O governo federal publicou, nesta quarta-feira (29), um vídeo em suas redes sociais em que critica a Operação Contenção — realizada nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro — e defende a aprovação da PEC da Segurança Pública como a maneira mais efetiva de combater o crime organizado. A mensagem faz um contraponto direto à escalada de violência policial no estado e propõe uma estratégia nacional baseada em integração e inteligência. Leia em TVT News.
“Operações como essas também colocam policiais, crianças e famílias inocentes em risco. E matar 120 pessoas não adianta nada no combate ao crime”, afirma a peça, que foi compartilhada nos perfis oficiais do governo. O vídeo lembra que, mesmo se todas as vítimas fossem criminosos, o resultado seria inócuo, já que “amanhã tem outros 120 fazendo o trabalho”. A mensagem reforça a necessidade de uma resposta coordenada entre as forças de segurança estaduais e federais.
Crítica à lógica da violência
A publicação foi divulgada após a Operação Contenção, considerada a mais letal do Rio de Janeiro em 15 anos, segundo levantamento da TVT News. A ação, que mobilizou mais de 1.000 agentes das polícias Civil e Militar, deixou um rastro de mais de 130 mortos nas comunidades da Penha e do Alemão. Moradores relataram cenas de terror e denunciaram execuções sumárias, corpos abandonados na mata e impedimento de socorro a feridos.
O governador Cláudio Castro (PL) chegou a classificar a operação como um “sucesso”, o que gerou indignação de organizações de direitos humanos, entidades civis e parlamentares. Em editorial recente, a TVT News lembrou que o resultado não pode ser medido pelo número de mortos, e que “o Estado do Rio coleciona chacinas sem resolver o problema do crime organizado”.
No vídeo divulgado pelo governo, a narrativa da “guerra ao crime” é substituída pela ideia de que o enfrentamento deve ocorrer nas estruturas econômicas e logísticas das organizações criminosas. “Para combater o crime, precisa mirar na cabeça, mas não de pessoas. Tem que atacar o cérebro e o coração dos grupos criminosos”, afirma a locução. O material cita como exemplo uma operação de agosto, em que a Polícia Federal desmantelou um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao tráfico de drogas e ao sistema financeiro.
“Mais inteligência e menos sangue”
O vídeo defende que o combate efetivo ao crime passa por planejamento e integração entre os órgãos de segurança. “Se o crime é organizado, a resposta também tem que ser. E se o crime é nacional, espalhado pelo país, a gente só vai vencer essa guerra com as polícias do Brasil inteiro atuando juntas.”
É nesse contexto que o governo reforça o envio ao Congresso Nacional da PEC da Segurança Pública, que propõe a inclusão do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) na Constituição Federal e a criação do Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, com representantes da União, estados e municípios.
A proposta também atualiza as atribuições da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e constitucionaliza o Fundo Nacional de Segurança Pública e o Fundo Penitenciário Nacional, garantindo recursos permanentes para políticas de segurança e ressocialização.
Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a PEC não é um projeto fechado, mas um “ponto de partida” para abrir um diálogo nacional sobre o tema. “O crime organizado deixou de ser praticado pelo bandido comum para se tornar uma poderosa organização. Essa situação exige uma resposta integrada e coordenada em nível nacional”, afirmou Lula durante a apresentação da proposta.
Padronização e pacto federativo
Hoje, cada estado brasileiro possui sistemas próprios de antecedentes criminais, boletins de ocorrência e mandados de prisão, o que, segundo o governo, fragmenta informações e dificulta o trabalho das polícias. A PEC propõe unificar protocolos, cadastros e estatísticas para garantir que dados estratégicos circulem entre as forças de segurança de forma eficiente.
Ao defender o projeto, o governo contrapõe a ideia de enfrentamento armado com uma política de Estado baseada em cooperação federativa. “Combate ao crime, para funcionar, precisa de mais inteligência e menos sangue”, conclui o vídeo.
Enquanto o governo propõe uma mudança estrutural na forma de enfrentar o crime, o Rio de Janeiro segue contabilizando corpos após a Operação Contenção. Para os moradores das comunidades atingidas, a promessa de um novo modelo de segurança pública — centrado em inteligência, prevenção e respeito à vida — é mais urgente do que nunca.
 
				
 
											