ONG ensina crianças e adolescentes a reconhecerem abusos

Ação é oferecido nas instituições que recebem crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social
organizacao-social-ensina-criancas-e-adolescentes-a-reconhecerem-abusos-a-iniciativa-recebeu-selo-de-direitos-humanos-e-diversidade-da-secretaria-municipal-de-direitos-humanos-e-cidadania-de-sao-paulo-credito-acervo-asa-imagem-stela-handa-tvt-news
iniciativa recebeu Selo de Direitos Humanos e Diversidade, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo

A violência física, mental e sexual faz parte do cotidiano de adolescentes em todo o mundo. Na maior parte das vezes, os abusos são cometidos dentro de casa. Segundo a UNICEF, 84% dos estupros de vulneráveis acontecem por familiares próximos, ou amigos da família; além disso, novo estudo publicado pela revista científica Lancet Child & Adolescent Health, com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), aponta que uma em cada 4 adolescentes que estiverem em um relacionamento podem passar por uma violência física ou sexual por parte de um parceiro íntimo, até completarem 20 anos. 

No Brasil, o desafio é como informar e conscientizar os mais de 60 milhões de crianças e adolescentes, sobretudo aqueles que estão em territórios de vulnerabilidade social e com pouco acesso à educação. Segundo levantamento da Nova Escola com profissionais da rede pública, 70% acreditam que é necessário trabalhar a Educação da Diversidade Sexual nas escolas. Contudo, ainda faltam recursos e treinamentos para que isso ocorra na prática em todas as escolas do país.

Diante desse cenário, a ASA, organização da sociedade civil, que oferece serviços de educação e assistência social para pessoas em situação de vulnerabilidade social, oferece a 5ª edição do projeto Previna-se nos 5 Centros de Crianças e Adolescentes (CCA), espalhados pela cidade de São Paulo nos bairros da Vila Mariana, Butantã, Morumbi, Caxingui e Santana.

Com o objetivo de promover o desenvolvimento de uma sexualidade saudável e responsável, o projeto propõe oficinas para ampliar e aprofundar os conhecimentos sobre o corpo, sexualidade, gravidez, infecções sexualmente transmissíveis e formas de reconhecimento de vários tipos de violência e abusos.  Extrapolando o campo da educação, o Previna-se dialoga com a promoção à saúde. Com isso, a operação é realizada por psicólogas, que trabalham com as oficinas de educação sexual, autoconhecimento, entre outros temas. Também conta com os articuladores comunitários que buscam entender o contexto social e territorial da família das crianças; e se articulam com as redes de proteção do Estado.

As crianças e adolescentes aprendem por meio de diversas estratégias didático-pedagógicas como rodas de conversas, textos, jogos, livros, documentários, entre outras. Todo o conteúdo é adequado à idade. “As oficinas são divididas em faixas etárias e o aprofundamento é feito de forma progressiva de acordo com a idade e maturidade para absorver o conteúdo. Para os mais novos, trabalhamos noções básicas do corpo e das relações interpessoais. Conforme a idade avança trabalhamos questões da puberdade, manifestações sexuais e hormonais, entre outros temas”, conta Thales Alves, coordenador geral dos CCAs ASA.

Segundo a psicóloga Caroline Monchnacs, do projeto, as crianças passaram a ficar mais conscientes em relação ao tema o que aumentou o número de notificações de casos de violência doméstica. Também se tornou mais comum ouvir relatos das crianças sobre o tema.

“Quando eu comecei a fazer a avaliação diagnóstica e levantei essa questão sobre violência sexual, algumas crianças já levantaram a mão e começaram a se sentir à vontade para falar de casos que já passaram dentro de casa. Lidamos com alguns casos ao longo dos anos de projeto”.

O público atendido pela ASA nos CCAs são, em sua maior parte, famílias do CAD Único, em situação de vulnerabilidade socioeconômica. A renda mensal das famílias varia de R$0 a R$3.500,00. Mais de 83% dos responsáveis pela renda são mulheres, e 65% das moradias conta com 3 ou 4 pessoas.

Por conta da excelência em lidar com diversas áreas da educação, o projeto Previna-se recebeu o Selo de Direitos Humanos e Diversidade, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo – SMDHC-SP, em 2023. O selo é um reconhecimento anual às boas práticas de gestão e direitos humanos de empresas, organizações sociais, órgãos públicos no desenvolvimento de políticas de inclusão de vários segmentos para a população da cidade.

Os CCAS

Os Centros de Crianças e Adolescentes (CCAs) da ASA são espaços socioeducativos de contra-turno escolar conveniados com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS). As atividades são guiadas por um projeto pedagógico socioeducativo que busca o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, atuando nas 5 principais dimensões humanas: emocional e socioafetiva, por meio do relacionamento interpessoal, autoconhecimento e valores; cognitiva e intelectual, através da aprendizagem; física, atuando no corpo e mente; social, estimulando as relações comunitárias; e a dimensão cultural e simbólica, por meio da ampliação de repertório. Os projetos trabalham a cidadania, o meio ambiente, a cultura, a saúde, os esportes, informática, entre outros temas. 

“Nosso papel social é promover um trabalho educativo que visa garantir assistência, alimentação, saúde e segurança. Acreditamos na promoção da igualdade de oportunidades educacionais e no acesso à bens culturais que contribuam para que bebês e crianças usufruam dos seus direitos como seres humanos. Para isso, também estimulamos o fortalecimento de redes de proteção e os vínculos familiares e comunitários, entendendo a importância de atuar de forma conjunta”, conta Melissa Pimentel, superintendente executiva da ASA.

Sobre a ASA

Fundada em 1942, a ASA é uma organização da sociedade civil, que oferece serviços de educação e assistência social para pessoas em situação de vulnerabilidade social, em diversas etapas da vida, visando oportunidades de desenvolvimento pessoal com respeito e dignidade.

Atualmente, atende pessoas mais de 2.000 pessoas em situação de vulnerabilidade social na cidade de São Paulo, por meio de quatro principais serviços conveniados com a prefeitura. De norte a sul da capital paulista, a ASA opera 13 unidades distribuídas em 10 bairros. Também é responsável pelo ASA Brechó, de moda social e sustentável no bairro de Pinheiros, e o escritório Central.

Assuntos Relacionados