9 de maio. Foto: Yevgeny Khaldei via Wikimedia Commons

80 anos do Dia da Vitória: os símbolos em disputa

Durante o Jornal TVT News Primeira Edição, o comentarista Eduardo Castro lembra que o Ocidente adota Dia D – em 6 de junho de 1944 – como marco simbólico do início da derrota da Alemanha nazista. “Para os Estados Unidos, não é o dia 9 de maio, não é o dia em que o Exército Vermelho invade Berlim. É o Dia D. E essa mensagem é passada há 80 anos. Então acaba sendo interessante nesse momento que haja uma contra-mensagem, uma mensagem diferente, visual é perceptível, em que estejam presentes os líderes dos Brics”.

Para a comentarista Laura Capriglione, a presença de Lula e Xi em Moscou durante o Dia da Vitória representa “um grande simbolismo”. “O cinema americano sempre quis mostrar os Estados Unidos como o grande protagonista da vitória contra o nazismo. Mas isso é uma mentira de Hollywood. É uma mentira martelada um milhão de vezes, e a gente acreditou. Mas hoje, quando podemos ter acesso a outros filmes e materiais, foram 20 milhões de cidadãos soviéticos mortos durante a guerra. Então a maior vítima do nazismo, quem mais perdeu vidas, foi a URSS, inclusive no território que hoje é da Ucrânia, é importante falar”.

Além do Dia D, os ocidentais ainda buscam disputar a memória relativa à vitória sobre a Alemanha nazista utilizando o dia 7 de maio. Foi nesta data, na cidade de Reims, na França, que representantes do alto comando militar da Alemanha nazista assinaram a rendição perante o general Dwight Eisenhower, comandante das tropas dos Aliados ocidentais.

Os soviéticos, no entanto, que arcaram com maior esforço militar até a conquista de Berlim, bem como tiveram que lidar com as maiores perdas materias e humanas durante o conflito, exigiu uma segunda cerimônia, mais formal, a ser realizada em Berlim no dia 8 de maio — já madrugada do dia 9, segundo o horário de Moscou, quando os nazistas alemães assinaram a rendição incondicional, marcando o fim da Segunda Guerra Mundial no continente europeu.

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