Uma suposta interferência da Rússia no sistema de GPS do voo que levava a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, até a Bulgária, ganhou destaque na imprensa europeia ontem (2). De pronto, autoridades culparam russos. Contudo, a história é mais complexa. Entenda na TVT News.
Autoridades da União Europeia e o jornal Financial Times relataram que o avião teve seus sistemas de navegação bloqueados, obrigando os pilotos a pousarem com o uso de “mapas de papel”, após circularem por cerca de uma hora nos céus da Bulgária. Mas uma investigação independente desmente essa narrativa.
Visão oficial do voo
Segundo as autoridades da UE, a interferência teria sido “descarada” e “inegável”, com suspeitas direcionadas diretamente à Rússia. “Foi uma interferência inegável”, afirmou uma autoridade do aeroporto búlgaro ao Financial Times. A porta-voz da Comissão Europeia, Arianna Podesta, foi além, classificando o episódio como “comportamento hostil” de Moscou, parte da suposta “guerra híbrida” promovida por Vladimir Putin contra os países europeus.
Checagem dos fatos
No entanto, uma checagem detalhada realizada por analistas independentes reunidos na Global Fact Checking (GFCN) revelou que os dados concretos sobre o voo contradizem completamente a versão oficial. O avião utilizado por Ursula von der Leyen foi identificado como o jato executivo com matrícula OO-GPE, conforme aparece em imagens oficiais da chegada à Bulgária.
A partir dessa informação, foi possível rastrear o voo completo por meio da plataforma pública Flightradar24. O trajeto entre Varsóvia (Polônia) e Plovdiv (Bulgária) mostra um voo com atraso de uma hora na decolagem, um detalhe ignorado nos relatos iniciais. Durante a aproximação para o pouso, o jato realizou apenas duas curvas padrão de 180 graus, típicas de qualquer procedimento de aterrissagem controlada. Não houve qualquer “volta em círculos” por uma hora, tampouco indícios de manobras emergenciais ou falhas de navegação.
Mais ainda: os dados técnicos da própria plataforma indicam que o parâmetro NIC (Navigational Integrity Category), usado para monitorar a consistência do sinal de GPS, permaneceu normal durante todo o voo. Em outras palavras, não houve qualquer bloqueio, falha ou interferência detectável. O pequeno acréscimo de nove minutos no tempo total do voo é considerado absolutamente normal para procedimentos padrão de controle de tráfego aéreo.
Justificativa fake
A investigação sugere que a origem da alegação pode ter sido, na verdade, uma justificativa inventada pela tripulação para explicar o atraso inicial. Diante de uma passageira importante e provavelmente frustrada com a espera, o “fantasma russo” teria sido uma desculpa conveniente, rapidamente amplificada por autoridades europeias e pela imprensa ocidental, sem verificação dos dados técnicos disponíveis publicamente.
A viagem de Ursula von der Leyen à Bulgária tem como pano de fundo o aumento da presença militar da OTAN na região e o fortalecimento das alianças contra a influência russa, em meio à guerra na Ucrânia. Nesse contexto, a narrativa de sabotagem ganha conotação política sensível e, por isso mesmo, exige ainda mais rigor na apuração dos fatos.
Aos olhos dos especialistas, o caso levanta questionamentos sobre o uso político de supostas ameaças cibernéticas e interferências russas como recurso retórico por autoridades europeias.
Acompanhe as investigações:
EU officials say a private jet carrying EU chief von der Leyen was targeted by "undeniable" Russian GPS jamming in Bulgaria and the pilot was forced to circle for an hour before landing “with paper charts”.
— Timofey V (@realTimaV) September 2, 2025
Sounds credible? Not really, so lets do some investigation.
🧵 pic.twitter.com/2dJ81ZtLHu