Dia 12 de outubro marca a chegada do conquistador europeu Cristóvão Colombo, em 1492, nas terras que hoje se chamam América Latina.
Atualmente, os latino-americanos ressignificaram a data que é lembrada como Dia da Conquista ou Dia da Ocupação. A resistência ao conquistador europeu sempre ocorreu com os povos originários, com os povos de matriz africana e também com os trabalhadores latino-americanos. Na Academia, os estudos decoloniais transformaram essas lutas resistência em publicações e livros.
O 12 de outubro, hoje é um dia de resistência e de lembrar a identidade latino-americana.
Para se somar a esse movimento de resistência e identidade, a TVT News entrevista a professora chilena Francisca Fonseca Prieto, do Departamento de Sociologia da Universidad de La Frontera, na cidade de Temuco, no Chile. Ela conta sobre o significado do 12 de outubro para os povos latino-americanos hoje.
TVT News: O que a data de 12 de outubro significa para a América Latina?
Francisca Fonseca Prieto : 12 de outubro é uma data controversa. Para alguns, é o início de um processo de conquista em termos de progresso, evangelização e desenvolvimento, que são a base de noções como o “encontro entre culturas” e, com ele, a origem da identidade latino-americana. Para outros, este é o início de um processo mais sombrio que envolveu ocupação, genocídio e pilhagem dos povos indígenas, seus territórios e recursos naturais. Longe de ser um “encontro de culturas”, é visto como o ponto de partida de um violento processo de dominação colonial que envolveu a imposição de valores, línguas e religiões europeias, bem como a exploração de recursos e a escravização de milhões de pessoas, tanto indígenas quanto africanas.
TVT News: Por que usamos o conceito de conquista ou ocupação?
Francisca Fonseca Prieto: autores latino-americanos proeminentes, como Walter Mignolo, argumentam que a colonização da América não foi apenas um projeto militar ou econômico, mas também epistêmico, ou seja, um processo de imposição de uma forma de conhecimento e de um modo de estar no mundo. A “conquista” implicou a supressão e subordinação do conhecimento indígena e a instalação de um sistema de conhecimento europeu, baseado na racionalidade ocidental.
Para o pensador peruano Aníbal Quijano, a chamada “conquista” foi um projeto de dominação global que implicou não apenas subjugação territorial e política, mas também cognitiva. Ele chama isso de “colonialidade do poder” que permite a classificação racial da humanidade, colocando os europeus no topo de uma hierarquia global e os povos colonizados em posições subalternas. Esse sistema racializado de poder possibilitou a exploração massiva de recursos e pessoas nas Américas, e seu legado ainda está presente nas estruturas econômicas e sociais contemporâneas.
As propostas desses autores críticos apontam para a necessidade de uma virada decolonial, que não apenas reconheça os legados da colonialidade, mas também promova alternativas epistêmicas, políticas e ecológicas a partir dos saberes e lutas de povos historicamente subalternizados.
TVT News: Depois de 500 anos, quais são as lutas dos povos originários da América Latina?
Francisca Fonseca Prieto: Como resultado das lutas e críticas, em vários países da América Latina essa data começou a ser ressignificada. Em vez de celebrá-lo como “Día de la Raza” ou “Día de la Hispanidad”, recebeu um novo significado. Na Bolívia, por exemplo, é comemorado o Dia da Descolonização, enquanto na Venezuela é chamado de Dia da Resistência Indígena, em reconhecimento ao legado de luta dos povos originários contra o colonialismo
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Embora essas visões mais críticas sejam representativas de todos os países latino-americanos, essa mudança nas denominações e abordagens reflete uma consciência histórica mais crítica e o reconhecimento das vozes indígenas, que foram historicamente silenciadas. Em vez de glorificar o legado colonial, essas ressignificações buscam lembrar a resistência indígena e afrodescendente.
TVT News: O que é ser latino-americana e latino-americano, hoje?
É óbvio que a ideia de modernidade, progresso e desenvolvimento que se desdobra na América Latina a partir do processo de conquista ou ocupação foi imposta. Mas, não é menos verdade que estamos atualmente em um ponto crítico, onde as consequências não intencionais desse modelo, especificamente nas bases materiais, ou seja, a natureza e o meio ambiente, nos posicionam talvez na mais importante crise civilizacional que vivemos como humanidade, para a qual recuperar outras visões e concepções de mundo se torna fundamental. como os originários da América Latina.