Lula: “Trump não foi eleito para ser imperador do mundo”

À imprensa americana, presidente rebateu as tarifas dos EUA e disse que está "disposto a negociar"
lula-trump-nao-foi-eleito-imperador-do-mundo-tvt-news
Entrevista com presidente em canal americano foi exibida nesta quinta-feira (17). Foto: @camanpour/instagram

O presidente Lula disse nesta quinta-feira (17), que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não foi eleito para ser “imperador do mundo”, a declaração foi dada à jornalista Christiane Amanpour, da CNN americana. Veja os destaques da entrevista em TVT News.

“Nós não podemos ter o presidente Trump esquecendo que ele foi eleito para governar os Estados Unidos, e não para ser o imperador do mundo. Seria muito melhor estabelecer uma negociação primeiro, e depois alcançar um acordo possível, porque nós somos dois países que temos boas relações por 200 anos”, afirmou o presidente.

Ao ser questionado sobre a taxação de 50% imposta por Trump, o brasileiro afirmou ter ficado “surpreso” e, inicialmente, acreditou que se tratava de fake news. Segundo ele, a princípio era difícil imaginar que a postagem do presidente norte-americano nas redes sociais fosse real.

“Foi muito desagradável”, disse ele. Eu pensei que eram notícias falsas.”

“Não só o valor da taxação, mas como foi anunciada. Eu penso que falta um pouco de multilateralismo na cabeça do presidente Trump. E ele sabe que um problema desses se resolve numa mesa de negociação. Nós estávamos negociando com os Estados Unidos desde março. O meu ministro das Relações Exteriores, o meu vice-presidente da República estavam negociando. Dia 16 de maio, mandamos uma proposta depois de dez reuniões, dizendo o que a gente queria e o que era possível acordar. Para nossa surpresa, em vez de resposta à carta, recebemos a notícia publicada no site do presidente da República. “

“Se Trump fosse brasileiro, também estaria sendo julgado”

Lula afirmou também que se Donald Trump, fosse brasileiro, “ele também seria julgado”. A referência é sobre a invasão ao Capitólio americano em 2021 e sobre Trump ter defendido o ex-presidente Jair Bolsonaro na última semana. Para o norte-americano, a investigação que envolve Bolsonaro — réu por participação em uma tentativa de golpe em 2022 — não passa de uma “caça às bruxas”.

O presidente apontou que as ameaças de Trump romperam com o “protocolo” e argumentou que o destino de seu antecessor não pode fazer parte das negociações comerciais.

“O poder judiciário no Brasil é independente. O presidente da República não tem influência alguma”, disse, acrescentando que Bolsonaro “não está sendo julgado pessoalmente. Ele está sendo julgado pelos atos que tentou organizar um golpe de Estado.”

Disposto a negociar

O brasileiro ressaltou a sua disposição de chegar a um acordo com Washington dizendo que cabe a Trump considerar “seriamente” a negociação e que espera que o presidente dos EUA mude de ideia.

“O Brasil deve cuidar do Brasil e cuidar do povo brasileiro, e não cuidar dos interesses dos outros”, disse Lula, acrescentando: “O Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto. Aceitamos negociação e não imposição”, afirmou o presidente.

“É importante ter em conta que é preciso respeitar a soberania dos países. É preciso respeitar as coisas que acontecem dentro de um país. Eu não sou um presidente progressista, eu sou o presidente do Brasil. Eu não vejo o Trump como presidente de direita, eu vejo como presidente dos Estados Unidos. Ele foi eleito. Tem o respaldo do povo americano.”

“Então, a melhor coisa é sentar numa mesa para conversar. Até agora, ele tem demonstrado que não tem interesse, porque acha que pode fazer as tarifas que quiser. Ninguém quer romper com os Estados Unidos, ninguém quer prescindir dos Estados Unidos. O que queremos é não ser refém dos Estados Unidos.”

“O Brasil não gosta de encrenqueiros”

Lula disse que o Brasil vai, “no momento certo”, dar a “resposta certa” à carta de Trump e ao tarifaço.

“No meu pronunciamento ao povo brasileiro, eu vou dizer o que estamos pensando sobre isso”, afirmou Lula, em referência ao pronunciamento em cadeia de rádio e TV marcado para a noite desta quinta-feira. “Eu garanto que o Brasil não gosta de encrenqueiros, nem de confusões. O Brasil gosta de negociar em paz.”

O presidente negou que haja uma crise entre Brasil e Estados Unidos, reforçando a disposição de negociar com o governo americano sobre as tarifas. Mas destacou que a relação entre os países “não pode continuar assim”.

Casa Branca rebate Lula: “Trump é o líder do mundo livre”

Durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (17), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu às declarações do presidente Lula sobre a postura dos Estados Unidos no comércio internacional.

Leavitt refutou a crítica do presidente brasileiro sobre Trump durante o encontro com jornalistas, dizendo:

“O presidente certamente não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte dos Estados Unidos da América e também é o líder do mundo livre. E vimos uma grande mudança em todo o globo por causa da liderança firme deste presidente”, disse Leavitt.

A porta-voz também abordou questões comerciais envolvendo o Brasil, mencionando a carta enviada por Trump a Lula sobre a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e investigação comercial em andamento por um órgão do governo norte-americano.

Ela apontou preocupações com as regulações digitais brasileiras e alegou que a proteção à propriedade intelectual no país é insuficiente, prejudicando empresas americanas de tecnologia. Além disso, criticou o que chamou de tolerância do Brasil ao desmatamento ilegal, dizendo que isso coloca produtores americanos — que seguem padrões ambientais mais rigorosos, em desvantagem competitiva.

Leavitt finalizou afirmando que todas as medidas adotadas pelo presidente Trump têm como objetivo proteger os interesses do povo americano.

Assuntos Relacionados