O escritor e educador popular Frei Betto acredita que o Conclave para a escolha do substituto do papa Francisco deve se estender por até quatro dias. Veja notícias do conclave com a TVT News.
Assim, diferentemente das últimas eleições papais que se resolveram em 48 horas, ele avalia que a composição diversa do colégio cardinalício e a polarização ideológica dentro da Igreja Católica tornam mais difícil um consenso rápido.
“São cardeais de 71 países. São 133, e dois não puderam comparecer em Roma por condições de saúde. Penso que é um Conclave que vai durar de três a quatro dias, até chegar a um consenso, o que não vai ser fácil”, afirmou em entrevista ao Jornal TVT News Primeira Edição.
Para Frei Betto, mesmo os cardeais nomeados por Francisco – cerca de 80% do colégio eleitoral – não necessariamente compartilham da mesma visão progressista do pontífice. “O papa leva em consideração o consenso dos bispos locais. E muitas vezes os bispos não acolhem um cardeal muito progressista ou muito conservador”, explicou.

A escolha do novo papa iniciou nesta quarta-feira (7), quando os cardeais participantes do Conclave iniciaram sua caminhada da Capela Paulina até a Capela Sistina, local da votação. “Extra omnes” (“Todos para fora”), disse o bispo Diogo Ravelli, mestre das celebrações litúrgicas papais, antes de fechar as portas do local.
A polarização na Igreja é um dos pontos centrais da análise de Frei Betto. Ele vê um embate claro entre correntes progressistas e conservadoras, refletido também entre os cardeais mais idosos – acima de 80 anos –, que não têm direito a voto, mas influenciam nos bastidores do Conclave.
“Eles só não votam. Mas participam dos conchavos, chamados de congregações, juntos. Opinam com muito rigor. Alguns mais idosos não gostavam do Francisco, querem um retrocesso na Igreja. Outros querem que se preserve a linha do Francisco”, afirmou.
Frei Betto acredita que o desejo de mostrar unidade, numa decisão mais célere, não corresponde à realidade interna da Igreja. “A unidade, na verdade, não existe totalmente. A Igreja Católica tem a vantagem de ser muito democrata hoje. Ela abriga várias tendências, desde gente de extrema-direita até de extrema-esquerda, sob autoridade do mesmo papa.”
A aposta do escritor é na eleição de um papa italiano, o que não ocorre desde João Paulo I, em 1978. “Estou apostando na volta do papado às mãos dos italianos. Francisco nomeou cinco cardeais italianos muito bons, muito afinados com ele”, comentou. “Claro que é uma caixa de surpresas. Mas eu acho, puro achismo, que o papado voltará às mãos dos italianos.”
Na avaliação de Frei Betto, a origem conservadora de muitos dos cardeais – muitos deles nomeados bispos nos 34 anos de pontificados conservadores de João Paulo II e Bento XVI – não impede surpresas.
Conclave e política
“O próprio Bergoglio, quando foi eleito há 12 anos, muitos pensavam que ele era de moderado a conservador, e se revelou um progressista. Pode haver muita surpresa, porque o papa é um monarca absoluto. Costumo dizer que o poder não muda ninguém. O poder faz com que as pessoas se revelem.”
Ele considera que a escolha de um novo papa precisa levar em conta o papel político e simbólico do pontífice diante do cenário mundial. “A Igreja não pode retroceder. Nesse momento de tantas guerras, refugiados, crise climática, que seja escolhido alguém que também tenha essa dimensão simbólica de um chefe de Estado, tão respeitado pelos demais como era Francisco.”
Sobre as articulações internas, Frei Betto destaca que hoje os grupos mais relevantes não são mais as ordens religiosas, como dominicanos, jesuítas ou franciscanos, mas sim as alianças por afinidade linguística e continental. “Os africanos, por exemplo, vão querer que dessa vez haja um papa africano. Espero que não, porque todos são conservadores. Já os cardeais dos Estados Unidos são muito ricos e arrogantes, mas há uma rejeição muito grande entre os demais.”
Outro ponto abordado foi o papel político da Igreja. Para ele, não há como separar a fé da política. “Claro que há viés político. Todos nós que somos progressistas, somos chamados de políticos. Como se os outros fossem só religiosos. A Igreja apoiou mais de 30 anos de ditadura na Espanha e em Portugal. E ninguém dizia que bispos e cardeais eram políticos.”
Frei Betto encerra com um comentário sobre o simbolismo do conclave: “É um momento religioso, de oração, de evocação do Espírito Santo. Em matéria de símbolos, são dois mil anos de aprendizado”, ressaltou.
Veja outras notícias sobre o conclave que vai escolher o novo Papa
- Instalada chaminé na Capela Sistina que anunciará novo papa
- Novo papa: “América Latina não terá chance dessa vez”, diz Frei Betto
- Frei David: “Papa Francisco trouxe a Igreja para o povo”
- Caixão de madeira e lápide simples: como são os ritos até o funeral do Papa Francisco
- O primeiro papa latino-americano foi o 1° em muitas coisas
- Conclave tem início nesta quarta-feira: entenda como funciona
- Papa do Brasil: quem são os cardeais brasileiros no conclave