Lula sobre reunião com Trump: “Logo, logo não haverá problema entre EUA e Brasil”

Reunião deve trazer resultados positivos em relação as tarifas e Bolsonaro não é mais pedra no sapato entre os dois países
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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Encontro com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático - ASEAN em Kuala Lampur, Malásia. Fotos: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (27) que está otimista em relação à suspensão das tarifas impostas ao Brasil pelos Estados Unidos e que, em poucos dias, os países deverão chegar a um acordo. Saiba mais na TVT News.

“Tive ontem na reunião [com o presidente Donald Trump] uma boa impressão de que logo, logo não haverá problema entre Estados Unidos e Brasil”, afirmou Lula, em coletiva de imprensa em Kuala Lumpur, na Malásia, às 11h de segunda-feira (27), no horário local (à meia noite no Brasil).

“Estou convencido de que, em poucos dias, teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil para que a vida siga boa e alegre do jeito que dizia o Gonzaguinha na sua música”, acrescentou.

No encontro, Lula disse que reforçou o argumento de que os Estados Unidos registram superávit no comércio com o Brasil, não havendo necessidade de taxação dos produtos brasileiros. Lula afirmou ter entregado um documento com os temas que pretende abordar nas negociações.

“Eu não estou reivindicando nada que não seja justo para o Brasil e tenho do meu lado a verdade mais verdadeira e absoluta do mundo, os Estados Unidos não têm déficit com o Brasil, que foi a explicação da famosa taxação ao mundo, que os Estados Unidos só iam taxar os países com quem eles tinham déficit comercial”, disse.

Perguntado por jornalistas se Trump fez alguma promessa ao Brasil, Lula brincou dizendo que não é santo para receber promessas. 

“Para mim, o que ele tem que fazer é compromisso. E o compromisso que ele fez é que ele pretende fazer um acordo de muito boa qualidade com o Brasil”. Para complementar, Lula também falou: “logo, logo não haverá problema entre Estados Unidos e Brasil. O que interessa numa mesa de negociação é o futuro, é o que você vai negociar para frente. A gente não quer confusão, a gente quer negociação. A gente não quer demora, quer resultado”.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que também participou da coletiva, nas próximas semanas, ocorrerão reuniões das equipes dos dois países para a construção de um acordo.

“Concordamos em trabalhar para construir um acordo satisfatório para ambas as partes. Nas próximas semanas, acordamos um cronograma de reuniões entre as equipes negociadores para tratar das negociações de ambos os países com foco nos setores mais afetados pelas tarifas”, afirmou.

O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, disse que as discussões com os Estados Unidos estão “avançando espetacularmente bem”.

“O Brasil  solicita que haja reversão da decisão política tomada [relativa à taxação]. Os aspectos políticos que poderiam existir já não estão mais, não está mais na mesa aquilo que nunca poderia ter estado mesmo. Graças a essa posição, nós hoje fazemos uma discussão de um acordo comercial e não com outras naturezas que não sejam comerciais”, destacou Rosa. 

Bolsonaro

O presidente Donald Trump foi questionado qual a relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por golpe de Estado. A resposta foi a repetição de mesmos discursos anteriores: “sempre gostei dele, me sinto mal. Ele está passando por momentos ruins”.

Na sequência, outro jornalismo questinou se o julgamento seria pauta da reunião bilateral, visto que no anúncio do tarifaço, Trump alegou falsamente que Bolsonaroe staria sendo perseguido. O presidente estadunidense respondeu que “não é da sua conta”.

Mais tarde, Lula também foi perguntado. O brasileiro abriu mais o jogo:

“Eu disse para ele que o julgamento foi um julgamento muito sério, com provas muito contundentes, nenhuma prova da oposição; a prova é toda de relato das pessoas que estão sendo julgadas”.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República tem mais de 270 páginas elencando provas, já durante o julgamento a defesa dos réus apresentou inúmeros vezes que o volume de material coletado pela Polícia Federal era extremamente alto.

Lula seguiu explicando para Trump sobre o plano de assassinato Punhal Verde e Amarelo: “disse para ele da gravidade do que eles tentaram fazer no Brasil. Disse a eles que eles tinham um plano para matar a mim, para matar meu vice-presidente, para matar o presidente Alexandre de Moraes. E eles foram julgados com um direito de defesa que eu não tive quando fui processado e que, portanto, isso não está em discussão”.

Mais importante do que entender o que foi feito por Bolsonaro, Trump tem um objetivo político: garantir influência e benefícios para os Estados Unidos, por isso Lula afirmou:

“E ele [Trump] sabe que rei morto, rei posto — ele sabe. O Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira. E eu ainda disse para ele que, em três reuniões que você fizer comigo, você vai perceber que o Bolsonaro não era nada, praticamente.”

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil

Venezuela e COP

Na reunião com Trump, o presidente também se colocou à disposição para ajudar nas negociações com a Venezuela.

“Isso ficou muito claro, se precisar que o Brasil ajude, estamos à disposição, estamos à disposição para negociar”, disse.

“O Brasil não tem interesse que haja uma guerra na América do Sul. A nossa guerra é contra a pobreza e a fome. Se a gente não conseguir resolver o problema da fome e da miséria, como a gente vai fazer guerra? Para matar os famintos? Não dá para achar que tudo é resolvido à base da bala, que não é”, complementou.

Lula disse ainda que reforçou o convite para que Trump participe da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em novembro, em Belém. O presidente norte-americano anunciou a saída do país do Acordo de Paris, no qual os países se comprometem a reduzir as emissões de gases poluentes entre outras medidas para reduzir o aquecimento global.

“Convidei ele para ir a COP outra vez, disse para ele: ‘É importante que você vá para dizer o que você pensa. Se você não acredita nas coisas, vai lá para você poder dizer o que você pensa’. Não pode a gente fingir que não tem uma situação climática”, disse.

Outros mercados

Na coletiva, a equipe brasileira também ressaltou a importância das visitas à Indonésia e à Malásia, países com os quais o Brasil pretende expandir as relações.

“O Sudeste Asiático é o epicentro do crescimento global, zona dinâmica e polo de inovação tecnológica que está no centro das prioridades da política externa brasileira de diversificação de parcerias e atração de investimentos”, afirmou o ministro Mauro Vieira.

O presidente Lula também disse aos jornalistas que a Malásia terá apoio do Brasil para se tornar membro pleno do Brics. Atualmente, o país é um dos parceiros do grupo.

Lula completa 80 anos neste dia 27 de outubro. Ele começou a coletiva dizendo que está no melhor momento da minha vida. “Eu nunca me senti tão vivo e com tanta vontade de viver.”

Com texto de Mariana Tokarnia, repórter da Agência Brasil

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