Maioria do União Brasil na Câmara quer manter Celso Sabino como ministro

Episódio revela enfraquecimento da cúpula do partido, que rompeu com o governo Lula no mês passado
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"Direção quer fazer oposição, mas a gente quer sobreviver em 2026", diz parlamentar do União Brasil. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O imbróglio envolvendo o ministro do Turismo, Celso Sabino, atingiu um novo patamar nesta semana, ao revelar de forma cristalina as divisões internas do União Brasil – cuja cúpula orienta o rompimento com o governo Lula, enquanto a bancada na Câmara, majoritária, resiste e deseja mantê-lo na Esplanada. Após entregar carta de demissão no fim de setembro, pressionado pela orientação partidária de abandonar cargos no Executivo, Sabino agora trava uma batalha para permanecer no Ministério do Turismo, contando com apoio expressivo dentro de seu próprio partido. Leia em TVT News.

O fator decisivo que reacendeu o embate foi o apoio expressivo da bancada do União Brasil na Câmara. Dos 59 deputados da sigla, 46 assinaram carta em defesa da permanência de Sabino no Turismo — o documento foi amplamente divulgado e repercutido pela imprensa como um divisor de águas.

A bancada, segundo relatos, deseja manter acesso ao ministério e evitar que suas prerrogativas e influência sejam perdidas com uma eventual saída do ministro. Deputados apontaram o cálculo eleitoral como determinante: “A direção nacional quer fazer oposição, mas a gente quer sobreviver em 2026. Lula tem força no Norte e Nordeste, e Sabino é do Pará. Estar com ele é um investimento político”, disse um congressista sob reserva

Com o respaldo da bancada, Sabino optou por recuar da demissão e reafirmar sua permanência no ministério, ignorando o ultimato da direção partidária. O gesto de resistência foi interpretado como símbolo de que ele não pretende se render às pressões — mesmo diante da abertura de processo disciplinar.

Esse apoio reforça que o partido está rachado: ao passo em que a cúpula (liderada por Antônio Rueda) e figuras como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, assumem uma linha de oposição ao governo, a base parlamentar sinaliza que quer permanecer com interlocução junto ao Planalto e manter o controle de bens simbólicos – como os cargos ministeriais.

“Ultimato” e carta de demissão de Celso Sabino

No dia 26 de setembro, Sabino comunicou que entregou sua carta de renúncia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em atendimento ao decreto partidário que exigia que filiados deixassem funções na Esplanada sob pena de infidelidade partidária. A orientação da Executiva do União Brasil, tomada pouco antes, determinava saídas imediatas dos cargos de ministros e outros indicados.

Mesmo assim, nas semanas seguintes, Sabino permaneceu no cargo e participou de agendas ao lado de Lula, como a vistoria de obras na COP30 em Belém. Em discursos públicos, o ministro repetiu que “nenhum partido, nenhum cargo, nenhuma ambição pessoal vai me afastar do povo do Pará” e fez questão de reafirmar seu compromisso com o presidente Lula.

A demora na efetiva saída foi interpretada por analistas como uma janela de negociação — uma forma de manter interlocução entre o União Brasil e o governo, mesmo em meio ao rompimento formal. Parte da estratégia seria manter algum grau de participação ministerial ou evitar que o episódio se torne totalmente excludente.

Para responder à insubordinação, o União Brasil abriu um processo disciplinar contra Sabino por “infidelidade partidária”, sob relatoria do deputado Fábio Schiochet (SC). Sabino teria até esta segunda-feira (6) para apresentar defesa prévia. O parecer deve ser encaminhado à reunião da Executiva Nacional marcada para quarta-feira (8), quando será deliberada a expulsão.

Se confirmada, a expulsão não acarretaria perda automática do mandato: pelo entendimento vigente, Sabino manteria o mandato de deputado federal, podendo se filiar a outro partido. Há ainda procedimento paralelo para destituir a Executiva do União no Pará, atualmente chefiada por Sabino.

Segundo Caiado, a reunião da Executiva também discutirá a reorganização da legenda no Pará, “para que seja comandada por quem realmente se posiciona contra o governo do PT”.

Para além das disputas internas, o destino partidário de Sabino também ganha protagonismo. De acordo com a colunista Clarissa Oliveira, da CNN Brasil, caso confirme sua expulsão, Sabino pode se filiar a uma sigla da base aliada do governo Lula. Esse movimento permitiria que ele mantivesse sua estrutura ministerial ou sua interlocução política, sem perder espaço. Ela chega a registrar que o governo “não descarta filiar Sabino em sigla aliada” se ele for expulso.

O episódio é revelador por alguns motivos. Primeiro, o apoio da bancada do União Brasil ao ministro sublinha o poder de barganha que detém o Planalto quanto ao controle de ministérios — ao manter Sabino, Lula garante uma ponte com parte do União, apesar do rompimento formal da sigla.

Em outra frente, a guinada da base partidária em direção ao governo reforça o argumento de que a dissidência da sigla em relação ao PT não é homogênea internamente. Ao mesmo tempo, o episódio deteriora o posicionamento de Rueda e Caiado como líderes capazes de impor disciplina: o isolamento da cúpula se intensifica se ela não consegue seguir sua estratégia de expulsão de uma figura capaz de resistir com apoio substancial dos deputados.

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