O Brasil perdeu neste último domingo (24), um de seus mais importantes e irreverentes cartunistas: Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, mais conhecido como Jaguar. O artista morreu aos 93 anos no Rio de Janeiro, onde estava internado no Hospital Copa D’Or. A causa da morte foi uma infecção respiratória que evoluiu para complicações renais. A notícia foi confirmada por familiares à TV Globo. Relembre a trajetória de Jaguar, criador de O Pasquim, com a TVT News.
Quando será o velório de Jaguar
As últimas homenagens a Jaguar foram programadas para esta segunda-feira (25). O velório acontece das 12h às 15h no Crematório Memorial do Carmo, na Zona Norte do Rio. Em seguida, o corpo será cremado, um desejo do cartunista que, com seu humor ácido, pedia para que suas cinzas fossem jogadas na descarga de um vaso sanitário ou espalhadas pelos bares que frequentou. TVT News.
Um legado de luta e de humor
Nascido em 29 de fevereiro de 1932, no Rio de Janeiro, Jaguar começou sua carreira em 1952 e rapidamente se tornou uma figura central na imprensa brasileira. Seu pseudônimo, uma sugestão do colega Borjalo, marcaria a história do jornalismo e da resistência cultural no país.
Em 1969, entre nomes como Millôr Fernandes, Henfil e Tarso de Castro, se tornou um dos fundadores d’O Pasquim, icônico jornal satírico que se transformou em um símbolo da luta contra a ditadura militar. Jaguar, que atuou como editor e diretor, foi o único da equipe fundadora a permanecer no veículo até a última edição, em 1991. O nome “Pasquim” foi uma ideia do próprio, inspirada no termo italiano para “panfleto difamador”.
A ousadia d’O Pasquim custou a Jaguar a prisão por cerca de três meses durante o regime militar. A detenção ocorreu após ele satirizar o quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, com a frase “Eu quero mocotó!!”. Mesmo assim, o cartunista nunca perdeu o bom humor ao relembrar a experiência, e foi indenizado pela Comissão de Anistia em 2000 por sua perseguição política.

Seu talento ímpar deu vida a personagens como o ratinho Sig, mascote do Pasquim, o irônico Gastão, o Vomitador, e Bóris, o Homem-Tronco. Seu estilo de desenho era único: ele começava o traço pelo pé do personagem e subia até a cabeça, uma peculiaridade que o colega Miguel Paiva tentou imitar, mas sem sucesso.
Em 2012, Jaguar revelou que sofria de cirrose e câncer no fígado (carcinoma hepatocelular) e precisou passar por cirurgia. Mesmo com a doença, o cartunista afirmou à Folha de S. Paulo que viveu “mais do que esperava” e brincou dizendo que o médico ficou perplexo por ele não morrer em 20 dias, o que obrigou Jaguar a “reformular tudo de novo” e a “fazer planos para o futuro”.

Jaguar também deixou sua marca em diversas publicações, como a Folha de S.Paulo, onde publicou cartuns até julho de 2025. Na TV, suas animações deram forma às famosas vinhetas “plim plim” da TV Globo.
Além de sua vasta obra em jornais e revistas, Jaguar é autor de livros aclamados como Átila, você é bárbaro (1968), Ipanema, se não me falha a memória (2000 ou 2001) e Confesso Que Bebi (2001), onde compartilha histórias de sua paixão pela boemia. Ele cunhou a frase, que se tornou um lema da intelectualidade carioca: “Intelectual não vai à praia. Intelectual bebe”.
Jaguar recebe homenagens
A notícia da morte de Jaguar gerou uma onda de homenagens entre colegas e admiradores. Para o cartunista Chico Caruso, que o visitou no hospital, Jaguar era “o melhor cartunista brasileiro” e “o melhor dos amigos possíveis”.
Renato Aroeira o descreveu como “mestre, professor, inspiração, gênio”, enquanto Miguel Paiva ressaltou seu “estilo muito estranho e único de trabalhar”. Angeli prestou reverência ao “dono do traço mais rebelde do cartum brasileiro”, chamando-o de “carinhoso mestre”.
Já Laerte Coutinho o homenageou como um “deus muito especial” no “Monte Olimpo” que era “O Pasquim”. O presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, José Alberto Lovetro (Jal), reforçou que Jaguar “faz parte da história do Brasil” e é um “herói” por sua coragem.
Com seu humor inteligente e um traço inconfundível, Jaguar se eternizou como uma figura irreverente da cultura brasileira. Relembre algumas de suas charges:






Desenho (quase) póstumo do Jaguar
No perfil da Galeria Angeli, um vídeo emocionante de Jaguar: “Um desenho quase póstumo do Jaguar ” é o que Jaguar escreveu na vitrine da galeria, em 24 de janeiro de 2020.