Drawback: o que é e como o regime pode ajudar o Brasil diante do tarifaço de Trump e Bolsonaro

Entenda o que é e como o Drawback pode ajudar a produção brasileiras diante do tarifaço imposto por Trump e articulado por bolsonaristas
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Governo ampliou em um ano o prazo para que empresas que já contrataram exportações, especialmente para os EUA, realizem os embarques com insumos adquiridos sob o regime de Drawback. Foto: Freepik

O anúncio do tarifaço unilateral de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre uma série de produtos brasileiros colocou exportadores nacionais em alerta e motivou uma série de ações de proteção, intituladas Brasil Soberano. Uma delas é o Drawback. Entenda na TVT News.

A medida do tarifaço, tomada pelo presidente Donald Trump em conluio com a família Bolsonaro contra o Brasil, já está em vigor para setores estratégicos e atinge diretamente áreas como siderurgia, calçados, têxteis, alumínio, celulose e produtos agroindustriais processados.

Para tentar mitigar o impacto, o governo brasileiro lançou a primeira etapa de um pacote emergencial, que inclui R$ 30 bilhões em crédito, adiamento de tributos federais e, sobretudo, a prorrogação do prazo do regime de Drawback, um instrumento aduaneiro que já é vital para a competitividade das exportações brasileiras.

O que é o Drawback?

O Drawback é um regime aduaneiro especial criado pelo Decreto-Lei nº 37/1966 e regulamentado atualmente pela Portaria SECEX nº 44/2020. Ele permite que empresas importem insumos ou adquiram matérias-primas no mercado interno sem pagar impostos, desde que essas mercadorias sejam usadas para fabricar bens destinados à exportação.

Ao reduzir ou eliminar a carga tributária sobre os insumos, o Drawback barateia o custo de produção e amplia a competitividade internacional dos produtos brasileiros.

Os principais tributos abrangidos pelo regime são:

  • Imposto de Importação (II)
  • Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
  • PIS/Pasep-Importação
  • Cofins-Importação
  • Em alguns casos, o ICMS, dependendo da legislação estadual.

Modalidades do Drawback

O regime tem três modalidades principais:

  1. Suspensão (mais utilizada):
    • Impostos sobre insumos são suspensos na compra.
    • Se o exportador cumprir as metas e prazos, a suspensão vira isenção definitiva.
    • Caso contrário, os tributos são cobrados com multa e juros.
  2. Isenção:
    • Permite repor insumos já utilizados na produção de bens exportados, sem pagar tributos.
  3. Restituição:
    • Devolve tributos pagos em insumos utilizados para exportação (quase em desuso no Brasil).

Por que a prorrogação do Drawback importa

Segundo o Ministério da Fazenda, o governo ampliou em um ano o prazo para que empresas que já contrataram exportações, especialmente para os EUA, realizem os embarques com insumos adquiridos sob o regime de Drawback. Sem essa prorrogação, quem não conseguisse cumprir os prazos por causa do tarifaço teria de devolver o benefício com multas e juros.

Em 2024, 26% das exportações brasileiras para os EUA utilizaram o regime de Drawback, movimentando cerca de US$ 10,5 bilhões (R$ 56 bilhões). Só em março deste ano, 1.151 empresas brasileiras exportaram sob a modalidade de suspensão, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX).

Com o tarifaço americano, alguns contratos foram suspensos ou renegociados. O prazo extra dá às empresas a chance de redirecionar vendas para outros mercados, como União Europeia, China, Índia e países do Mercosul, evitando prejuízos e mantendo os benefícios fiscais.

O Drawback como ferramenta estratégica

O impacto do tarifaço vai além do aumento imediato de custos, ele desorganiza cadeias produtivas, compromete planejamento e afeta margens de lucro. Ao reduzir a carga tributária sobre insumos, o Drawback ajuda a compensar parte dessa perda de competitividade.

Empresas que operam sob o regime podem, por exemplo:

  • Ajustar rapidamente o destino das exportações.
  • Reduzir preços sem comprometer a margem.
  • Melhorar fluxo de caixa ao evitar pagamento antecipado de tributos.

Especialistas em comércio exterior afirmam que, em cenários de guerra comercial, regimes como o Drawback funcionam como “amortecedores” para exportadores, permitindo que o setor produtivo respire enquanto busca novos mercados ou renegocia contratos.

Contexto internacional

O tarifaço americano é parte de uma política protecionista que já vinha sendo ensaiada desde o primeiro governo Trump e que agora se intensifica. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a sobretaxa atinge mais de US$ 8 bilhões em exportações anuais brasileiras, podendo causar perda de até 150 mil postos de trabalho diretos se não houver compensações rápidas.

O governo brasileiro, além de ampliar o Drawback, também iniciou consultas formais na Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a medida. Paralelamente, negocia com outros parceiros como o bloco do BRICS e com países da América Latina e Europa para acelerar acordos comerciais que absorvam parte da produção afetada.

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