O Brasil reforçou que temas como igualdade de gênero e a taxação de bilionários devem ser mantidos na declaração final do encontro da Cúpula do G20, realizado no Rio de Janeiro. Isso apesar de resistências expressas da delegação argentina. A postura reafirma compromissos do governo brasileiro em áreas sensíveis e reflete disputas diplomáticas que marcaram as negociações. A Argentina, atualmente, rejeita pautas em busca de igualdade e defende radicalismos a partir de seu presidente extremista, Javier Milei.
Conforme documento obtido pela Folha de S. Paulo, o G20 reiterou “nosso comprometimento total com igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas”. Contudo, a Argentina, liderada por Milei, registrou objeções em trechos que condenavam a discriminação contra mulheres, a violência de gênero e a misoginia.
O país vizinho também rejeitou a proposta que defendia a igualdade de gênero no mercado de trabalho, uma posição alinhada a recentes decisões do governo Milei. Na semana passada, a Argentina foi o único país a votar contra uma resolução da ONU que condenava a violência contra mulheres, posicionando-se ao lado de países como Irã, Coreia do Norte e Rússia, que se abstiveram.
Super-ricos no G20
Outro ponto de tensão foi a inclusão de um compromisso para avançar na tributação de indivíduos com patrimônio ultra elevado, uma bandeira defendida pelo ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad. Embora a menção tenha permanecido na declaração, foi registrada a objeção argentina, refletida pelo uso de colchetes no documento.
A posição argentina não surpreende, dado o perfil econômico e político do governo Milei, que vê a medida como contrária à sua agenda ultraliberal. Analistas interpretam a objeção como uma tentativa de desestimular iniciativas internacionais que possam influenciar sua política interna.
G20 e desinformação
A Agenda 2030 da ONU também foi alvo da delegação argentina, que questionou a inclusão de metas relacionadas ao desenvolvimento sustentável. A postura está alinhada a uma instrução enviada por Milei a seus diplomatas, determinando que rejeitassem qualquer apoio a declarações ou resoluções associadas aos objetivos da ONU.
Outro ponto de desacordo foi a menção à desinformação e ao discurso de ódio. A declaração do G20 reconheceu que a digitalização e o avanço de tecnologias, como a inteligência artificial, ampliaram o alcance da desinformação, mas o termo foi objeto de reserva por parte da Argentina. A relação próxima de Milei com Elon Musk, dono da rede social X e crítico de regulações sobre discurso digital, é apontada como um fator que influenciou essa posição.
Diplomacia no G20
As negociações no Rio colocaram o Itamaraty sob pressão para construir um consenso entre os membros do G20. Apesar das objeções da Argentina, o Brasil conseguiu assegurar o alinhamento do grupo com a Agenda 2030 e outros compromissos internacionais.
A postura de Buenos Aires, entretanto, ilustra um cenário de crescentes divergências entre a diplomacia argentina e outros países do G20. A demissão recente da chanceler argentina Diana Mondino, após apoiar uma resolução da ONU contra o embargo a Cuba, reforça os sinais de alinhamento ideológico de Milei com políticas de direita radical e seu afastamento de agendas multilaterais.
Enquanto isso, o Brasil emerge como um articulador de propostas progressistas no cenário internacional, reafirmando suas prioridades em um momento de intensas negociações globais.
Presidente Lula recepciona líderes do G20 no RJ
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recepcionou na manhã desta segunda-feira (18) líderes estrangeiros que participam da reunião de cúpula do G20, o grupo das principais economias do mundo além das uniões Europeia e Africana. Os chefes de Estado e de governo se reúnem nesta segunda-feira e a terça-feira (19) no Museu de Arte Moderna (MAM), região central do Rio de Janeiro.
O presidente Lula estava acompanhado da primeira-dama Janja Lula da Silva. A chegada dos primeiros líderes aconteceu pouco antes das 9h, e o protocolo de recepção durou mais de 2 horas.
Entre os líderes recepcionados estão os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden; da China, Xi Jinping; da França, Emmanuel Macron; da Argentina, Javier Milei; da Turquia, Recep Tayyip Erdogan; da África do Sul, Cyril Ramaphosa; e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyeno; o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz; os primeiros-ministros da Itália, Giorgia Meloni; do Japão, Shigeru Ishiba; do Canadá, Justin Trudeau; do Reino Unido, Keir Starmer; e da Índia, Narendra Modi.