Dados inéditos sobre gênero e raça no audiovisual brasileiro são apresentados pela ONU Mulheres

Levantamento divulgado em Cannes analisou 88 obras audiovisuais de quatro grandes produtoras nacionais; o trabalho quer promover a maior participação feminina no audiovisual
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Documento faz parte da ação Aliança por Mais Mulheres no Audiovisual, lançada em outubro de 2022 e co-liderada pela ONU Mulheres em parceria com o Instituto +Mulheres. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Durante a 78ª edição do Marché du Film, que aconteceu entre 13 e 21 de maio em Cannes, na França, a ONU Mulheres Brasil apresentou os primeiros dados sobre a posição de profissionais mulheres em obras do audiovisual brasileiro dos últimos anos. Saiba mais em TVT News.

O documento faz parte da ação Aliança por Mais Mulheres no Audiovisual, lançada em outubro de 2022 e co-liderada pela ONU Mulheres em parceria com o Instituto +Mulheres. O foco do trabalho é demandar mudanças no setor audiovisual brasileiro, trazendo maior participação feminina e condições de trabalho dignas. O levantamento completo ainda será divulgado no site da organização.

No estudo, foram analisadas 88 obras audiovisuais produzidas entre 2018 e 2022 por quatro grandes produtoras do mercado nacional, principalmente em aspectos como roteiro, direção e produção. Os resultados revelaram que a liderança no setor ainda é ocupado em sua maior parte por pessoas brancas, heterossexuais, sem deficiência, concentradas no Sudeste do país e com idade média de 47 anos.

Tamiris Hilário, consultora técnica da ONU Mulheres Brasil para a Indústria Audiovisual, ressalta que a pesquisa não abrange toda a indústria, mas mostra um pouco da realidade do setor. “Percebemos uma ausência ou escassez de informações que poderiam enfraquecer iniciativas importantes e desmobilizar agentes estratégicos. Estamos cientes que os dados não dizem respeito à realidade de todos os agentes do setor. Esse é apenas um ponto de partida, uma amostra, que nos serviu para criar metodologia e gerar insights. Agora desejamos observar pequenas e médias produtoras de todo o território e contrastar os achados”, afirmou.

O que mostram os dados sobre o setor audiovisual

Os dados mostram que mesmo com a presença de 48% de mulheres nas produções, incluindo em cargos técnicos, as mulheres ganham menos que os homens, com uma média de 76% da renda média de seus pares (cerca de R$ 18.652,54). Os homens ganham em torno de R$ 24.368,42, enquanto mulheres negras ganham ainda menos, com R$ 13.187,50. 

Na questão de formação acadêmica, as mulheres são maioria entre as pessoas com graduação (57%) e pós-graduação (67%). 

No regime de trabalho, a maioria que trabalha como pessoa jurídica e possui rendimentos anuais menores que R$ 360 mil, são mulheres. Com rendimentos anuais menores que R$ 80 mil, destaca-se a maior presença de pessoas negras. Mulheres brancas acima dos 40 anos trabalham predominantemente em regime formal CLT.

Quando analisados os postos de trabalho, as mulheres ultrapassam os homens apenas nas funções de Direção de Arte e Roteirista Chefe. Nos cargos de Direção de Som, Direção de Fotografia, Direção de Produção e Direção de Arte, não havia pessoas negras.

Os dados mostram que 39% das mulheres e 45% das pessoas negras se sentem menos satisfeitas com os créditos que receberam nas obras em que participaram.  

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Painel Brasil e França: Mulheres Ocupando Espaços de Liderança reuniu Joelma Gonzaga, secretária do Audiovisual; Tamiris Hilario, da ONU Mulheres; Leslie Thomas, do Centre National du Cinéma; Clémentine Charlemaine, do coletivo francês 50/50; e Karen Hayashi, da ApexBrasil. Foto: João Meireles/Ministério da Cultura

Para Daniele Bulmini Godoy, gerente de projetos da ONU Mulheres Brasil para o setor privado, há uma crescente conscientização e interesse por parte de organizações privadas em relação aos benefícios da igualdade de gênero, mas isso não demonstra uma profunda mudança na indústria audiovisual. “No setor de entretenimento e produção audiovisual, tivemos algumas mobilizações nos últimos anos que geraram uma falsa percepção de que a igualdade de gênero já foi alcançada em razão do aumento da presença de mulheres em conteúdos e iniciativas voltadas ao público feminino. São movimentos absolutamente relevantes, mas ainda precisamos observar lacunas significativas em relação a quem desenvolve as narrativas, diversidade em cargos estratégicos, ambientes inclusivos e condições dignas de trabalho”, concluiu.

Os primeiros resultados do levantamento foram apresentados durante os painéis “Brazil and France: Women in Leadership Positions” (Instituto +Mulheres) e “Voices of the Majority in Film: Brazil’s 54% who is Black Can’t Wait” (Instituto Nicho 54), realizados em Cannes, nos dias 14 e 18 de maio respectivamente. A análise foi conduzida pela startup Diversitera, especializada em estudos que promovem a equidade social e econômica.

Com informações da ONU Mulheres Brasil

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