Não foi o Trump; Corina Machado ganha Prêmio Nobel da Paz

Líder da direita venezuelana vence Nobel da Paz de 2025; prêmio já foi criticado em outras edições, confira
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Um outdoor em Caracas diz que os líderes da oposição (da esquerda para a direita) Leopoldo Lopez, Maria Corina Machado e Juan Guaidó, são responsáveis pelas sanções impostas pelos EUA à Venezuela. Foto: FEDERICO PARRA / AFP

Mais um prêmio Nobel da Paz polêmico. A líder da oposição venezuelana, Maria Corina Machado, foi vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025. Em outras edições, Obama, que ganhou em 2009 logo após ser eleito e sem ter feito ação concreta pela paz é um dos prêmios questionados. Quem ficou chateado foi Trump, que torcia para ser o indicado desse ano, principalmente por conta da negociação entre Israel e Hamas. Leia em TVT News.

Opositora venezuelana María Corina Machado ganha Prêmio Nobel da Paz

Oslo, Noruega, com informações da Agência France Presse

A líder a direita venezuelana María Corina Machado recebeu nesta sexta-feira (10) o Prêmio Nobel da Paz, anunciou o Comitê Norueguês do Nobel, que destacou sua “incansável” defesa da democracia diante do governo de Nicolás Maduro.

Corina Machado, que já conquistou três importantes prêmios internacionais — o Nobel, o Sakharov e o Václav Havel — vive na clandestinidade desde a reeleição de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de julho de 2024.

Machado foi premiada “por seu incansável trabalho de promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”, anunciou o presidente do Comitê, Jørgen Watne Frydnes. “É um dos exemplos mais extraordinários da coragem civil na América Latina em tempos recentes”, destacou o presidente do Comitê.

Segundo ele, María Corina Machado, que vive na clandestinidade, se impôs como “uma figura fundamental unificadora em uma oposição política que antes esteve profundamente dividida” e que agora exige “eleições livres e um governo representativo”.

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Corina Machado integra a oposição venezuelana e convenceu o Comitê do Nobel que defende a transição democrática. Foto: FEDERICO PARRA / AFP

“Apesar de enfrentar sérias ameaças contra sua vida, ela permaneceu no país, uma escolha que tem inspirado milhões”, acrescentou o presidente do Comitê Norueguês do Nobel, que avaliou que a Venezuela “evoluiu de um país próspero e relativamente democrático para um Estado brutal e autoritário”.

No ano passado, o prêmio Nobel foi para o grupo antinuclear japonês Nihon Hidankyo, um movimento promovido por sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki.

O prêmio, que será entregue em 10 de dezembro em Oslo, consiste em uma medalha de ouro, um diploma e uma quantia de 1,2 milhão de dólares (6,42 milhões de reais).

Trump ficou chateado por não ter ganhado o Nobel da Paz

Como esperado pelos observadores, o prêmio escapou das mãos do presidente americano, Donald Trump, no mesmo dia em que a trégua entre Israel e o Hamas, acordada sob pressão do líder republicano, entrou em vigor em Gaza.

A Casa Branca criticou a notícia, afirmando que o Nobel privilegiou critérios políticos. “O presidente Trump continuará alcançando acordos de paz, acabando com guerras e salvando vidas”, escreveu no X o diretor de comunicação da Casa Branca, Steven Cheung.

“O Comitê do Nobel provou que coloca a política acima da paz”, disse o presidente Trump

O prêmio, que Trump reivindicou para si, coincide com uma operação militar dos Estados Unidos no Caribe, que o governo Maduro considera uma “ameaça”.Washington acusa o presidente venezuelano de estar por trás das redes de narcotráfico e afirma que sua operação obedece a um dispositivo antidrogas.

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Mesmo com ações militares no Caribe, repressão a migrantes, uso de força militar dentro dos EUA e declarações belicosas, Trump achava que merecia o Nobel da Paz. Foto: Agência Sputnik

Corina Machado, engenheira de 58 anos e mãe de três filhos, manifestou seu apoio a essa mobilização militar, que levou a vários ataques a embarcações na região que, segundo os Estados Unidos, transportavam drogas.

Repercussões

O presidente francês, Emmanuel Macron, parabenizou Machado pelo prêmio. Macron “saudou a coragem e o compromisso determinado com a democracia e a liberdade na Venezuela e expressou o reconhecimento da França por suas ações”, disse a Presidência francesa em um comunicado.

A opositora vive na clandestinidade desde as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, nas quais Maduro reivindicou a vitória. Nas últimas semanas, circulou nas redes sociais o rumor, alimentado também pelo ministro do Interior Diosdado Cabello, de que María Corina Machado estaria refugiada na embaixada dos Estados Unidos.

Seu paradeiro não pôde ser confirmado pela AFP nem por nenhuma autoridade venezuelana ou americana.

A oposição liderada por Machado reivindica a vitória nas eleições presidenciais de 2024, às quais concorreu com a candidatura de Edmundo González Urrutia.

O porta-voz da Comissão de Direitos Humanos da ONU, Thameen Al-Kheetan, disse que a decisão reflete “as claras aspirações do povo da Venezuela por eleições livres e justas, pelos direitos civis e políticos e pelo Estado de direito”. O Nobel é uma “mensagem poderosa” em favor da democracia, afirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.

Outro lado: Corina Machado apoia intervenção dos EUA

Maria Corina Machado apoiou derrubada de Chávez e bloqueio dos EUA contra Venezuela.

Com informações Rodrigo Durao Coelho, do Brasil de Fato

A atual líder da direita venezuelana, María Corina Machado venceu o Prêmio Nobel da Paz de 2025. O anúncio foi feito da manhã desta sexta-feira (10) e surpreendeu o mundo político da Venezuela e da América Latina. Isso porque a ex-deputada tem um longo currículo de apoio a golpes de Estado, sanções econômicas e até pedidos de intervenção armada contra o país.

Oriunda de família rica, Machado apoiou o golpe de Estado relâmpago que derrubou o então presidente Hugo Chávez por 48 horas em abril de 2002. Durante aqueles dois dias, ela foi uma das 300 pessoas que assinou o documento antidemocrático conhecido como Decreto Carmona, em referência ao empresário golpista que se autoproclamou presidente.

Em 2019, a oposição venezuelana liderada por Corina apoiou a autoproclamação de Juan Guaidó como “presidente interino” do país, seguindo a estratégia de “pressão máxima” do primeiro mandato do presidente dos EUA Donald Trump.

As sanções dos EUA contra a indústria petroleira visavam criar caos econômico e político para forçar a saída de Maduro. Maria Corina Machado apoiou Guaidó durante todo o “interinato” e passou a defender abertamente uma “intervenção militar estrangeira” na Venezuela.

Em 2010, Machado foi eleita como deputada pelo Estado de Miranda, mas não chegou a terminar o mandato pois foi cassada em 2014, após aceitar um cargo de embaixadora do Panamá na OEA (Organização dos Estados Americanos), violando o artigo 149 da Constituição venezuelana que impede funcionários públicos de aceitar cargos de governos estrangeiros sem a autorização do Parlamento. 

Em 2024, Machado tentou concretizar um sonho antigo: ser candidata à Presidência. Mesmo inelegível desde 2014, a ex-deputada forçou sua candidatura até o último momento possível, para então indicar Edmundo González Urrutia, um político desconhecido, como seu representante no pleito.

A chapa foi derrotada pelo atual presidente Nicolás Maduro, mas alegou fraude eleitoral e foi convocada pela Suprema Corte a apresentar provas em um processo que envolveu todos os candidatos à Presidência daquela eleição. No entanto, nem Machado e nem González compareceram ao tribunal durante o processo.

A opositora segue dando entrevistas pedindo a derrubada de Maduro e chegou a apoiar as recentes mobilizações de tropas estadunidenses no mar Caribe e os ataques a embarcações supostamente vinculadas ao narcotráfico que o governo Donald Trump vem realizando.

Corina Machado escreveu carta para Netaniahu pedindo apoio à intervenção militar na Venezuela

Prêmios Nobel da Paz contestados

Há prêmios Nobel da Paz polêmicos, principalmente por motivos de associação com conflitos, como no caso de Henry Kissinger e Le Duc Tho (Paz, 1973), devido ao envolvimento de Kissinger na Guerra do Vietnã e com várias ditaduras latino-americanas.

Confira alguns prêmios Nobel da Paz polêmicos

  • Henry Kissinger e Le Duc Tho (1973): ganharam por seus esforços em assinar os Acordos de Paz de Paris, mas a premiação foi controversa devido ao envolvimento de Kissinger na guerra, incluindo bombardeios contra o Vietnã, Laos e Camboja. Le Duc Tho recusou o prêmio, dizendo que a paz não foi alcançada.
  • Anwar Sadat (1978): a premiação de Sadat, junto com Menachem Begin, pelo acordo de paz entre Egito e Israel, foi polêmica porque ele havia participado de um golpe de estado em 1952. 
  • Barack Obama (2009): a escolha de Obama, que já era comandante-em-chefe de tropas em guerra no Iraque e Afeganistão, foi amplamente questionada também por ele ter sido premiado pouco tempo depois de assumir o cargo, sem ter feito, efetivamente, algo concreto pela paz. Obama teria ganhado pela repercussão da eleição.
  • Abiy Ahmed (2020): o primeiro-ministro etíope foi criticado por enviar tropas para a região de Tigray, gerando um conflito que deixou milhares de mortos, pouco mais de um ano após receber o prêmio por seus esforços de paz. 

Confira os dez últimos ganhadores do Nobel da Paz

Oslo, Noruega, via Agência France-Presse

– 2025: María Corina Machado (Venezuela)

O Comitê Norueguês do Nobel concedeu o prêmio nesta sexta-feira à líder da oposição venezuelana María Corina Machado.

– 2024: Nihon Hidankyo (Japão)

A Nihon Hidankyo, uma instituição que reúne sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki em 1945, ganhou o prêmio por “seus esforços para promover um mundo sem armas nucleares e por demonstrar, por meio de depoimentos, que armas nucleares nunca devem ser usadas novamente”.

– 2023: Narges Mohammadi (Irã)

A defensora iraniana dos direitos das mulheres Narges Mohammadi, presa no Irã, recebeu o prêmio “por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e por sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos”.

– 2022: Ales Bialiatski (Belarus), Memorial (Rússia) e o Centro pelas Liberdades Civis (Ucrânia)

O comitê premiou o ativista bielorrusso e essas duas organizações “por seus esforços impressionantes em documentar crimes de guerra, violações de direitos humanos e abusos de poder”.

– 2021: Maria Ressa (Filipinas/Estados Unidos) e Dmitri Muratov (Rússia)

Os jornalistas foram consagrados “por seus esforços para preservar a liberdade de expressão, que é uma condição prévia para a democracia e uma paz duradoura”.

– 2020: Programa Mundial de Alimentos (PMA)

A agência da ONU recebeu o Prêmio Nobel por “seus esforços no combate à fome, sua contribuição para melhorar as condições de paz em zonas de conflito e por promover esforços para evitar que a fome se torne uma arma de guerra”.

– 2019: Abiy Ahmed Ali (Etiópia)

Abiy Ahmed Ali, então primeiro-ministro etíope, pela reconciliação entre seu país e a Eritreia.

– 2018: Denis Mukwege (RD Congo) e Nadia Murad (Iraque)

O ginecologista Denis Mukwege (República Democrática do Congo) e yazidi Nadia Murad, por seus esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra.

– 2017: Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares (ICAN)

A ICAN foi reconhecida por sua luta para abolir armas nucleares em todo o mundo.

– 2016: Juan Manuel Santos (Colômbia)

O ex-presidente colombiano recebeu a mais alta condecoração por ter contribuído para acabar com meio século de guerra interna na Colômbia.

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