Tarifaço de Trump: comitê do governo com exportadores vai discutir medida dos EUA

Grupo será coordenado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e contará com a participação de quatro ministérios
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Alckmin deu detalhes sobre o comitê em declaração à imprensa na tarde da segunda-feira (14), no Palácio do Planalto. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Um comitê de trabalho interministerial criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se reunir com setores empresariais da indústria e do agronegócio para definir estratégias de negociação e reversão das tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos do Brasil. Saiba mais na TVT News.

O grupo conta com a participação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), da Casa Civil, do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Fazenda, e será coordenado pelo vice-presidente e titular do MDIC, Geraldo Alckmin.

Em declaração à imprensa na tarde desta segunda-feira (14), no Palácio do Planalto, Alckmin deu detalhes sobre as conversas. As duas primeiras reuniões ocorrerão nesta terça-feira (15), na sede do MDIC, em Brasília.

A primeira, agendada para as 10h, reunirá setores industriais que têm mais relação de comércio exterior com os EUA, como empresas de aviação, aço, alumínio, celulose, máquinas, calçados, autopeças, entre outros. Devem participar entidades setoriais e, em alguns casos, as próprias empresas. Um representante do Ministério de Portos e Aeroportos também deve comparecer.  

Na parte da tarde, às 14h, as empresas do agronegócio serão recebidas, incluindo setores que exportam suco de laranja, carnes, frutas, mel, couro e pescado. Neste caso, além das quatro pastas que integram o comitê, representantes do Ministério da Agricultura (Mapa), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério da Pesca participarão da reunião.

“Essa é a primeira conversa, mas nós vamos dar continuidade a esse trabalho. E vamos também marcar com entidades e empresas americanas, porque tem uma integração de cadeia. Então, é evidente que as empresas americanas também vão ser atingidas. Vamos conversar com as empresas americanas e com a Câmara de Comércio Exterior Brasil-EUA (Amcham)”, afirmou Alckmin.

Ele citou, por exemplo, o fato de o Brasil importar carvão siderúrgico dos EUA para fabricar aço semiplano e depois vender esse aço de volta ao mercado norte-americano, que produz motores e outros produtos de maior valor agregado.

Segundo Alckmin, ele não foi procurado por autoridades americanas desde o anúncio de Trump, mas informou que, antes do tarifaço, o Brasil já havia encaminhado proposta sobre taxas comerciais para autoridades dos EUA.

“No dia 16 de maio foi encaminhada, até em caráter confidencial, uma proposta de negociação para os Estados Unidos e não foi respondida ainda”, revelou.

O vice-presidente chegou a se reunir com secretário de Comércio de Trump, Howard Lutnick, e o embaixador Michael Grier, um alto funcionário do Representante Comercial dos EUA (USTR).

A expectativa de Alckmin é de que a participação dos setores empresariais brasileiros diretamente atingidos pela tarifa ajude a mobilizar empresas norte-americanas. O vice-presidente negou especulações de que o Brasil teria solicitado redução da tarifa neste momento.

“O governo não pediu nenhuma prorrogação de prazo e não fez nenhuma proposta sobre a alíquota, sobre o percentual. O que nós estamos fazendo é ouvindo os setores mais envolvidos, para o setor privado também participar e se mobilizar com seus congêneres e parceiros nos Estados Unidos, fazer essa articulação e o governo também o fará. Todo o empenho em rever essa questão [tarifa], porque ela é totalmente inadequada”, observou.

Tarifas de Trump ao Brasil

A medida, anunciada em uma carta de Trump endereçada a Lula, prevê tarifas de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. Essa ação de Trump demonstra ser uma resposta ao que ele chama de “perseguição política” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu pela tentativa de golpe no fim de 2022.

O governo brasileiro, por sua vez, teve uma reação imediata e contundente. O presidente Lula condenou a ação, classificando-a como “coerção, intimidação e interferência” na soberania nacional. Em breve, o Brasil deve acionar a Lei de Reciprocidade Econômica, que permite a suspensão de acordos comerciais e até mesmo a limitação de obrigações de propriedade intelectual com os EUA, caso as negociações falhem.

As justificativas de Trump para a medida incluem alegações de que o julgamento de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) seria uma “caça às bruxas” e uma “vergonha internacional”. Ele também acusou o Brasil de “ataques insidiosos” contra eleições livres e de censura a plataformas de mídia social americanas.

Em outra carta, Lula refutou as acusações, apresentando dados da própria Casa Branca que mostram um superávit comercial dos EUA com o Brasil nos últimos 15 anos. O vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou que o Brasil não representa uma ameaça comercial para os americanos.

Já o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, publicou uma carta em defesa do Judiciário, afirmando que as decisões são baseadas em provas e que não há perseguição política. No Congresso Nacional, foi protocolada uma moção de repúdio, classificando a medida de Trump como uma “afronta direta à soberania brasileira”.

Especialistas sugerem que a estratégia de Trump pode se mostrar um “tiro no pé”, pois tem o potencial de unir grupos políticos opostos no Brasil em defesa da soberania nacional, além de acelerar o processo de diversificação de parcerias econômicas do país, com foco em mercados como o asiático e no fortalecimento do BRICS.

Com Agência Brasil

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