Diante do aumento de casos de intoxicação por metanol relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou nesta semana um conjunto de medidas emergenciais para enfrentar a crise sanitária. Entenda na TVT News.
Entre as ações estão a instalação de uma Sala de Situação Nacional, o reforço no estoque de etanol farmacêutico, atualmente o principal antídoto disponível, e a mobilização internacional para a aquisição do fomepizol, considerado o tratamento de referência, mas ainda indisponível no Brasil.
“Quero reafirmar aqui o total alinhamento e sintonia do trabalho do Sistema Único de Saúde com os estados e municípios, da Anvisa com as vigilâncias estaduais, e o pleno funcionamento desse fluxo de informações”, afirmou Padilha durante a reunião da nova Sala de Situação.
A intoxicação por metanol, substância utilizada na indústria química e imprópria para consumo humano, provoca sintomas severos como tontura, visão borrada, dor abdominal, falência de órgãos, cegueira irreversível e pode levar à morte. O perigo se agrava pelo fato de o metanol ser incolor, inodoro e insípido, o que facilita sua mistura clandestina a bebidas alcoólicas sem que o consumidor perceba.
Casos de intoxicação por metanol
Até o momento, o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) recebeu 59 notificações de intoxicação por metanol: 53 em São Paulo (11 confirmadas), cinco em investigação em Pernambuco e uma no Distrito Federal. Um óbito foi confirmado e outros sete estão sob investigação.
Padilha recomendou que a população evite bebidas destiladas de procedência desconhecida e adote precauções. “Se beber, não dirija; mantenha-se alimentado e hidratado antes e durante o consumo; e, principalmente, certifique-se da origem da bebida”, alertou.
Antídito e tratamento emergencial
Atualmente, o tratamento disponível no país é feito com etanol grau farmacêutico, administrado de forma controlada. O Ministério da Saúde estruturou, em parceria com a Ebserh, um estoque de 4,3 mil ampolas em hospitais universitários federais e outros serviços do SUS, e iniciou a compra emergencial de mais 5 mil tratamentos (150 mil ampolas).
Paralelamente, a Anvisa publicou o Edital de Chamamento Internacional 17/2025, para identificar fornecedores do fomepizol, medicamento padrão-ouro no tratamento da intoxicação por metanol, que bloqueia a transformação da substância em metabólitos tóxicos. “Estamos mobilizando as 10 maiores agências reguladoras do mundo para que indiquem, em seus países, quais são os produtores do fomepizol”, destacou o ministro.
O Ministério da Saúde também pediu à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a doação imediata de 100 tratamentos de fomepizol e manifestou interesse na compra de 1.000 unidades adicionais por meio do Fundo Estratégico da entidade.
Monitoramento
A Sala de Situação, de caráter extraordinário, reúne representantes dos ministérios da Saúde, Justiça, Agricultura, Anvisa, conselhos de saúde e secretarias estaduais para análise e coordenação da resposta nacional. As reuniões ocorrerão às segundas, quartas e sextas, das 10h às 11h, enquanto persistirem o risco sanitário e a necessidade de monitoramento.
Três laboratórios foram mobilizados para reforçar a capacidade diagnóstica: o LACEN-DF, o Laboratório Municipal de São Paulo e o INCQS/Fiocruz. A Anvisa também identificou 604 farmácias de manipulação aptas a produzir etanol farmacêutico, ampliando a cobertura nas capitais estaduais.
Orientações
A orientação aos profissionais de saúde é registrar imediatamente os casos suspeitos, mesmo sem confirmação laboratorial. A medida já permitiu a ampliação das notificações e a identificação de novos focos. O ministro pediu que os profissionais consultem o Guia de Vigilância em Saúde e a nota técnica específica sobre intoxicação exógena por metanol, disponível no site da pasta.
A Anvisa mantém o canal 0800 642 9782 para esclarecer dúvidas, e o serviço Disque-Intoxicação (0800-722-6001) está disponível em caso de suspeita de ingestão da substância.
O Brasil conta atualmente com 32 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), responsáveis por apoiar o diagnóstico, tratamento e vigilância de casos de intoxicação.
A rápida resposta do governo visa conter um surto silencioso, mas potencialmente letal, causado pela adulteração criminosa de bebidas alcoólicas. Embora o número de casos confirmados ainda seja relativamente baixo, o Ministério da Saúde trata o tema como uma emergência nacional de precaução, dada a letalidade da substância e o histórico de tragédias semelhantes em outras partes do mundo.
