A filósofa e militante brasileira Sueli Carneiro, uma das mais importantes vozes do feminismo negro no país, foi oficialmente reconhecida como cidadã do Benin em uma cerimônia ocorrida nessa terça-feira (17), na cidade de Cotonou.
Participaram da cerimônia o Ministro das Relações Exteriores, Olushegun Adjadi Bakari, o Ministro da Justiça e Legislação, Yvon Detchenou, a Diretora Geral de Assuntos Consulares e Beninenses no Exterior, Myrina Amoussouga Adam-Bongle, Luanda Carneiro Jacoel – filha de Sueli Carneiro, a diretora do documentário, Urânia Munzanzu e a produtora executiva, Flávia Santana.
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O momento foi registrado pela equipe do documentário “Mulheres Negras em Rotas de Liberdade”, produzido pela Acarajé Filmes e Mulungu Realizações Culturais, no qual Sueli figura como uma das protagonistas. Trata-se de um marco histórico, já que é a primeira vez que uma brasileira recebe o título de cidadania beninense, como ato de reparação histórica.
Um gesto político que transmite uma mensagem inequívoca sobre o compromisso do Benin em consolidar uma política de reparação para a comunidade afro diaspórica, abrindo precedentes para que esse ato possa ser replicado por outros países do continente africano.
A outorga da cidadania beninense a afrodescendentes é fruto de uma nova legislação do governo local, visando à reconciliação e o reconhecimento das profundas feridas causadas pela escravização do povo negro. A medida tem impacto significativo no Brasil, país que abriga a maior população negra fora da África, e sinaliza a abertura de novas portas de retorno e reconexão com as origens.
Para além da reparação histórica, a concessão da cidadania beninense a Sueli Carneiro impulsiona um diálogo mais profundo sobre o futuro das relações políticas, sociais e culturais entre as comunidades afrodescendentes e africana de ambos os lados do Atlântico.
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Reparação é a palavra de ordem já sinalizada pelo presidente do Benin, Patrice Talon, em sua vinda ao Brasil em maio de 2024. A escritora leva consigo toda a simbologia de séculos de resistência, conhecimento e memória.
O documentário “Mulheres Negras em Rotas de Liberdade” está em fase de produção no continente africano, percorrendo os países da África do oeste: Senegal, Benin, Nigéria com a participação de Sueli Carneiro, Conceição Evaristo, Mirtes Renata, Erica Malunguinho, Luedji Luna e Carla Akotirene, para revisitar as rotas do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas refletindo sobre liberdade a partir da perspectiva de mulheres negras brasileiras expoentes do ativismo, do pensamento intelectual e da arte.
“O documentário contraria o vaticínio da porta do não retorno. As mulheres negras que estão fazendo essa travessia voltam para dizer que não esqueceram as suas raízes, o seu pertencimento e a sua ancestralidade. Voltam também para reivindicar: não aceitamos que vocês nos esqueçam!”, conclui a filósofa.
Ao incluir em sua narrativa a cidadania outorgada a Sueli Carneiro, a obra fortalece o discurso de reconexão entre Brasil e África e enaltece a importância do reconhecimento oficial dos laços ancestrais e culturais que compõem a identidade afrodiaspórica.
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