No ano em que celebramos os 50 anos da cooperação sino-brasileira, a China ensina ao mundo que planejamento é a alma da boa tática. Com 60 bilhões de dólares investidos no Brasil, o país esbanja compromisso com a ciência, políticas multilaterais, pacto com o bem-estar do povo e uma boa memória da própria história, explicando o porquê de a China crescer tanto. Apesar disso, apenas cerca de 6 mil brasileiros vivem hoje entre os 1,4 bilhões de habitantes da China.
A capital Pequim faz com que qualquer visitante se deslumbre com o contraste entre os cinco mil anos de história e o avanço tecnológicos. Nas largas avenidas transitam majoritariamente carros modernos e silenciosos. Grades separam as calçadas das ruas, para que motoristas menos educados não parem o trânsito para deixar o carona em qualquer lugar. As faixas de pedestres funcionam. E a qualquer hora do dia ou da noite as bicicletas – elétricas ou não – ajudam a decorar o cenário de uma cidade que há 10 anos não era capaz de exibir o céu azul agora testemunhado.
Não é somente na despoluição que Pequim avançou: os principais veículos de comunicação do país ganharam também muitos investimentos – afinal, quem melhor poderia contar ao mundo sobre os feitos chineses senão eles próprios? Por isso, o principal canal de TV do gigante asiático – a China Global Television Network (CGTN) – não se resume à programação local, mas incorpora 24h de programação ao vivo – em inglês, espanhol, francês, árabe e russo – e a mais alta tecnologia garantindo que o mundo tenha acesso ao que se passa na China. Os estúdios são dotados do que há de mais moderno, ao mesmo tempo em que a redação monitora em tempo real os principais canais de notícia do planeta. A empresa, que tem milhares de trabalhadores, dedica cerca de 200 deles exclusivamente às Américas.
No mundo da comunicação digital as coisas não são tão diferentes: a empresa Kwai, investiu 7 bilhões de reais (entre 2019 a 2024) no Brasil, e sua sede é quase uma cidade. Restaurantes capazes de alimentar milhares de empregados, lojas, cabeleireiros, refletem um modelo de negócio chinês, incentivado por uma administração pública dedicada ao crescimento econômico. Diferentemente da maioria das redes sociais, a empresa Kwai abriga estúdios próprios, garantindo estrutura e financiamento para que comunicadores espalhem suas vozes – exatamente como fazem os canais de televisão.
Pertinho da área urbana, a monumental Muralha da China é de tirar o fôlego. Os degraus em pedras com altura irregular remetem à própria história chinesa, que tem altos e baixos, mas uma solidez inquestionável. Presentes não faltam neste patrimônio da humanidade: seja a memória da linda paisagem natural que o visitante leva para si, ou aquele comprado nas dezenas de barraquinhas espalhadas pelo principal ponto turístico da China.
Voando para Wuhan é possível entender a posição estratégica de Pequim, rodeada por montanhas. A capital está literalmente cercada por uma muralha natural, onde qualquer inimigo teria muita dificuldade de avançar por terra.
Wuhan é uma cidade ainda mais moderna que Pequim. Pontes suspensas, conglomerados de prédios de todos os tamanhos e altura nos lembram as razões de a China ser um paraíso para qualquer arquiteto. Imitando a poesia do idioma chinês, o verde das árvores e jardins suavizam o concreto das construções de uma cidade mundo bem planejada.
Na província de Hubei (o que seria o estado onde se localiza Wuhan), sua principal Universidade oferece curso de graduação e pós-graduação em língua portuguesa, sendo assim um dos principais parceiros da pesquisa brasileira. Tendo na UNESP seu maior aliado (mas não único), por meio do Instituto Confúcio oferece cursos de chinês para brasileiros. Infelizmente, a pandemia levou a maioria dos professores de volta à China, por isso, curso presencial tem somente no Ipiranga, capital paulista, mas há opção online para qualquer brasileiro desfrutar. Hoje cerca uma centena brasileiros estudam em Hubei, a cada ano.
Estar na China é estar no futuro: não somente em relação ao fuso horário brasileiro (são 11h adiante). A chamada “cidade do futuro” pretende ser um bairro inteligente com 77km². Parte dele já está pronto e foi construído em apenas 10 anos. O restante que já está planejado deve ser terminado na próxima década. Nesta cidade está o Instituto de Energia Renovável com mais um capítulo da integração chinesa: resultado de uma parceria entre o governo local e a Universidade Huazhong de Ciência e Tecnologia, esta joint-venture é uma incubadora de empresas que abriga tecnologia de ponta à disposição das startups que ali chegam. Com empresas de energia solar, eólica, distribuição inteligente de energia, captura de carbono, entre outras, o complexo todo é 100% alimentado por energia renovável. O principal prédio, com design inspirado na flor copo de leite, tem 3500m² alimentado por energia solar e eólicas, com captação diretamente do teto da edificação. Além de centro de tecnologia, é um espaço para elaboração de política pública visando a emissão zero de carbono – o que vai na direção oposta dos medidores internacionais, que classificam a China negativamente em termos de ações climáticas. Segundo funcionários do Instituto, o objetivo do centro de pesquisa que hoje abriga cerca de 50 empresas, é concretizar as pesquisas científicas. Em apenas 8 anos, cerca de 200 empresas já nasceram no centro, a maioria crescendo o suficiente para partir para outros espaços.
Muita coisa na China lembra o próprio idioma chinês, como o contraste entre concreto e o verde: é a mistura da praticidade com a poesia, da certeza com a fluência, da ancestralidade com o futuro. E negócio da China existe, sim, e é muito promissor.
Por Agnes Franco, repórter especial na China a convite do Partido Comunista Chinês, em comitiva de jornalistas brasileiros