Pessoas repassam fake news para ter reconhecimento, para pertencer a um grupo. Muitas delas, inclusive, divulgam mentiras mesmo sem acreditar nelas. Também não se trata sobre grau de instrução. Muitas pessoas que passam desinformação para frente estudaram e têm acesso pleno à informação. Essas são percepções de um estudo inédito sobre o impacto das fake news no cérebro.
O estudo é intitulado Neurociência da Desinformação Política Digital. Sua elaboração ocorreu em setembro deste ano. Lideraram a pesquisa cientistas associados ao Programa de Doutorado em Direito da Universidade de Brasília (UnB) e ao Mestrado em Comunicação Digital do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).
“Não estamos falando de pessoas ingênuas, sem acesso à informação ou sem estudos. Pelo contrário, o compartilhamento é uma forma de se conectar com outros indivíduos que compartilham as mesmas crenças. As pessoas repassam as fake news para ter algum tipo de reconhecimento social, mesmo em microcosmos, como grupos de Whatsapp”, explica um dos coordenadores da pesquisa José Jance Marques Grangeiro.
Fake news no cérebro
Através de diferentes metodologias, os pesquisadores analisaram o impacto cognitivo e emocional da exposição à desinformação política. Os conteúdos analisados incluíram mensagens de WhatsApp, cards gráficos e vídeos, todos identificados como desinformação.
“A pesquisa teve como propósito não apenas identificar como as pessoas reagem emocional e cognitivamente a esses conteúdos, mas também investigar os fatores que influenciam a probabilidade de as pessoas compartilharem informações falsas, muitas vezes sem verificar sua veracidade”, afirmam os pesquisadores.
Entre as constatações do estudo, pontos assustadores. A desinformação possui um potencial de aderência dos grupos muito alto. “Conteúdos desinformativos são altamente eficazes em ativar áreas cerebrais relacionadas à atenção e à resposta afetiva, principalmente quando utilizam elementos visuais e linguísticos expressivos.”
“Quando expostos à desinformação, os indivíduos demonstram um envolvimento profundo com os conteúdos que evocam emoções fortes, como raiva ou medo, especialmente em mensagens que exploram temas religiosos e morais (…) Esses achados revelam que a desinformação explora atalhos cognitivos e gatilhos emocionais para se perpetuar no cérebro humano, criando uma resposta rápida
e, muitas vezes, automática, que dificulta a análise crítica”, completa.
Combate às fake news
Além de relevar o impacto das fake news no cérebro, a pesquisa permite entender os gatilhos mentais que tornam o conteúdo desinformativo tão atraente e pode contribuir na construção de conteúdos legítimos. “Compreender como essas mensagens conseguem engajar a audiência pode nos ajudar a criar campanhas de conscientização mais eficazes, que promovam a verificação de fatos e o consumo crítico de informações. As técnicas utilizadas para disseminar desinformação podem ser adaptadas para a produção de conteúdo legítimo, ampliando o alcance de mensagens verdadeiras e promovendo um debate público mais saudável”, explicou Grangeiro.