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Cerrado é o segundo bioma que mais sofre com as queimadas no Brasil

Em 2023, o bioma também foi o mais desmatado do país de acordo com o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil
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Incêndio registrado em Quirinópolis, Goiás. Foto: Anna Clara de Oliveira Carvalho

Por Emilly Gondim

No último mês, o Cerrado sofreu com o incêndios ao registrar 37.1% dos focos do território brasileiro, atrás apenas da Amazônia que marcou 51.3%, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A situação coloca o bioma como um dos que mais sofrem com as queimadas avassaladoras de agosto e setembro.

Já na última quinta-feira (5), o fogo consumiu mais de 10 mil hectares da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O local foi considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO pela sua importância ecológica em relação ao bioma.

Nas últimas 48h, três das 10 cidades com mais registros de focos de incêndio pertencem ao Cerrado, as demais estão localizadas na Amazônia e no Pantanal. Elas são Jataí e Rio Verde, em Goiás, com 244 e 228 registros, respectivamente. Mais em baixo no ranking aparece o município de Lagoa da Confusão, em Tocantins, com 127 focos.

Gráficos de registro de focos de incêndio por cidades e por biomas. Foto: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

O drama dos últimos dias vem de um histórico assustador. No primeiro semestre de 2024, o Cerrado bateu o recorde de incêndio no período desde 1988, ano em que começou o monitoramento por satélite do INPE. Foram registrados 12.097 focos de fogo, entre 1 de janeiro a 23 de junho.

O número foi impactado pelos efeitos do fenômeno El Niño, que aumentou o período de seca no bioma — que naturalmente tem sua seca mais severa no inverno junto a queimadas naturais.

Além do processo biológico, especialistas alertam que o bioma tem sofrido com agressões diretas para aumentar a área para o agronegócio, que é o principal motor econômico da região. “O Cerrado tem sido diretamente impactado pela crise climática, o bioma está se tornando mais seco e quente. Temos os incêndios iniciados por atividade humana” , afirma Bianca Nakamato, especialista em conservação do WWF-Brasil.

Considerada a savana mais antiga e mais rica em biodiversidade do mundo, o Cerrado tem sofrido mais com o desmatamento do que a Amazônia e demais biomas brasileiros, segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD) de 2023, feito pela rede MapBiomas. Essa foi a primeira vez que o bioma do centro-oeste registrou uma área devastada maior que da Floresta Mãe, desde 2019 — quando começou esse monitoramento.

  • Veja vídeo com fogo no Cerrado

Os impactos da degradação do Cerrado podem ser sentidas em todo o Brasil. A savana está presente em 11 estados brasileiros, interligando como um corredor ecológico natural os principais biomas do país: a Amazônia, a Caatinga, a Mata Atlântica e o Pantanal.

Importância do Cerrado para o Brasil

A região é conhecida como “Coração das Águas”, devido a característica de suas árvores terem raízes profundas. Essa estrutura vegetal faz do solo uma esponja que absorve a água das chuvas e distribui para os lençóis freáticos e aquíferos de todo o país, incluindo o Aquífero do Guarani.

Em seus mais de 2 milhões de metros quadrados, estão localizadas oito das 12 bacias hidrográficas do Brasil. Outras 3.500 nascentes que correm para a Amazônia são abastecidas por esse processo esponjoso do Cerrado.

Além disso, o bioma brasileiro apresenta mais de 12 mil espécies de plantas e 2.373 espécies de vertebrados — sendo que um quinto pertence exclusivamente ao Cerrado. E 5% de toda a biodiversidade do planeta. “Precisamos reverter esse cenário catastrófico, para garantir que o bioma mantenha todos os seus serviços ecossistêmicos”, disse Nakamato.

Mesmo apresentando grande importância no ecossistema mundial, existem poucas Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas. Elas representam apenas 8,6% e 4,8% do território do bioma, respectivamente.

Por lei, o Código Florestal brasileiro determina que, pelo menos, 20% da área dos imóveis rurais no Cerrado se mantenham como vegetação nativa. Essa proteção passa para 35% quando o imóvel de Cerrado está dentro da Amazônia Legal, como em regiões do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.

Com a seca prolongada, pouca preservação e aumento de incêndios, o abastecimento de água no Brasil fica instável e ameaçado a longo prazo.

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