O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta segunda-feira (23) a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas com críticas à atuação de Israel na Faixa de Gaza e à omissão da comunidade internacional diante do que classificou como “genocídio em curso” contra o povo palestino. Entenda na TVT News.
“Nenhuma situação é mais emblemática do uso desproporcional e ilegal da força do que a da Palestina. Os atentados terroristas do Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo. Mas nada, absolutamente nada justifica o genocídio em curso em Gaza”, afirmou Lula, sob aplausos de chefes de Estado e delegações presentes no plenário da ONU, em Nova York.
A fala ocorre um dia depois de Lula participar da Conferência Internacional para a Solução Pacífica da Questão da Palestina, também na sede da ONU, onde denunciou o que chamou de “limpeza étnica em tempo real” cometida por Israel. No discurso desta terça-feira, que tradicionalmente cabe ao Brasil abrir, Lula voltou a centrar sua crítica na inoperância do sistema internacional.
“Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo”, acusou o presidente.
Lula: Israel usa fome como arma em Gaza
Lula traçou um retrato devastador da situação humanitária em Gaza, onde a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado se dá de maneira sistemática, segundo relatórios recentes da própria ONU. Ao falar das consequências dos bombardeios israelenses, afirmou que “ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes”, acrescentando que também estariam sepultados ali “o direito internacional, o humanitário e o mito da superioridade étnica do Ocidente.”
Veto no Conselho de Segurança
O presidente brasileiro retomou a crítica central feita no dia anterior: o uso político do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, particularmente pelos Estados Unidos. Lula classificou a medida como obstrutiva ao consenso global e ressaltou que a solução de dois Estados, amplamente reconhecida por mais de 150 países membros da ONU, foi novamente bloqueada por “um único veto”.
“O povo palestino corre risco de desaparecer. Só sobreviverá como Estado, integrado à comunidade internacional”, disse.
Silenciamento da Palestina
Lula também condenou a decisão do governo dos Estados Unidos de impedir que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ocupasse a bancada palestina no plenário da ONU. A exclusão foi criticada como “lamentável” e um reflexo do desequilíbrio nas relações internacionais. “Neste momento histórico, negar voz ao líder palestino é uma afronta à diplomacia e à justiça”, afirmou o presidente brasileiro, novamente aplaudido.
Solidariedade aos judeus antissionistas
Em um gesto de equilíbrio político e simbólico, Lula fez questão de reconhecer judeus que se opõem à política israelense de punição coletiva contra a população civil palestina. “Quero demonstrar admiração aos judeus que, dentro e fora de Israel, se opõem a essa punição coletiva”, declarou, numa tentativa de separar o judaísmo das ações do Estado israelense.
Reforço à denúncia do dia anterior
Na véspera, durante a conferência específica sobre a Palestina, Lula já havia afirmado que o conflito no Oriente Médio se tornou “o símbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo”. Reforçou a necessidade de reforçar controles sobre importações de produtos de assentamentos ilegais e manter suspensa a exportação de materiais bélicos para a região. Também sugeriu a criação de um comitê da ONU inspirado no antigo órgão contra o apartheid na África do Sul, com foco na Palestina.
Em breve mais informações