Mulheres brasileiras preferem democracia e candidaturas femininas, negras e indígenas

Pesquisa revela que mulheres brasileiras preferem democracia e candidaturas femininas, negras e indígenas. Entenda na TVT News
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Confira a nova edição da pesquisa nacional “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”. Foto: Tania Rego/ABr

As mulheres brasileiras seguem firmes na defesa da democracia, da diversidade e da igualdade de gênero. É o que mostra a nova edição da pesquisa nacional “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, divulgada pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Sesc São Paulo. O levantamento revela que 59% das mulheres consideram a democracia a melhor forma de governo, contra apenas 4% que dizem preferir um regime ditatorial. Entenda na TVT News.

Além disso, 89% das mulheres afirmam ter preferência por candidaturas femininas — um dado que também aparece em primeiro lugar para 72% dos homens entrevistados. As mulheres indicam ainda maior inclinação para votar em pessoas negras (78%) e indígenas (68%). No público masculino, as proporções são de 71% e 62%, respectivamente. Outro recorte relevante mostra que 66% das mulheres votariam em candidatos que defendem a demarcação de terras indígenas e outras pautas voltadas a esses povos.

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Resultados sobre cultura política e participação de mulheres no cenário nacional. Foto: FPA

Em relação à religião, 71% das entrevistadas se declaram contrárias à sua influência nas decisões políticas, reafirmando a defesa da laicidade do Estado. Ainda assim, 64% reconhecem que existe discriminação contra a participação feminina na política, percepção também compartilhada por 55% dos homens.

Para a cientista social Sofia Toledo, pesquisadora do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (NOPPE) da Fundação Perseu Abramo e mestre em Sociologia pela USP, o cenário é resultado de “estereótipos de gênero enraizados, sustentados pelo patriarcado e pela produção da misoginia”. Segundo ela, “os homens ainda tendem a considerar que as mulheres têm menos capacidade administrativa, são menos inteligentes e representam uma ameaça ao espaço masculino de poder”.

Toledo também chama atenção para o agravamento das desigualdades sociais e o empobrecimento das mulheres na última década. Apesar do avanço no nível de escolaridade, os salários e oportunidades de trabalho não acompanharam esse crescimento. “O empobrecimento atinge sobretudo as mulheres negras – 59% têm renda familiar de até dois salários mínimos – e aquelas que vivem na região Nordeste, que representam 64% da amostra”, destaca. Segundo a pesquisadora, o número de mulheres dependentes de programas sociais cresceu 50%, com predominância entre negras e nordestinas.

A pesquisa, realizada ao longo de 2023, é a terceira edição do estudo — as anteriores ocorreram em 2001 e 2010 — e contou com duas fases: uma qualitativa, com 65 mulheres cis e trans, e outra quantitativa, com 2.440 mulheres e 1.221 homens entrevistados em áreas urbanas e rurais de todas as regiões do país. O estudo analisou seis eixos temáticos: cultura política e participação; imagem da mulher; corpo, sexualidade e saúde; violência contra as mulheres; proteção social e política de cuidados; e trabalho remunerado e não remunerado.

Pesquisa mulheres e política

  • Democracia: 59% das mulheres preferem a democracia; apenas 4% aceitariam um regime ditatorial.
  • Voto e representatividade: 89% preferem candidaturas femininas; 78% valorizam candidatas negras e 68% indígenas.
  • Laicidade: 71% das mulheres rejeitam a influência da religião na política.
  • Desigualdade e empobrecimento: 59% das mulheres negras têm renda familiar de até dois salários mínimos; 16% das mulheres não têm renda alguma.
  • Trabalho e renda: Renda média feminina é 40% inferior à masculina; apenas 2% das mulheres alcançam rendimentos acima de cinco salários mínimos.
  • Violência: 50% das mulheres afirmam ter sofrido algum tipo de violência; a física é a mais citada, mas a psicológica (43%) e a moral (37%) são as mais vivenciadas.
  • Saúde e maternidade: 75% das gestantes são acompanhadas pelo SUS; 71% das que interromperam a gravidez não receberam orientação médica.
  • Cuidados e afazeres: 93% dos domicílios têm uma mulher como principal responsável pelos trabalhos domésticos; 66% delas cuidam das crianças quando não estão na escola.
  • Percepção social: Cresceu a sensação de que ser mulher piorou na última década; uma em cada quatro mulheres considera haver mais aspectos negativos do que positivos.
  • Feminismo: A percepção sobre o feminismo como luta por direitos aumentou, embora tenha diminuído o número de mulheres que se declaram feministas.

A íntegra da pesquisa está disponível no site da Fundação Perseu Abramo:

O levantamento confirma um retrato consistente da sociedade brasileira: as mulheres são maioria no eleitorado, mais escolarizadas e politicamente conscientes, mas ainda enfrentam barreiras estruturais de gênero, raça e classe que limitam sua plena participação na vida pública.

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