O jornalista Mino Carta, fundador da revista CartaCapital, morreu nesta terça (2), aos 91 anos. Leia em TVT News.
Jornalista Mino Carta morre aos 91 anos
Fundador e diretor de redação de CartaCapital, o jornalista Mino Carta morreu nesta terça-feira 2, aos 91 anos. Há um ano, Mino lutava contra problemas de saúde.
A trajetória de Mino Carta se confunde com a história do jornalismo do Brasil. Aos 27 anos, aceitou o convite de Victor Civita para dirigir uma nova revista da então nascente editora Abril, Quatro Rodas.
Lançou as revistas Veja, em 1968, IstoÉ, em 1976 e CartaCapital, em 1994. Esteve à frente da equipe fundadora do Jornal da Tarde, em 1966, reconhecido pela modernidade na paginação e pela qualidade literária das reportagens que inspiraram gerações de jornalistas.
A equipe da TVT se solidariza com os companheiros da parceira Carta Capital, com os familiares e amigos de Mino e com as centenas de milhares de leitores deste grande jornalista.
Quem foi Mino Carta
O jornalista ítalo-brasileiro, nascido em Gênova, veio ao Brasil após a 2ª Guerra Mundial, aos 13 anos. Mino dirigiu e lançou a revista Veja, em 1968, a revista IstoÉ, em 1976, e a Carta Capital, em 1994.
A Carta Capital é uma revista conhecida por manter uma visão mais “progressista” dos acontecimentos, em contraste com as publicações de tom mais “conservador” ou “liberal”. A publicação se propõe a ser “maior referência em jornalismo progressista no Brasil, em qualquer plataforma”.
O profissional ainda esteve à frente da equipe fundadora do Jornal da Tarde, em 1966, e do Jornal da República, em 1979. Nesse último, fundado em parceria com o jornalista Claudio Abramo, Mino tentou aproveitar a abertura política iniciada pela ditadura militar, mas o projeto não vingou por questões econômicas e políticas. Segundo Mino, o Jornal da República “sofria a oposição dos jornalões”.
Em entrevista recente ao jornalista Lira Neto no contexto da publicação do livro do Lira Memória do Jornalismo Brasileiro Contemporâneo, Mino Carta faz dura crítica à subordinação do jornalismo profissional à dinâmica das redes sociais controladas pelas big techs.
Para ele, a internet limitou o jornalismo e passou a pautar os jornais. “Em lugar de praticar um jornalismo realmente ativo, na busca corajosa pela verdade, a imprensa está sendo engolida e escravizada pelas novas mídias. Veja a tragédia do celular. Com ele, o homem emburrece, não progride”.
Carta era um crítico do jornalismo empresarial, chamada de “grande mídia”, e reconhecia que a independência editorial tinha preço.
“As revistas são, essencialmente, sustentadas por publicidade. Eu poderia estar muito rico, ter me vendido de várias maneiras. A única coisa que tenho na vida é esse apartamento que estou tentando vender, porque não tenho mais dinheiro”, revelou.
O futuro do Brasil, por Mino Carta
Mino Carta, ainda na entrevista a Lira Neto, afirmou que nem o Brasil, nem o jornalismo brasileiro, teriam alguma perspectiva futura de melhoria.
“Este país não tem saída, graças aos que o governaram e à permanência de um pensamento medieval representado pela Casa-Grande”, disse.
Casa-Grande refere-se a uma elite escravocrata que colonizou o Brasil a partir de 1.500 por meio da escravização de africanos e da usurpação das terras dos povos indígenas, que também foram escravizados. O termo foi imortalizado pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freire em sua obra Casa Grande e Senzala que pretendeu explicar a formação social do país.

Presidente Lula lamenta a morte de Mino Carta e decreta luto de 3 dias
O presidente Lula emitiu nota de pesar sobre a morte de Mino Carta. “Conheci Mino há quase cinquenta anos, quando ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo por melhores condições de vida, por justiça social e democracia”, disse o presidente.
“Estas décadas de convivência me dão a certeza de que Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um país justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras”, afirmou Lula.
O presidente declarou luto oficial de três dias

Leia, na íntegra, a nota do presidente Lula sobre a morte do jornalista Mino Carta.
Recebi com muita tristeza a notícia da morte de meu amigo Mino Carta, ocorrida na madrugada deste 2 de setembro. Ele fez história no jornalismo brasileiro: criou e dirigiu algumas de nossas principais revistas (Veja, Isto é, Quatro Rodas, Carta Capital, Jornal da Tarde, Jornal da República) e formou gerações de profissionais e, sobretudo, mostrou que a imprensa livre e a democracia andam de mãos dadas. Em meio ao autoritarismo do regime militar, as publicações que dirigia denunciavam o abuso dos poderosos e traziam a voz daqueles que clamavam pela liberdade.
Conheci Mino há quase cinquenta anos, quando ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo por melhores condições de vida, por justiça social e democracia. Foi ele quem abriu espaço para minha primeira capa de revista, na Istoé, em 1978. Desde então, nossas trajetórias seguiram se cruzando. Eu, como liderança política, ele, como um jornalista que, sem abdicar de sua independência, soube registrar as mudanças do Brasil. Vivemos juntos a redemocratização, as Diretas Já, as eleições presidenciais e as grandes transformações sociais das últimas décadas.
Estas décadas de convivência me dão a certeza de que Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um país justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras. Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou.
Em sua memória, estou declarando três dias de luto oficial em todo o país.
À sua filha Manuela e a todos os seus familiares e os inúmeros amigos que construiu ao longo de sua vida, deixo um forte e carinhoso abraço.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República
Com informações da Revista CartaCapital