Após a tomada da capital Damasco por extremistas islâmicos neste domingo (8), o sociólogo e escritor Lejeune Mirhan prevê um “futuro de terror” na Síria. No programa Geopolítica em Foco, da Rede TVT, ele analisa os desdobramentos dos últimos episódios no país árabe.
Diante do avanço das forças rebeldes, o então presidente Bashar al-Assad deixou o país, marcando o fim de 50 anos de domínio da família no país. Ele recebeu asilo político do presidente russo, Vladmir Putin, seu principal aliado.
Para explicar a queda-relâmpago do governo sírio, diante de 12 dias de ofensiva dos extremistas, Lejeune suspeita de cumplicidade da cúpula das Forças Armadas do país.
“É possível que generais não tenham cumprido ordens; que generais tenham se rendido sem lutar; é possível que tenham se corrompido, nós ainda não temos todas as informações”, disse ele, em conversa com a apresentadora Nahama Nunes.
Mas importante do que entender como se desenrolaram os fatos, o analista se pergunta sobre quem são os principais beneficiários com a mudança de regime na Síria:
“Quem está comemorando essa vitória? Israel está comemorando. Não só está comemorando, como invadiu mais um pedaço da do território sírio, além daquele que já ocupa – as chamadas Colinas de Golã”, destaca Lejeune.
“A Turquia também está feliz com esta vitória, e eles também ocuparam mais um pedacinho da terra síria”, acrescente. “E os Estados Unidos estão felizes? Estão felizes, mas com o pé atrás, porque nem eles sabem o futuro da Síria na mão destes que são cortadores de cabeça”.
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Quem é Abu Mohammed al-Julani?
Os extremistras que tomaram o poder na Síria são liderados por Abu Mohammed al-Julani. Aos 42 anos de idade, ele luta a mais de uma década na guerra civil síria.
Nascido Ahmed Hussein al-Sharaa, em 1982, na Arábia Saudita, al-Julani cresceu perto de Damasco antes de ingressar na Al-Qaeda no Iraque em 2003. Detido pelas forças dos Estados Unidos em 2006, passou cinco anos sob custódia.
Após sua libertação, foi encarregado de estabelecer a filial síria da Al-Qaeda, conhecida como Frente al-Nusra. Nos anos seguintes, al-Julani rejeitou a transformação da Frente al-Nusra em Estado Islâmico (ISIS), mantendo sua lealdade à Al-Qaeda até anunciar a independência de seu grupo em 2016.
Em 2017, o Hayat Tahrir al-Sham (HTS) surgiu como resultado da fusão de diversas facções armadas, estabelecendo-se como o maior grupo de oposição armada na Síria. Apesar de declarar foco em uma agenda nacional, al-Julani e o HTS permanecem designados como organizações terroristas por entidades como as Nações Unidas, EUA e União Europeia.
“Ele repaginou a marca. Ele não usa mais o turbante, aparou aquela barba, usa roupas mais ocidentais, já dá entrevistas”, anota Lejeune. O professor cita ainda que os Estados Unidos chegaram a oferecer até US$ 10 milhões pela captura do terrorista. Agora, é tratado como uma espécie de libertador do povo sírio.
Ele teme ainda, que o governo liderado por extremistas sunistas faça a perseguição de outros grupos étnicos e religiosos dentro da Síria.
“Os muçulmanos takfir são os caras fundamentalistas, esses que cortam a cabeça de cristãos, muçulmanos xiitas, curdos e ateus, sufis. Essas pessoas são 70% da Síria. Porque sunitas na Síria são só 30%. Então todos esses conjuntos restantes vão ser perseguidos por esses caras. Então vai ser uma ditadura sunita dos fundamentalistas”, ressalta o professor.