O dia 11 de outubro marca o início de um dos eventos mais transformadores da história da Igreja Católica: o Concílio Vaticano II. Convocado pelo Papa João XXIII, este concílio mudou profundamente a relação entre a Igreja e o mundo moderno. Entre suas consequências mais notáveis está a base para o desenvolvimento da Teologia da Libertação, uma corrente teológica que teria grande impacto nos movimentos sociais da América Latina, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
O que foi o Concílio Vaticano II?
O Concílio Vaticano II foi uma resposta da Igreja Católica às grandes mudanças sociais, políticas e econômicas que o mundo enfrentava na década de 1960. Durante suas sessões, que se estenderam até 1965, o concílio buscou aproximar a Igreja dos desafios da modernidade, promovendo uma postura mais aberta e engajada nas questões sociais. Entre as reformas estavam a celebração da missa em língua de cada comunidade (ao invés do uso do latim), maior envolvimento dos leigos na vida da Igreja e um compromisso mais profundo com a justiça social.
O Concílio, inaugurado em 11 de outubro de 1962, também foi essencial para o fortalecimento do diálogo inter-religioso e a promoção da paz, uma vez que reafirmou o papel da Igreja na construção de um mundo mais justo e solidário. Esse novo posicionamento inspirou muitos teólogos a desenvolverem interpretações mais críticas e comprometidas com a realidade dos mais pobres, a base da Teologia da Libertação.
O que foi a Teologia da Libertação?
A Teologia da Libertação surgiu na América Latina como uma resposta ao contexto de desigualdade e opressão social que muitos países enfrentavam. Fundamentada nos princípios do Evangelho, a Teologia da Libertação defende que a fé cristã deve estar ativamente comprometida com a luta contra a pobreza, a injustiça e a opressão.
A Teologia da Libertação foi Inspirada por documentos produzidos pela própria Igreja Católica, como o Concílio Vaticano II e as conferências episcopais de Medellin e Puebla. Esses documentos pregavam o incentivo ao engajamento social da Igreja.
A Teologia da Libertação ganhou força nas décadas de 1960 e 1970. Ela coloca os pobres no centro de sua reflexão teológica e defende que a luta pela justiça social é uma expressão legítima do cristianismo. A noção de “libertação” remete tanto à liberdade espiritual quanto à emancipação política e econômica dos marginalizados.
Quais os principais nomes da Teologia da Libertação?
Entre os principais nomes dessa corrente estão os teólogos Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff e Frei Betto. Gustavo Gutiérrez, considerado um dos fundadores da Teologia da Libertação, publicou em 1971 o livro “Teologia da Libertação: Perspectivas”, no qual formulou os pilares desse movimento. Leonardo Boff foi outro importante expoente, sendo um dos teóricos que ajudaram a popularizar a teologia na América Latina e em outras partes do mundo.
Veja, abaixo, trecho de entrevista de Gustavo Gutiérrez concedida durante visita de Lula ao Peru, no final dos anos 80. O vídeo faz parte do acervo da TVT
Frei Betto, dominicano e escritor brasileiro, teve papel destacado no diálogo entre a fé cristã e as questões sociais, colaborando com movimentos populares. A obra de Betto, como a atuação em projetos ligados à educação popular e ao combate à fome, evidencia o papel de uma fé ativa em favor dos direitos humanos e da justiça social.
Como a Teologia da Libertação contribuiu na origem do PT e do MST
A Teologia da Libertação influenciou diretamente a criação de movimentos sociais e partidos políticos comprometidos com a transformação social, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). A relação da Igreja com esses movimentos está fortemente ligada às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que promoviam uma visão crítica da realidade e incentivavam o protagonismo dos leigos nas questões sociais.
O PT, fundado em 1980, e o MST, criado em 1984, nasceram do esforço conjunto de trabalhadores rurais, sindicalistas e religiosos comprometidos com a luta por terra e justiça social. A Teologia da Libertação e a a atuação das pastorais, além de base teórica, contribuiu para a organização prática para que esses movimentos se fortalecessem, unindo fé e política em uma perspectiva de transformação estrutural da sociedade.
As CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e a redemocratização
As CEBs, foram fundamentais para a mobilização popular durante o período de redemocratização do Brasil. Essas comunidades, formadas por pequenos grupos de leigos, propunham uma prática cristã comprometida com a justiça social e a luta contra as ditaduras militares que se espalharam pela América Latina na segunda metade do século XX.
No Brasil, as CEBs participaram ativamente de movimentos em prol dos direitos humanos e da redemocratização. A atuação das CEBs, em conjunto com as pastorais, como a Pastoral da Terra, alinhada aos princípios da Teologia da Libertação, foi fundamental para a conscientização política de diversas regiões do país, especialmente entre as camadas mais pobr. Além disso, ajudaram a criar uma rede de solidariedade entre os pobres e marginalizados, dando origem a movimentos sociais duradouros.
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