Os trabalhadores e trabalhadoras da Sabesp podem iniciar uma greve a partir da meia-noite de amanhã (7). A decisão foi aprovada em assembleia realizada na última terça-feira (30), convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema). A categoria encontra-se em estado de greve e promete intensificar a mobilização nos próximos dias, com nova assembleia marcada para hoje, a véspera da paralisação, às 18h. Entenda na TVT News.
A principal pauta de mobilização é o combate à atual gestão da empresa, considerada pelo sindicato como expressão direta da privatização em curso na companhia. Segundo o Sintaema, a condução da Sabesp tem promovido “desmonte, precarização e descaso” tanto com os trabalhadores quanto com a população usuária dos serviços.
Entre as denúncias levantadas pela entidade sindical, estão o aumento das tarifas, a piora na qualidade da água, a falta de investimentos em infraestrutura e proteção ambiental, além de situações graves dentro da empresa como assédio, insegurança e acidentes de trabalho. “Estamos diante de uma política de desmonte que pune tanto os trabalhadores quanto a população. O Sintaema não aceitará que a Sabesp seja reduzida a uma máquina de gerar lucros privados enquanto São Paulo sofre com tarifas criminosas, esgoto nos rios e falta de água nas torneiras”, afirma a direção do sindicato.
Impactos da greve na população
A depender da extensão e da adesão à greve, o funcionamento de estações de tratamento, distribuição de água e coleta de esgoto pode ser afetado. Isso significa que algumas regiões podem, eventualmente, enfrentar interrupções no fornecimento de água, redução da pressão nas torneiras ou atraso nos serviços de manutenção. Em áreas periféricas ou mais vulneráveis, onde o sistema já opera no limite, os efeitos podem ser sentidos mais rapidamente.
Contudo, há precedente de que os trabalhadores não interrompem totalmente os serviços. Em greves anteriores, que chegaram a ter adesão de 75% em 2023 (contra a privatização), houve uma força-tarefa para manter serviços em hospitais e escolas, por exemplo. Também ficou o alerta de que, em caso de eventos climáticos extremos, como temporais, o trabalho seria retomado. Além disso, a Justiça do Trabalho não deve autorizar uma paralização completa do setor por se tratar de serviço essencial, devendo manter o mínimo de funcionamento, sob penas pecuniárias.
Serviços
Serviços como atendimento ao consumidor, resposta a vazamentos, problemas de esgoto e manutenção de rede também podem sofrer atrasos. Se a greve for ampla, o número de funcionários disponíveis para emergências tende a diminuir. Isso significa que chamados e pedidos de reparo podem demorar mais a serem atendidos. A população deve ter paciência e estar atenta aos canais oficiais da Sabesp para atualizações e comunicados emergenciais.
Durante o período de paralisação, recomenda-se que os cidadãos façam uso consciente da água. Isso inclui reduzir banhos longos, reaproveitar água para limpeza, evitar o uso de mangueiras e manter caixas d’água bem fechadas e limpas. Pequenas atitudes ajudam a prolongar o tempo de reserva, especialmente em caso de interrupções inesperadas no abastecimento.
Mesmo com a greve, a Sabesp segue sendo responsável pela prestação do serviço. Caso o fornecimento seja interrompido por longos períodos sem aviso prévio, o consumidor pode registrar reclamação nos canais da própria empresa, no Procon ou na Arsesp (agência reguladora do setor). É importante documentar o problema, com fotos, anotações de horário e número de protocolo, para possíveis pedidos de abatimento na conta ou reparação de danos.
Importância da greve
É importante compreender que a greve não é contra a população, mas um instrumento legítimo de defesa dos trabalhadores e da qualidade do serviço público. Cidadãos também são afetados pelo sucateamento e pela lógica privatista. Apoiar a luta por um saneamento público e de qualidade, participar de debates e pressionar parlamentares contra a privatização da Sabesp são formas de agir coletivamente em defesa do direito à água e ao esgoto tratados como direitos humanos, não como produtos de mercado.
Conflitos na Sabesp
Um dos pontos centrais da mobilização é o plano de saúde da categoria, alvo recente de alterações propostas pela empresa. Em assembleia virtual no dia 30, os trabalhadores aprovaram o estado de greve diante da proposta de um novo modelo, que, segundo o sindicato, representa um grave retrocesso. As críticas incluem a violação da isonomia entre trabalhadores universitários e técnicos/operacionais, e a ausência de hospitais de referência, comprometendo o atendimento.
“Se não conseguirmos um plano digno, que mantenha a qualidade e a isonomia para os trabalhadores e trabalhadoras da Sabesp, vamos encaminhar as lutas que forem necessárias”, declarou José Faggian, presidente do Sintaema.
Para o sindicato, trata-se de um direito histórico sendo desmontado por interesses privados. “Enquanto corta benefícios dos trabalhadores e trabalhadoras, a direção da Sabesp privada mantém privilégios para o ‘alto clero’ da empresa, que segue com planos de saúde de alto padrão”, denuncia a entidade.
A situação se agrava com a revelação de que o atual CEO da Sabesp, Carlos Piani, é membro do conselho da HapVida – uma das maiores empresas do setor de planos de saúde do país. Para o Sintaema, trata-se de um claro conflito de interesses e de uma “postura nada republicana”, que coloca em xeque a lisura do processo.
“Filhos da resistência”
Durante a assembleia, José Faggian lembrou o contexto político mais amplo que, segundo ele, vem impondo retrocessos à classe trabalhadora desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016. “A classe trabalhadora amarga uma sequência de ataques: reforma trabalhista, lei da terceirização, reforma da previdência, desmonte do saneamento público, eleição de Bolsonaro e, agora, o governo privatista de Tarcísio de Freitas”, afirmou.
O impacto da gestão privatizada já é sentido dentro da empresa: mais de 4 mil trabalhadores foram desligados, muitos por meio de Programas de Demissão Voluntária (PDVs), que o sindicato considera serem, na prática, demissões disfarçadas. Há também denúncias de assédio e pressão contra os trabalhadores.
Além da mobilização nas ruas, o Sintaema informou que seu corpo jurídico estuda medidas judiciais para enfrentar as mudanças propostas pela empresa. Entre as possibilidades está o pedido de liminar para suspender o novo plano de saúde. No entanto, a direção do sindicato reforça que a mobilização direta da categoria é o principal instrumento de resistência.
“Este é um momento decisivo. Só com unidade e participação ativa da base vamos garantir um plano de saúde digno e derrotar os ataques da Sabesp privatizada”, afirmou a direção.
A semana que antecede o dia 7 promete ser de intensa mobilização. A expectativa da categoria é de que, até a próxima assembleia, haja avanços concretos nas negociações. Caso contrário, os trabalhadores e trabalhadoras da Sabesp prometem cruzar os braços e dar início a uma greve por tempo indeterminado.
Privatização da Sabesp
A privatização da Sabesp representa um dos capítulos mais notáveis da política de entrega do patrimônio público promovida pelo governador Tarcísio de Freitas, herdeiro direto do projeto bolsonarista de desmonte do Estado.
Ao entregar à iniciativa privada uma empresa estratégica, responsável pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto de milhões de paulistas, o governo ignora os alertas de especialistas e da sociedade civil sobre os riscos de subordinar um serviço essencial à lógica do lucro. A água, bem comum e direito humano fundamental, passa a ser tratada como mercadoria, sujeita às flutuações do mercado e aos interesses de acionistas, e não mais à necessidade da população.
O processo de privatização também tem sido marcado por falta de transparência e desprezo pelo debate público, evidenciando a pressa do governo em concretizar o negócio antes que resistências políticas e judiciais possam se consolidar. Tarcísio, que já demonstrou em outras áreas sua fidelidade ao receituário ultraliberal, aposta na narrativa da “eficiência privada”, apesar das evidências de que a concessão de serviços de saneamento costuma resultar em aumento de tarifas, piora na qualidade dos serviços e exclusão das camadas mais vulneráveis.