Produtora do Rock in Rio entra em lista suja do trabalho escravo

Em 2024, uma operação do MTE resgatou 14 trabalhadores em alojamento precário, jornadas exaustivas e trabalho forçado durante o Rock in Rio
produtora-rock-in-rio-lista-suja-trabalho-escravo-resgates-ja-ocorreram-no-rock-in-rio-em-2013-e-2015-foto-fernando-frazao-agencia-brasil-tvt-news
Resgates já ocorreram no Rock in Rio em 2013 e 2015. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A Rock World, que organiza os festivais Rock in Rio, The Town e Lollapalooza, entrou para a “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por utilizar mão de obra análoga à escravidão. Em 2024, uma força-tarefa da pasta resgatou 14 trabalhadores em condições precárias durante o Rock in Rio. Saiba mais em TVT News.

Conforme apurado por Repórter Brasil, a Rock World foi incluída na lista após exercer seu direito à defesa contra os autos de infração lavrados na esfera administrativa. Em 2024, quando os trabalhadores foram resgatados, a empresa organizadora do Rock in Rio foi responsabilizada diretamente pela exploração de trabalho escravo, devido às condições a que foram submetidos os trabalhadores da produção, como carregadores.

Resgate de trabalhadores do Rock in Rio 2024

Em dezembro de 2024, a Força-Tarefa coordenada pelo MTE, composta por auditores-fiscais do Rio de Janeiro, resgatou 14 trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão durante o Rock in Rio 2024. Os trabalhadores haviam sido contratados por uma empresa terceirizada responsável por atividades operacionais para a organizadora do evento.

Os trabalhadores haviam sido contratados com a promessa de receber diárias entre R$ 90 e R$ 150, conforme a quantidade de horas trabalhadas. No entanto, os valores prometidos não foram integralmente pagos. Muitos dobraram jornadas por vários dias consecutivos na tentativa de aumentar seus ganhos, chegando a trabalhar até 21 horas em um único dia, com apenas três horas de descanso antes de retomar o serviço. Mesmo assim, muitos ficaram sem receber a remuneração devida.

produtora-rock-in-rio-lista-suja-trabalho-escravo-trabalhadores-dormiam-precariamente-sobre-lonas-e-papeloes-foto-mte-tvt-news
Trabalhadores dormiam precariamente sobre lonas e papelões Foto: MTE

A equipe de fiscalização do Trabalho relatou que os trabalhadores permaneciam no local após o término das escalas durante a madrugada para “dobrarem”, ou seja, iniciar novas jornadas na manhã seguinte, mesmo após já terem trabalhado mais de 12 horas.

“Há registros de trabalhadores que atuaram por dias consecutivos sem retornar para casa, com intervalos de apenas três horas entre as jornadas, começando às 8h, trabalhando até as 5h da manhã seguinte e reiniciando às 8h do mesmo dia”, destacou a equipe.

Os trabalhadores também relataram que utilizavam o banheiro do andar para sua higiene pessoal e tomavam banho no banheiro do térreo da Arena, localizado no vestiário do equipamento esportivo olímpico, cedido e supervisionado pela organizadora do festival. Durante a fiscalização, a equipe constatou que o banheiro do andar apresentava condições precárias, com roupas espalhadas e penduradas, urina no chão e outras irregularidades que evidenciavam a falta de manutenção e higiene no local.

À época, a empresa negou as acusações de trabalho escravo. “A Rock World repudia as acusações de trabalho análogo a escravo e qualquer forma de trabalho que não respeite a dignidade do trabalhador, bem como destaca que inexiste até o presente momento qualquer fato desabonador de sua conduta que tenha sido comprovado após ser submetido ao devido processo legal”, disse em nota.

Quando procurada pela TVT News, a Rock World negou as acusações em nota. Sobre os trabalhadores em situação análoga à escravidão no Rock in Rio 2024, a empresa afirmou que tão logo “teve notícia dos fatos envolvendo alguns trabalhadores da empresa Força Bruta (nome fantasia), agiu prontamente, notificou a mesma e tomou as medidas cabíveis”.

Leia a nota na íntegra:

A Rock World repudia as acusações de trabalho análogo à escravidão e qualquer forma de trabalho que desrespeite a dignidade do trabalhador e a legislação vigente. A empresa ressalta que não existe até o presente momento qualquer fato desabonador de sua conduta que tenha sido comprovado após ser submetido ao devido processo legal.

A Rock World reforça que as supostas irregularidades trabalhistas não foram praticadas pela empresa e que própria fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego identificou que teria sido realizada pela empresa terceirizada FBC Backstage Eventos LTDA.

Como já relatado anteriormente, tão logo a Rock World teve notícia dos fatos envolvendo alguns trabalhadores da empresa Força Bruta (nome fantasia), agiu prontamente, notificou a mesma e tomou as medidas cabíveis, com a participação do Ministério do Trabalho e Emprego, que acompanhou as providencias adotadas após a denúncia. A Rock World jamais se furtou a colaborar com as autoridades envolvidas.

A Rock World reforça que todos os trabalhadores nos eventos produzidos pela empresa seguem padrões rigorosos de contratação e que, há mais de 40 anos, preza pela promoção de entretenimento de alta qualidade, gerando um impacto de bilhões de Reais na economia do país e mais de 20 mil empregos diretos e indiretos.

Resgates já haviam ocorrido em edições anteriores do Rock in Rio

O resgate de trabalhadores em condições análogas à escravidão no Rock in Rio não é inédito. Em 2013, 93 trabalhadores foram resgatados em uma empresa terceirizada do setor de fast food. Na ocasião, a empresa cobrava pelo credenciamento, atraindo trabalhadores de diversas regiões e forçando-os a arcar com passagens, hospedagem e ingressos.

Os trabalhadores eram alojados em comunidades próximas e passavam noites ao redor do evento, sem garantias de alimentação, água ou descanso, com retenção de documentos. Em 2015, 17 trabalhadores também foram resgatados, com jornadas exaustivas e alojamento precário, além da retenção de documentos e falta de pausas, alimentação e hidratação.

*Com informações de MTE

Assuntos Relacionados