O presidente da Argentina, Javier Milei, será investigado na Justiça por suposta “fraude” com a criptomoeda $LIBRA. O pedido foi apresentado pelo economista Claudio Lozano, integrante do partido de oposição Unidade Popular – Unidad Popular. Após sorteio nesta segunda-feira (17), a investigação da primeira denúncia contra Milei ficará a cargo da juíza María Romilda Servini.
Lozano e outros dirigentes da legenda de esquerda acusam o presidente ultraliberal de integrar uma “associação criminosa” que teria cometido uma “megafraude” que afetou simultaneamente mais de 40 mil pessoas, com perdas de mais de US$ 4 bilhões.
Na última sexta-feira (14), Milei publicou em seu perfil no X (ex-Twitter) uma mensagem que levava ao link de uma iniciativa chamada “Projeto Viva a Liberdade”, que faz referência ao principal slogan do ultraliberal – “Viva La Libertad, Carajo” ou “Viva a liberdade, Caramba”, em tradução livre.
Na publicação, Milei explicou que a criptomoeda era “um projeto privado” destinado a “incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos”.“O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, dizia a mensagem, que levava o nome da moeda digital. Seu post ficou no ar por cerca de cinco horas, depois foi derrubado.
Após a postagem do presidente, o preço da criptomoeda disparou para quase US$ 5 dólares. Horas depois, o preço do ativo despencou para menos de US$ 1. Toda a operação durou cerca de duas horas e envolveu valores de US$ 4,5 bilhões, segundo a imprensa argentina.
Mais tarde, Milei disse que retirou sua postagem depois de tomar conhecimento das circunstâncias e que não tinha nenhuma relação com a criptomoeda. “Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, quando descobri, decidi não continuar dando publicidade a ele”, disse o líder argentino, tentando se esquivar. “Às ratas imundas da casta política que querem aproveitar esta situação para provocar dano, quero dizer que todos os dias confirmam quão rasteiros são os políticos e aumentam nossa convicção de tirarmos (do poder) com chutes no c…”, reagiu ele, acuado.
A suspeita de fraude já é tratada como um megaescândalo, recebendo a alcunha de “criptogate“. São mais de 100 denúncias ajuizadas contra o presidente argentino. Até mesmo o FBI e a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) investigam o caso. A expectativa é que o presidente argentino trate das acusações por suposta fraude em entrevista a um jornalista aliado que deve ir ao ar na noite desta segunda.
Oposição quer impeachment de Milei
Além dos pedidos de investigação na Justiça, Milei deve enfrentar um pedido de juízo político, que pode culminar com o impeachment do presidente. Ainda no sábado, integrantes do bloco de oposição peronista Unión por la Patria – União pela Pátria – realizaram uma reunião virtual para estabelecer as ações relativas ao caso. Nesse sentido, decidiram que dem protocolar o pedido de juízo político ainda na tarde desta segunda (17). “A participação de Milei em crime de fraude cripto é de enorme gravidade. É um escândalo sem precedentes”, sentenciou o líder da bancada do partido na Câmara, Germán Martínez.
A ex-presidenta Cristina Kirchner, principal nome da oposição peronista, também foi às redes sociais para escrachar Milei pela suspeita de fraude envolvendo a criptomoeda em questão. “Nunca na história se viu algo semelhante”, disse ela.
“Divulgou uma criptomoeda privada, criada sabe-se lá porque quem. Inflou seu valor, aproveitando-se da sua investidura presidencial. Milhares confiaram em você, compraram caro e em questão de horas perderam milhões, enquanto uns poucos (me passa pela cabeça que sejam todos libertários) fizeram fortuna com informação privilegiada”, criticou a ex-presidenta.
“Não era o gênio da economia? De autoproclamado ‘líder globa’ a fraudador cripto. Veja aonde nos trouxe com a sua loucura! Converteu a Argentina num casino, onde o crupier (quem distribui as cartas) é o próprio presidente” disparou Cristina. Para ela, a liberdade que Milei supostamente defende “é a do cassino”, e que o atual presidente é verdadeiramente incopetente para seguir ocupando a cadeira presidencial.
Pressionado, Milei abre investigação
Pressionado, a Casa Rosada anunciou duas medidas. Em uma nota oficial divulgada neste sábado (15), a equipe de Milei informou que o presidente determinou ao Gabinete Anticorrupção que apure se algum membro do governo nacional, incluindo ele mesmo, agiu de forma imprópria. Além disso, Milei informou que será criada, no âmbito da própria presidência, uma força-tarefa composta por representantes de vários órgãos e organizações interessadas no tema para que avaliem o projeto Viva La Libertad, a $Libra e todas as empresas ou pessoas envolvidas com a iniciativa.
Ainda na nota, a equipe de Milei esclarece que o primeiro contato do presidente com os representantes da empresa responsável pela $Libra aconteceu em 19 de outubro de 2024, durante um encontro no qual os empresários comentaram a intenção de “desenvolver um projeto para financiar empreendimentos privados na Argentina utilizando tecnologia blockchain”. O encontro, público, foi devidamente registrado na agenda de Milei, segundo sua equipe.
Cerca de dois meses e meio depois, em 30 de janeiro deste ano, por sugestão dos mesmos empresários, Milei se reuniu com o sócio do empreendimento que forneceria toda a infraestrutura tecnológica necessária.
“Finalmente, nesta sexta-feira, o presidente [Milei] compartilhou uma publicação em suas contas pessoais comunicando o lançamento do projeto, tal como faz cotidianamente em relação a muitos empreendedores que querem lançar um projeto para criar empregos e investir na Argentina”, acrescenta, na nota, a equipe do chefe do executivo da Argentina, reafirmando que ele não participou da criação e do desenvolvimento da criptomoeda.
“Frente as repercussões [negativas] que o anúncio do projeto gerou, para evitar qualquer especulação e para não dar mais publicidade [à iniciativa], [o presidente argentino] decidiu eliminar a publicação [de sua conta pessoal no X]”, finaliza a equipe presidencial, garantindo que todas as informações sobre o assunto que forem reunidas pelo Gabinete Anticorrupção e pela força-tarefa que será criada serão encaminhadas à Justiça, “para que esta determine se alguma empresa ou pessoa vinculada ao projeto cometeu algum delito”.
Com informações da Agência Brasil