As eleições dos Estados Unidos 2024 para a presidência estão em andamento. Mais de 80 milhões de cidadãos norte-americanos já votaram de forma antecipada. Amanhã (5) será o dia limite, quando as urnas serão abertas e começará o processo de contagem de votos. Em disputa pela cadeira da Casa Branca, o republicano Donald Trump, ligado à extrema direita, e a democrata Kamala Harris, com um pensamento de direita liberal mais ortodoxo. Mas o que a vitória de um ou outro significa para o Brasil? Essa pergunta que economistas tentam responder.
O processo eleitoral nos EUA se dá por cédulas de papel. Por isso, a contagem costuma demorar muito mais do que no Brasil. Também vale destacar que o processo de escolha do chefe de Estado no país é indireto. Cada estado tem apenas um vencedor, por maioria dos votos. E cada estado da Federação tem um número específico de delegados. Estes, finalmente, se reúnem para a escolha do presidente.
Existem estados onde o jogo é de cartas marcadas. A Califórnia, por exemplo, tradicionalmente vota com os democratas. Já estados mais conservadores, como a Flórida, votam com os republicanos. Para além das pautas sociais e de costumes, economistas do mercado tentam entender o que a vitória de cada um pode significar para as economias emergentes, particularmente a do Brasil. E a TVT News selecionou algumas visões de pessoas ligadas ao capital financeiro. Confira:
Kamala x Trump
“Com Kamala, o governo brasileiro pode se beneficiar de um ambiente mais favorável para o comércio exterior, sobretudo se o dólar enfraquecer. Ambos os cenários demandariam ajustes econômicos internos no Brasil para manter a estabilidade. A eleição de Trump tende a pressionar ainda mais o dólar para cima, com políticas que restringem o comércio e incentivam um dólar forte. Já uma vitória de Kamala Harris poderia aliviar essa pressão, ao adotar medidas que favoreçam o enfraquecimento do dólar, beneficiando moedas de mercados emergentes e incentivando o fluxo de capitais para o Brasil”, Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.
“Para o Brasil, uma interrupção na queda das taxas de juros nos EUA teria um impacto negativo, especialmente com a pressão inflacionária próxima do teto de 4,50%. Se as taxas forem mantidas nos EUA, isso pode limitar a capacidade do Brasil de continuar aumentando a Selic de forma gradual, obrigando uma elevação mais acentuada, como um aumento de 0,50%. Portanto, os investidores devem prestar mais atenção às projeções inflacionárias diárias e menos às incertezas eleitorais, pois, com os candidatos atuais, mudanças drásticas são improváveis”, Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
Governo Kamala
“Um governo Harris poderia optar por uma postura mais cuidadosa quanto ao corte de juros, mantendo ou adiando os cortes devido a possíveis preocupações com a inflação e o cenário econômico global. Para o Brasil, o adiamento dos cortes de juros nos EUA pressionaria o câmbio, fortalecendo o dólar e aumentando o custo de importações. Essa volatilidade impacta negativamente os investimentos, elevando os riscos para investidores, que buscam ativos mais seguros em tempos de incerteza”, Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
“Trump propõe cortes de impostos para aquecer a economia, o que pode gerar preocupações com a inflação e com a saúde fiscal dos Estados Unidos. Além disso, Trump adota uma postura mais agressiva no comércio, especialmente com a China e a Europa. Apesar de todo esse cenário e da volatilidade que pode surgir, as decisões sobre juros dependerão principalmente do controle da inflação e não dos resultados das eleições. Porém qualquer um dos cenários pode sim afetar o Brasil. Se os cortes de juros nos EUA forem adiados, o país poderá enfrentar desafios econômicos adicionais. Portanto, os investidores devem concentrar-se mais nas projeções inflacionárias do que nas incertezas eleitorais”, Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus.
Kamala ou Trump: incertezas
“No contexto brasileiro, a vitória de um candidato democrata como Kamala pode ser vista de forma positiva pelos mercados emergentes, incluindo o Brasil, devido à sua postura sobre comércio internacional e cooperação multilateral, que pode favorecer a estabilidade econômica global. No entanto, é incerto como sua administração trataria especificamente as relações bilaterais com o Brasil. O dólar americano pode vir a experimentar uma estabilização ou até uma valorização moderada se Kamala Harris ganhar, considerando a possível continuidade de políticas econômicas tradicionais democratas, que tendem a promover a confiança no ambiente político e econômico dos EUA”, João Kepler, CEO da Equity Fund Group.
“Com a iminência das eleições nos EUA, os mercados enfrentam um clima de incerteza, pois a mudança de liderança pode impactar as políticas econômicas globais. A vitória de Kamala Harris poderia favorecer um comércio mais aberto, beneficiando o Brasil, enquanto Trump poderia acirrar tensões comerciais, pressionando o dólar. Independentemente do resultado, ajustes internos no Brasil serão essenciais para garantir a estabilidade econômica”, Felipe Vasconcellos, Sócio da Equss Capital