Emprego formal e ganhos reais crescem no comércio, afirma Dieese

Boletim do Dieese mostra expansão do setor do comércio e avanço das negociações coletivas, mas alerta para desigualdades
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Os dados constam do Boletim Especial do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado nesta sexta-feira (10), com foco nos trabalhadores do comércio Foto: Valter Campanato/ABR

O comércio brasileiro vive um ciclo de expansão, com mais empregos formais, reajustes salariais acima da inflação e crescimento nas receitas. No entanto, as melhorias recentes ainda não foram suficientes para superar desafios históricos do setor, como a alta informalidade, os baixos salários, as longas jornadas e a desigualdade de gênero. Entenda na TVT News.

Os dados constam do Boletim Especial do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado nesta sexta-feira (10), com foco nos trabalhadores do comércio e voltado a subsidiar negociações coletivas da categoria.

Comércio cresce e emprega quase 20 milhões

Segundo o estudo, o comércio se consolidou como um dos principais empregadores do país, reunindo 19,5 milhões de trabalhadores em 2024, de acordo com a Pnad Contínua (IBGE). Desses, 10,6 milhões estão em empregos formais, conforme a Rais (Ministério do Trabalho e Emprego). Entre 2022 e 2024, houve crescimento de 5,1% nos vínculos formais, o equivalente a 514 mil novos postos de trabalho.

O avanço foi puxado pelos grandes estabelecimentos, embora micro e pequenos negócios continuem a concentrar a maioria das ocupações. Regionalmente, o Sudeste responde por metade dos empregos, mas o Norte e o Nordeste foram as regiões que mais ampliaram o número de trabalhadores formais no período.

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Salários sobem, desigualdades persistem

A remuneração média real dos empregados do comércio foi de R$ 2.692,50 em 2024. Apesar da recuperação recente, alta de 4,2% entre 2022 e 2024, ainda há perda real acumulada de 4,3% desde 2017.

As desigualdades salariais seguem expressivas: as mulheres ganham 13,1% menos que os homens. O varejo, que concentra 69% da força de trabalho, também registra as menores remunerações médias em comparação com o atacado e o comércio de veículos.

A escolaridade da categoria cresceu: 70,5% dos comerciários têm ensino médio completo e 1,27 milhão possui ensino superior. O perfil etário também se transformou, caiu a presença de jovens até 29 anos (39,5%) e aumentou a de trabalhadores acima dos 40.

Jornadas longas

A pesquisa mostra que o comércio é um setor de jornadas extensas: 91% dos empregados trabalham 40 horas semanais ou mais, e 85% cumprem 44 horas exatas. Em funções de maior responsabilidade, como gerentes de lojas e supermercados, a média ultrapassa 48 horas semanais. O Dieese destaca a importância de retomar o debate sobre redução da jornada sem redução salarial, em nome da saúde e da qualidade de vida dos trabalhadores.

Negociações coletivas

Após um período de estagnação entre 2019 e 2022, quando os reajustes apenas acompanharam a inflação, as negociações coletivas do setor vêm se fortalecendo. Em 2024, 88,3% dos acordos resultaram em ganhos reais, e entre janeiro e agosto de 2025, o percentual foi de 81,7%.

O ganho real médio foi de 0,87% em 2024, o melhor resultado recente, e 0,73% em 2025, ainda positivo. Segundo o DIEESE, esse avanço reflete um ambiente de inflação controlada, baixo desemprego e políticas sociais e de crédito voltadas às famílias de menor renda.

Setor mais dinâmico, mas desigual

A receita nominal do comércio cresceu 82,4% entre 2017 e 2024, superando a inflação acumulada de 48,7%. O desempenho foi impulsionado por segmentos como farmacêutico, veículos e material de construção. Nos primeiros sete meses de 2025, o setor avançou 7,4% em termos nominais, sustentado por supermercados, combustíveis, farmácias e vestuário.

O crescimento, porém, foi desigual: Norte e Nordeste se destacaram, enquanto Sudeste e Sul tiveram avanço mais modesto. Goiás foi o único estado com retração (-0,5%).

Apesar da política monetária ainda restritiva, a queda da inflação e do câmbio abre espaço para redução da taxa básica de juros, o que pode estimular o consumo e gerar um novo ciclo de expansão.

A expectativa é de que medidas recentes, como programas sociais e de crédito (Gás para Todos, Luz do Povo e Crédito do Trabalhador) e a reforma do Imposto de Renda, a entrar em vigor em janeiro de 2026, também reforcem o poder de compra.

A isenção para rendas de até R$ 5 mil e a redução de alíquota para salários de até R$ 7.350 devem injetar cerca de R$ 27 bilhões anuais na economia, segundo estimativas oficiais. O efeito esperado é de aumento da renda disponível e do consumo das famílias, fatores diretamente ligados ao desempenho do comércio.

Os dados do Boletim Dieese

  • Emprego total no comércio (2024): 19,5 milhões
  • Empregos formais: 10,6 milhões (+5,1% desde 2022)
  • Remuneração média: R$ 2.692,50
  • Diferença salarial entre homens e mulheres: -13,1%
  • Trabalhadores com ensino médio completo: 70,5%
  • Trabalhadores com ensino superior: 1,27 milhão
  • Jornada média: 44 horas semanais (85% dos empregados)
  • Acordos com ganhos reais: 88,3% (2024) e 81,7% (2025)
  • Crescimento real médio dos salários: +0,87% (2024) e +0,73% (2025)
  • Crescimento nominal da receita (2017–2024): +82,4%
  • Inflação acumulada no período: +48,7%
  • Setores em destaque: farmacêutico, veículos e material de construção
  • Previsão de estímulo adicional ao consumo em 2026: R$ 27 bilhões com a nova tabela do IR

Em resumo, o comércio brasileiro avança em geração de emprego e recuperação salarial, mas ainda enfrenta um tripé estrutural de precariedade: alta informalidade, desigualdade de gênero e longas jornadas. O DIEESE defende que o fortalecimento da negociação coletiva e a valorização do trabalho decente serão fundamentais para transformar o crescimento em progresso social.

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