Em entrevista ao Jornal TVT News Primeira Edição nesta quarta-feira (29), a vereadora Monica Benício (Psol-RJ) denunciou com veemência o que descreve como “massacre” promovido pelas forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro nos complexos da Penha e do Alemão, sob comando do governador Cláudio Castro (PL-SP). Segundo ela, a operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, que até agora contabiliza oficialmente 64 mortos no Estado — é a mais letal da história fluminense, e deve ultrapassar mais de 120 vítimas. Leia em TVT News.
Monica classificou o cenário como “o corpo preto, jovem, favelado no chão” — uma fotografia recorrente da violência policial — e afirmou ser inadmissível que a sociedade assista “ao vivo” a tamanho número de mortos sem que haja resposta efetiva por parte do Estado. Em suas palavras:
“O retrato é o mesmo, né? É o corpo preto, é o corpo jovem, é o corpo favelado no chão, numa sociedade que hoje banaliza esse tipo de violência.”
Repercussão política e crítica ao governo estadual
Para a parlamentar, o governador Cláudio Castro é “absolutamente inábil” e “não tem condições hábeis, intelectuais, cognitivas de exercer o cargo que tem”. No momento mais incisivo da entrevista, ela foi além: “Se eu fosse o governador… o que ele deveria fazer hoje é renunciar o cargo dele.”
A fala coloca o chefe do executivo estadual no alvo de uma crise política de legitimidade, numa conjuntura já marcada por operações policiais que deixaram corpos em comunidades sob domínio de facções, como as ocorridas em 2021 no Jacarezinho e 2022 na Vila Cruzeiro — ambas também sob a gestão de Castro.
Monica apontou que esta última operação, para além da violência imediata, expõe a falência de uma política de segurança pública. Ela questionou o Congresso Nacional por ser “profundamente conivente com a corrupção, com a expansão da milícia, com a expansão das facções criminosas e os financiando”.
“Hoje a gente não vai conseguir falar de segurança pública sem a relação do parlamento, das facções criminosas, da milícia, das polícias, trabalhando e integrando.”
Famílias, corpos sem nome e o peso do silêncio
A operação nos complexos da Penha e do Alemão, mobilizando cerca de 2.500 policiais, é “a maior em 15 anos” e resultou até o momento em 64 mortos. Para a vereadora, porém, esse número oficial não captura a gravidade: ela relata que moradores encontraram “cerca de 60 corpos” na Praça São Lucas, que supostamente não constam da contabilidade oficial — um indício, segundo ela, de que a contagem oficial não abrange toda a realidade.
Ela também lembrou que cada corpo representa uma vida, afetos, famílias dilaceradas, e chamou atenção para a invisibilidade do “corpo preto” nessa contabilidade oficial.
“Quando a gente tá falando de vida, para mim não pode ser só quantificado dessa forma.”
A parlamentar exigiu que o Congresso envie uma comissão ao Estado para acompanhar as investigações, a identificação dos corpos e as condições em que morreram — “a única forma que a gente tem de fazer um mínimo de justiça para eles”.
Falência institucional e necessidade de nova política de segurança
Monica insistiu que essa política de segurança, marcada por confrontos de alta letalidade, não surte efeito real. Ao contrário: ela legitima a próxima tragédia.
“Quando tem inteligência nas operações … o que a gente vê é que não precisa fazer um único disparo, não precisa se perder uma única vítima… hoje no Rio de Janeiro é um clima de horror.”
Ela vinculou o problema ao financiamento das facções, à infiltração de milícias no Estado e à conivência da política institucional, transformando o controle territorial em poder político, voto e autoridade local.
No plano federal, embora reconheça que o envolvimento da Polícia Federal já foi necessário em casos como o da Marielle Franco, Monica avaliou que o governo federal também falha ao não assumir com clareza o protagonismo na segurança pública do Rio. “Mas esse não é um problema que começou neste governo, nem no governo anterior.”
Contexto eleitoral e cenário de agravamento da violência
Ao mirar o futuro eleitoral, Monica fez uma advertência: a cidade do Rio e o estado do Rio de Janeiro “precisam parar de banalizar a violência dentro dos territórios favelados”. Ela apontou que a mesma dinâmica de operações massivas, mortes ocultas, resposta tardia, se repete e, ano após ano, torna-se rítmica — sobretudo em períodos eleitorais. A base eleitoral do governo, inclusive no partido Partido Liberal (PL) a que pertence Castro, está envolvida em debates que misturam discurso de “bandido bom é bandido morto” e anunciados resultados ostensivos de segurança pública.
Monica concluiu que a operação “ganha título de pior governador da história do estado do Rio de Janeiro” para Cláudio Castro — e que, se ele tivesse o mínimo de responsabilidade, deveria entregar o cargo hoje mesmo.
“É inadmissível o que o governo Cláudio Castro fez na história dessa cidade hoje, enquanto cicatriz, enquanto memória de território, é algo estarrecedor.”
