Um dos princípios básicos de qualquer ciência é o ceticismo. Devemos duvidar de tudo e de todos até termos prova em contrário. A Grande Imprensa Golpista e a Faria Lima, nos últimos 10 dias, estão tocando o terror na Nação brasileira dizendo que, devido a (sic) irresponsabilidade fiscal do governo Lula o dólar – ou melhor, a taxa câmbio entre o dólar americano e o real brasileiro – está na sua máxima histórica.
Já se escutam as primeiras vozes clamando por um impeachment – o velho golpismo brasileiro nascido com o golpe militar mequetrefe de 15 de novembro de 1889 que pôs fim à Monarquia – com base no argumento de que a economia brasileira (sic) não aguenta mais dois anos de governo Lula. Afinal quem pode aguentar três anos consecutivos de crescimento do PIB acima de 3% a.a, inflação abaixo de 5% a.a e desemprego em torno de 6% a.a. Desse jeito os salários vão ter que começar a aumentar e os pobres vão começar a melhorar de vida. Assim não dá, assim não é possível.
Embuído do genuíno espirito científico e do gosto que eu tenho por contrariar a maioria, provando que toda unanimidade é burra, resolvi dar uma olhada no site do IPEADATA para ver o comportamento da taxa de câmbio dólar/real atualizada pela variação do IPCA. A série tem início em janeiro de 2002, ainda no segundo governo do Fernando Henrique Cardoso e termina em agosto de 2024, por questão de disponibilidade de dados no site do IPEADATA.
Conforme os leitores podem ver claramente abaixo, a maior cotação do dólar, levando em conta a inflação medida pelo IPCA ocorreu em outubro de 2002 quando, a valores de hoje (corrigidos pela variação do IPCA) atingiu R$ 13, 66! Isso mesmo: TREZE REAIS E SESSENTA E SEIS CENTAVOS, um valor que representa DUAS VEZES A COTAÇÃO QUE O DÓLAR ALCANÇOU HOJE (18/12/2024) no Brasil.
Em tempos mais recentes, a maior cotação do dólar foi alcançada em MAIO DE 2020 – DURANTE O GOVERNO DE JAIR MESSIAS BOLSONARO – quando atingiu o patamar de R$ 7,40. A média da taxa de câmbio nominal, ajustada pela variação do IPCA, no período compreendido entre janeiro de 2002 e agosto de 2024 foi de R$ 5,68, ou seja, um valor 9,68% mais baixo do que o verificado em 18 de dezembro de 2024.
Esses dados mostram de forma clara que existe uma histeria injustificada no mercado financeiro. A cotação do dólar está muito longe da máxima histórica do últimos 22 anos e também está abaixo do valor verificado durante o governo da besta do apocalipse. O que estamos presenciando neste final de ano é apenas mais um faniquito da Faria Lima. Não existe razão para pânico. A tormenta vai passar, mas o Ministro da Fazenda deveria cancelar suas férias de janeiro. Não é de bom tom um General se ausentar da frente de combate durante uma batalha. Isso parece covardia, o que atua apenas no sentido de aguçar os ataques especulativos contra o Real.
Por José Luis Oreiro, professor Associado do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Professor do Doutorado em Integração Econômica da Universidade do País Basco (Bilbao/Espanha), Professor do Doutorado em Economia, Administração e Métodos Quantitativos da Universidade de Tuscia (Viterbo/Itália), Pesquisador Nível I do CNPq e Coordenador do Grupo de Pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento