A manhã desta quinta-feira (14) marcou um momento histórico para Pernambuco e para toda a região Nordeste com a inauguração da nova fábrica de hemoderivados da Hemobrás em Goiana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que esse empreendimento representa um salto estratégico para a soberania nacional em saúde e um divisor de águas no desenvolvimento regional. A unidade, fruto de um investimento de R$ 1,9 bilhão, configura-se como um marco de autonomia na produção de medicamentos essenciais ao Sistema Único de Saúde (SUS), como albumina, imunoglobulina e os fatores de coagulação VIII e IX – ferramentas vitais para tratamentos de hemofilia, grandes cirurgias, queimaduras graves e internações em UTIs.
Localizada no Complexo Industrial de Goiana – terreno estratégico de aproximadamente 25 hectares com área construída de 48 mil m² –, a Hemobrás visa processar até 500 mil litros de plasma por ano e produzir, em quatro anos, seis tipos de hemoderivados no país. A implantação dos blocos B02 (fracionamento), B03 (envase e liofilização) e B07 (onde já se iniciou o Projeto Buriti, com produção do Hemo-8r) permite que o Brasil siga avançando em direção à autossuficiência, reduzindo a vulnerabilidade à importação e fortalecendo o Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
Além de garantir um acesso mais seguro e gratuito a medicamentos de alto custo, a fábrica impulsiona a cadeia de biotecnologia, fomenta o desenvolvimento industrial local e cria empregos qualificados, contribuindo para evitar a migração de mão-de-obra e renda para outras regiões. Lula destacou que “Pernambuco precisava de uma chance. A chance foi dada. A Hemobrás está aqui. E vai ser a maior fábrica da América Latina” – reforçando a importância da política pública deliberada de interiorização do desenvolvimento
No seu discurso, o presidente Lula relembrou sua trajetória pessoal — como nordestino que saiu de Garanhuns ainda criança para escapar da fome — e suas convicções sobre governar para os invisíveis: “Quando você governa, é sempre saber de que lado da sociedade você vai tomar a decisão: se é para todos, se é para os que já têm, ou se vai tentar fazer as coisas para atender uma grande parcela da sociedade brasileira que sempre foi tratada como se fosse invisível.” Essa fábrica, segundo Lula, é uma dessas decisões feitas para corrigir desigualdades históricas e dar ao Nordeste seu lugar de protagonismo no país.
Ele pontuou que o Nordeste já teve peso significativo, mas perdeu influência ao longo da história, e afirmou sua convicção em devolver à região o reconhecimento e capacidade de desenvolvimento: “Eu quero que o Nordeste seja igual aos outros estados. Não quero tirar nada dos outros estados, só quero que a gente seja igual.” No governo Lula, por exemplo, foram criadas universidades, institutos federais, o ITA no Ceará, política de Mais Médicos e demais iniciativas que mudaram o cenário educacional e social nordestino.
Lula responde ao “tarifaço” de Trump
No mesmo discurso, Lula criticou duramente o que chamou de “insensatez” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por impor tarifas ao Brasil. Ele lembrou que Brasil e EUA são parceiros há cerca de 200 anos e que, no ano anterior, o comércio entre os dois alcançou US$ 87 bilhões em troca: US$ 47 bilhões em exportações americanas e US$ 40 bilhões brasileiras — resultando em superávit de US$ 7 bilhões para os EUA
Lula ressaltou que, nos últimos 15 anos, os EUA acumularam superávit de US$ 410 bilhões em relação ao Brasil, o que torna o aumento de tarifas injustificável. Ele refutou as acusações de que o governo estaria “perseguindo um ex-presidente” sem base legal, e acusou Trump de instigar o discurso contra o Brasil sem fundamento. Lula chamou atenção para a gravidade da ingerência e denunciou hipocrisia política, dizendo que Trump devia responder por seu próprio desrespeito aos direitos humanos, citando as mais de 300 mil mortes no país atribuídas à gestão do ex-presidente norte-americano durante a pandemia.
Sobre a tentativa de impedir a regulação das plataformas digitais no Brasil, Lula foi enfático: “Aqui no Brasil tem lei. E aqui no Brasil a lei vale para nós e para as empresas estrangeiras … não vamos permitir a loucura que se faz contra crianças e adolescentes… Por isso nós vamos regular.” Ele finalizou declarando com firmeza que “quem manda nesse país é o povo brasileiro”, afirmando seu discurso com clareza e em igualdade de tratamento com todas as nações — sem subserviência nem arrogância.