Mujica diz estar “muito perto de onde não se volta”

Líder histórico da esquerda uruguaia e latino-americana, José Pepe Mujica, aos 89 anos, emociona ao falar de sua morte
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"Estou no final da partida, absolutamente convencido e consciente", disse Mujica. Foto: Anadolu Agency

José Pepe Mujica emocionou os progressistas da América Latina neste sábado (19). Ele discursou em tom de despedida durante comício do candidato da Frente Ampla à presidência do Uruguai, Yamandú Orsi. O ex-presidente uruguaio, líder histórico de uma esquerda simples e humana, arrancou lágrimas dos presentes ao falar sobre a morte que se aproxima. “Estou no final da partida, absolutamente convencido e consciente”, disse.

Mujica optou pelo otimismo cauteloso. Na verdade, ele tentou inspirar para que a luta por melhores condições de vida continue na América Latina. “Quando meus braços se forem, haverá milhares de braços em luta”, disse. Mujica, que governou o Uruguai de 2010 a 2015 enfrenta um câncer no esôfago. Aos 89 anos ele estava longe dos holofotes e da campanha política. Mas resolveu falar pelo menos mais uma vez com seus seguidores.

Então, Mujica fez um apelo aos jovens, para que não adotem o ódio, mas abracem a esperança. Sua vida dedicada à luta por justiça social deve inspirar futuras gerações para conquistas ainda maiores. “Os mais jovens vão viver uma mudança no mundo que a humanidade não conheceu. A inteligência será tão importante quanto o capital, o que significa que a formação terciária irá se impor para as novas gerações”, disse.

Leia o discurso de Mujica na íntegra

“Um minuto de coração, não da garganta.

É a primeira vez nos últimos 40 anos, que não participo de uma campanha eleitoral. E eu faço isso porque estou lutando contra a morte. Porque estou no final da partida, absolutamente convencido e consciente.

Mas eu tinha que vir aqui hoje, pelo que vocês simbolizam. […] Então, sou um velho, sou um velho que está muito, muito perto de onde não se volta. Mas eu sou feliz porque vocês estão aqui, porque quando meus braços se forem, haverá milhares de braços substituindo-os na luta, E toda a minha vida eu disse que os melhores líderes são aqueles que saem de uma equipe que os supera com vantagem.

E hoje estão vocês, está Yamandu, está Pacha. Há milhares e outros que esperam e outros braços jovens, porque a luta continua por um mundo melhor. Eu gastei minha juventude, minha vida junto de minha companheira, que estou vivo por causa dela e dessa outra mulher, que é minha médica, senão eu já teria partido.

Eu tenho que vir agradecê-los de coração. Os mais jovens vão viver uma mudança no mundo que a humanidade não conheceu. A inteligência será tão importante quanto o capital, o que significa que a formação terciária irá se impor para as novas gerações.

Se não somos capazes como país de educar e de formar a geração que vem, vamos pertencer ao mundo dos irrelevantes, dos que não servem para que os explorem.

Este é o maior desafio do país. Por isso apoio Yamandu, porque é preciso um governo que abra o coração e a cabeça como país inteiro. Não é poético o que eu digo, alguém tem que dizer, que seja um velho.

Não ao ódio!

Não à confrontação!

É preciso trabalhar pela esperança!

Até sempre! Dou meu coração a vocês. Muito obrigado. Tenho que agradecer à vida, porque quando esses braços se forem, haverá milhões de braços. Obrigado por existirem. Até sempre.”

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