O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, pela Polícia Federal (PF) na noite de quarta-feira (20), foi repercutido pelos maiores veículos de imprensa internacionais. A principal revelação que chamou a atenção global foi a descoberta de que Bolsonaro elaborou um pedido de asilo político ao presidente argentino, Javier Milei. Essa informação, juntamente com detalhes sobre a tentativa de interferência em processos judiciais, dominou as manchetes em jornais e agências de notícias de diferentes países. Saiba mais na TVT News.
Argentina: detalhes do pedido de asilo
A imprensa argentina dedicou atenção especial ao caso. Os jornais Clarín e La Nación destacaram que a PF encontrou no celular do ex-presidente um rascunho de um pedido de asilo endereçado a Milei. O documento, de 33 páginas, incluía argumentos políticos, referências religiosas e até citações bíblicas, nas quais Bolsonaro alegava ser alvo de “perseguição” e temia pela sua vida. Segundo o Clarín, a autora do texto seria a esposa do senador Flávio Bolsonaro.
O La Nación acrescentou que o arquivo foi modificado pela última vez em fevereiro de 2024, dois dias após o passaporte de Bolsonaro ser apreendido. O jornal também notou a transferência de R$ 2 milhões para a conta da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, no que parecia ser uma tentativa de ocultar patrimônio. Apesar da existência do documento, a agência de notícias Reuters apontou que não há confirmação de que ele tenha chegado ao governo argentino.
EUA: as articulações de Eduardo Bolsonaro
Nos Estados Unidos, a imprensa focou nas articulações de Eduardo Bolsonaro em Washington. O The New York Times relatou que o deputado visitou a Casa Branca várias vezes para buscar a intervenção dos EUA no caso de seu pai. O jornal lembrou que Donald Trump chegou a citar o assunto ao anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, exigindo que o Brasil desistisse do processo contra o ex-presidente. O veículo americano também mencionou que Trump impôs sanções severas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
O Washington Post destacou que Bolsonaro, além de aguardar uma decisão sobre a tentativa de golpe, pode enfrentar outro caso, já que a polícia o acusou formalmente, junto com seu filho, de obstrução da justiça. A Reuters americana noticiou que a PF encontrou um áudio de Bolsonaro pedindo a um advogado ligado à Trump Media para revisar uma postagem, o que, segundo os investigadores, demonstra subordinação a “interesses estrangeiros”.
Europa: acusações e perspectiva de condenação
Na Europa, os jornais britânicos The Independent e The Guardian enfatizaram a intenção de Bolsonaro de buscar asilo na Argentina. O The Guardian noticiou que, para alguns especialistas, a quantidade de provas torna uma condenação praticamente inevitável. O jornal também revelou que o pedido de asilo foi salvo no celular de Bolsonaro dois dias após a apreensão de seu passaporte, no qual ele se declarava vítima de uma “prisão injusta, ilegal e arbitrária”.
O Financial Times detalhou que o rascunho do pedido de asilo foi salvo em fevereiro de 2024, logo após operações da PF contra aliados de Bolsonaro, e que ele se apresentava como vítima de “perseguição política”. O jornal francês Le Monde ressaltou que a carta, datada de 10 de fevereiro, foi apresentada “poucos dias após o início da investigação contra ele”. Ambos os jornais lembraram que o ex-presidente pode ser condenado a mais de 40 anos de prisão.
Próximos passos
A Polícia Federal afirma que o plano golpista de Bolsonaro incluía não apenas a reversão do resultado das eleições, mas também o assassinato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Bolsonaro nega ter conhecimento disso.
O ministro Moraes, que deu 48 horas para a defesa do ex-presidente explicar o “comprovado risco de fuga” e as violações às medidas cautelares, determinou que Bolsonaro use uma tornozeleira eletrônica e se mantenha afastado de embaixadas estrangeiras.
Em nota, Eduardo Bolsonaro negou que sua atuação nos EUA tenha o objetivo de interferir em qualquer processo no Brasil, defendendo apenas o “restabelecimento das liberdades individuais”. O julgamento do ex-presidente está programado para começar em 2 de setembro.