A Cracolândia sumiu? Onde ela foi parar? Ela segue existindo. As pessoas com dependência química não deixaram de existir da noite para o dia. O que está acontecendo são atos de violência por parte da Polícia Militar de São Paulo que tem dispersado o grupo pela cidade. Saiba mais na TVT News.
A Cracolândia sumiu?
De acordo com reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, o vice-prefeito Mello Araújo (PL) afirmou que duas ações retiraram 120 usuários da Cracolândia. A primeira aconteceu na segunda-feira (12), com o deslocamento de 80 pessoas, e outras 42 pessoas na terça-feira (13).
A ação aconteceu com apoio da Guarda Municipal e do Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM), com cães farejadores.
Os parte dos dependentes químicos foram levados para unidades de tratamento do município, enquanto outros decidiram buscar as próprias famílias.
O vice-prefeito Mello Araújo alega que “eles saem voluntariamente porque sabem que vão para lugares em melhores condições”.
Segundo dados de março de 2024, do Programa Dronepol, da Divisão de Tecnologias Geoespaciais, na parte da manhã, o local concentrava cerca de 519 usuários e de tarde o número subia para 726. Ou seja, a ação que deslocou 120 pessoas não seria capaz de sumir com a Cracolândia.
Nesta quarta-feira (14), o padre Julio Lancellotti, publicou uma denúncia anônima que afirma que a prefeitura de SP deslocou os dependentes químicos para o bairro Parque Santos Dumont, em Guarulhos.
O bairro da região metropolitana de São Paulo fica a mais de 30 quilômetros de distância de onde se localizava a Cracolândia, no cruzamento da Rua General Couto de Magalhães com Rua dos Protestantes, na Santa Efigênia.
Além disso, sobreviver minimamente nas ruas da Cracolândia se torna, diariamente, mais difícil com o aumento da violência policial. O que torna o discurso do vice-prefeito até correto: os dependentes químicos fogem da Cracolândia, mas não deixam de existir e de ser um problema grave de saúde pública.

O aumento da violência policial com os dependentes químicos em SP
O advogado e pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole da USP, Giordano Magri, explicou ao jornal TVT News Primeira Edição, que a prefeitura fechou pontos de reciclagem, teve ações contra hotéis da região para impedir a entrada de usuários de drogas e intensificou a perseguição de movimentos sociais que atuam na Cracolândia para isolar os dependentes químicos.
Segundo relatos colhidos pelo movimento A Craco Resiste, que se posiciona contra a violência no local, junto ao projeto de extensão da Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), houve uma orientação para que a GCM aumentasse a violência das abordagens.
As entrevistas colhidas afirmaram que “os guardas passaram a bater mais no rosto e na cabeça das pessoas, para além das outras agressões já cotidianas, com uso de spray de pimenta e apropriação de pertences pessoais, como roupas e dinheiro”, escreveu A Craco Resiste.
A Cracolândia é um problema de saúde pública em São Paulo desde a década de 1990, porém é tratada como uma questão de segurança para a cidade. O que leva as políticas públicas serem inadequadas para a situação e as ações serem violentas.
Em 2012, aconteceu a Operação Dor e Sofrimento, na gestão municipal de Gilberto Kassab. Na época, a polícia foi orientada para impedir que as pessoas em situação de rua permanecessem nas calçadas, o que fez com que o grupo perambulasse nas ruas. O caso ficou conhecido na imprensa como “procissões do crack”.