Desde 2021, o Brasil vive um ciclo de redução da pobreza e da desigualdade, impulsionado principalmente pelo aumento da renda do trabalho entre os 40% mais pobres da população. Esse grupo atingiu os maiores valores da série histórica, o que contribuiu para que 9,5 milhões de pessoas deixassem a situação de pobreza entre 2021 e 2024. Nesse período, a taxa de pobreza nas regiões metropolitanas caiu de 31,1% para 19,4%. Entenda mais em TVT News.
Apesar dos avanços, o país ainda figura entre os mais desiguais do mundo. Como resume André Salata, professor da PUCRS e coordenador do Boletim Desigualdade nas Metrópoles: “O filme é bom, mas a foto ainda é ruim”. O boletim é produzido em parceria pelo INCT Observatório das Metrópoles, PUCRS Data Social e RedODSAL.
O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, caiu de 0,565 em 2021 para 0,534 em 2024 — o menor nível da série histórica, superando o recorde anterior de 2015 (0,539). A diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres também diminuiu: em 2021, os 10% mais ricos ganhavam 19,2 vezes mais que os 40% mais pobres; em 2024, essa razão caiu para 15,5 vezes.
Segundo Marcelo Ribeiro, professor do IPPUR/UFRJ e também coordenador do boletim, o principal fator dessa melhora foi o aquecimento do mercado de trabalho e a valorização real do salário mínimo. Embora programas como o Bolsa Família tenham impacto, o crescimento da renda do trabalho foi decisivo.
Das 22 regiões metropolitanas analisadas, a maioria acompanhou essa tendência de queda na desigualdade, com exceção de Curitiba, Florianópolis, Grande São Luís e Vale do Rio Cuiabá. Para o pesquisador Juciano Rodrigues, também do IPPUR/UFRJ, o crescimento proporcionalmente maior da renda entre os mais pobres foi o principal motor dessa transformação.
A expectativa para 2025 é de continuidade do cenário positivo, embora em ritmo mais lento. O crescimento econômico pode contribuir para a redução da pobreza, enquanto a desigualdade tende à estabilização. A valorização do salário mínimo e o controle da inflação são fatores-chave, mas os juros elevados podem limitar a geração de empregos e aumentar a concentração de renda.

Os dados do boletim são baseados na PNAD Contínua anual do IBGE, com foco na renda domiciliar per capita nas 22 principais áreas metropolitanas do país. Os valores foram ajustados pela inflação de 2024, medida pelo IPCA. As linhas de pobreza e extrema pobreza seguem os parâmetros do Banco Mundial: US$6,85/dia PPC (cerca de R$695 mensais) e US$2,15/dia PPC (cerca de R$218 mensais), respectivamente.
Renda do trabalho puxa queda da pobreza, mas Brasil segue entre os mais desiguais
O índice de Gini de 0,534 em 2024 representa o menor nível já registrado, mas ainda está distante de países mais igualitários. Na comparação internacional, os países nórdicos apresentam índices próximos de 0,25, enquanto os Estados Unidos ficam em torno de 0,40.
O boletim também mostra que a renda dos 40% mais pobres cresceu significativamente, passando de R$474 em 2021 para R$670 em 2024. Esse avanço foi favorecido pela recuperação do mercado de trabalho e pelo controle da inflação, que permitiram aumento real dos rendimentos.
A renda média da população nas metrópoles também cresceu, atingindo R$2.475 em 2024 — o maior valor da série histórica pelo segundo ano consecutivo. Todas as regiões metropolitanas apresentaram crescimento da renda média entre 2021 e 2024.
A taxa de extrema pobreza caiu de forma expressiva, passando de 5,7 milhões de pessoas em 2021 para 2,8 milhões em 2024, o que representa uma taxa de 3,3%. A combinação entre aumento da renda e redução das desigualdades explica a queda acentuada da pobreza e da extrema pobreza nas regiões metropolitanas brasileiras.