O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou nesta segunda-feira (3) a Comunidade Quilombola Itacoã-Miri, no município de Acará (PA), lar de 544 pessoas (96 famílias), segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O local fica a 120 km de Belém, cidade sede da 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será palco do primeiro dos grandes eventos nesta semana: a Cúpula de Chefes de Estado (6 e 7 de novembro). Leia em TVT News.
A agenda é parte de uma série de visitas feitas pelo presidente às comunidades paraenses, em alinhamento com a escolha de um estado amazônico para sediar a COP30, uma oportunidade para que lideranças de outros países que historicamente defendem a preservação da Amazônia conheçam de perto o bioma e a realidade dos povos que lá vivem.
Guiada por esta máxima, a visita do presidente, acompanhado pela ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) e pelo ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), incluiu diálogo com os quilombolas, semelhante ao que ocorreu no domingo (2), quando Lula e ministras visitaram a Comunidade Jamaraquá, uma das 26 comunidades da Floresta Nacional do Tapajós, e a Aldeia Vista Alegre do Capixauã, onde escutaram reivindicações e anunciaram ampliação de acesso a programas federais.
De acordo com Lula, não basta as nações defenderem a manutenção das florestas em pé sem que haja, simultaneamente, aporte e financiamento para garantir sustentação econômica àqueles que protegem o ecossistema diariamente. “O mundo inteiro fala da Amazônia como se ela fosse do mundo, mas a Amazônia é um território brasileiro, a maior reserva florestal do mundo e envolve mais oito países da América do Sul que têm também parte no território amazônico. Esse conjunto representa a maior concentração de floresta em pé do planeta Terra”, lembrou.
“Todo mundo fala que é importante manter a floresta em pé porque permite que a gente possa combater a emissão de gases de efeito estufa, mas como podemos manter a floresta em pé? Com algumas atitudes de financiar as pessoas para que ganhem dinheiro por morar na floresta. Devemos fazer com que o mundo conheça a Amazônia e venha colocar os pés aqui no Pará, para conhecer os nossos rios, nossa fauna e tudo o que a gente tem, sobretudo conhecer o ser humano brasileiro e paraense, e a culinária do Pará que é a mais poderosa deste país”, defendeu Lula em conversa com a comunidade quilombola.
AMPLIAR ALCANCE — Ainda durante a conversa, o presidente firmou o compromisso de ampliar e formular medidas para atender as demandas dos quilombolas, como oferta de políticas de crédito e assistência técnica. “Vai melhorar, sobretudo, a política de crédito, de assistência técnica, de ajuda à mecanização. É assim que a gente melhora as coisas, porque o nosso sonho é ficar em paz com a família da gente trabalhando, vivendo do salário, comendo, educando os filhos, tendo boa saúde, boa escola, prazer pela vida, porque é isso que merecemos neste país”, ressaltou.
A Comunidade Quilombola Itacoã-Miri foi titulada em 2003, uma das primeiras no Pará, além de ter sido reconhecida como território quilombola em 23 de setembro de 2014 pela Fundação Palmares. A titulação representou marco para o fortalecimento da organização comunitária, com avanços em áreas como educação, saúde, infraestrutura e cultura. “A partir da titulação começamos a acessar projetos. Hoje a gente tem Minha Casa, Minha Vida, Cheque Moradia, tem acesso à universidade, Luz para Todos”, listou o líder quilombola Zeca Alves.
O presidente da Associação do Quilombo de Itacoã-Miri, Marcos Silva, relatou que a comunidade tem atravessado transformações ao longo do tempo. “Eu já sou de uma geração mais recente, mas nossos antepassados sofreram muito aqui para que essa comunidade hoje pudesse existir”, disse.
HERANÇA DE SABERES — Lula conversou com jovens da região e apontou a relevância da transferência de conhecimentos tradicionais entre diferentes gerações. “É importante que a juventude veja o que vocês vivem hoje. Não é de graça que essas pessoas que estão aqui, esses senhores e senhoras, um pouco mais idosos que vocês, dedicaram grande parte da vida para que pudessem ter o conforto que tem aqui. Quando cheguei na casa do Zeca, comi o bolo de macaxeira que era vendido para educar a filha. Ver todas as filhas dele formadas pela Lei de Cotas me enche de orgulho”, disse o presidente.
“Vocês não sabem o prazer que tenho em saber que estamos fazendo com que as filhas e os filhos do povo mais humilde possam virar doutores, médicos, engenheiros, assistentes sociais, sociólogos, o que quiserem virar. Nada é mais poderoso do que conhecer e ver a cara do povo do meu país, um povo resiliente que luta incansavelmente de manhã, de tarde e de noite”, finalizou Lula.
Entre os equipamentos e serviços disponíveis na comunidade, constam uma escola quilombola que atende até o 5º ano do ensino fundamental, um posto de saúde com atendimento realizado por enfermeira quilombola e visitas regulares de um médico não quilombola, além da sede da associação comunitária, que funciona como espaço de mobilização e gestão local.
Além desses instrumentos, a infraestrutura inclui centro cultural com projeto de energia sustentável, alojamento para visitantes e redário que apoia o turismo de base comunitária. A comunidade é beneficiada pelo Minha Casa, Minha Vida Rural, com construção de moradias dignas para as famílias quilombolas.
SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA — Itacoã-Miri é exemplo de resistência, organização e valorização da cultura afro-brasileira, com destaque para projetos como:
Flores do Quilombo: mulheres produzem e comercializam biojoias com materiais da floresta. Reforça o empreendedorismo feminino, identidade e sustentabilidade
Dança do Carimbó: manifestação cultural paraense
Artesanato com o talo do guarimã: desenvolvido por moradores
Afrozambe: Grupo que realiza danças afro, ativo desde a década de 1980
Capoeira de Angola: Prática tradicional mantida viva
Ponto de Memória: Cadastrado no sistema nacional de museus, preserva a memória e a história da comunidade.
CUIDAR DO POVO NEGRO — A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, reafirmou que o Governo do Brasil vai seguir implementando políticas que alcancem a ponta e ampliem o acesso à saúde, educação, lazer, esporte e garanta dignidade aos povos. “A nossa luta tem sido cuidar do povo negro, que faz parte aí de mais de 55% da população. E a gente sabe que regularizar e titular os territórios quilombolas é nossa obrigação também. Esse trabalho coletivo tem acontecido conosco desde o início, mas ainda tem chão para percorrer e a gente tem certeza disso. Esperamos que vocês se reconheçam em nós e a gente também se reconheça em vocês pela luta e por acreditar nesse governo, liderado pelo presidente Lula, que cuida daqueles que mais precisam”, observou.
IDENTIDADE — A comunidade é representada pela Associação dos Moradores do Quilombo Itacoã-Miri, criada no fim da década de 1970, marcada por forte atuação cultural e religiosa, com destaque para celebrações tradicionais como o círio de Nossa Senhora de Monte Serrat e festas juninas, que fortalecem laços comunitários e a identidade quilombola.
“A gente tem uma expectativa muito grande de chegar muitos benefícios para nós através da COP, trazendo o mundo para esse evento, que eu acho que se torna muito importante não só para o Brasil, para o Pará, mas para nós aqui, ribeirinhos, extrativistas, comunidade quilombola e todas as outras populações que vivem aqui”, declarou Eliana Monteiro, moradora do Quilombo.
EDUCAÇÃO — A comunidade participa de projetos de extensão universitária realizados por alunos da Universidade Estadual do Pará (UEPA) e Universidade Federal do Pará (UFPA), com ações voltadas à promoção da saúde e prevenção de doenças. A liderança quilombola Élida Monteiro é uma das beneficiadas pelas iniciativas educacionais federais. “Só na política de cotas, hoje nós temos, basicamente, a estrutura da nossa escola, são professores formados a partir da política de ação afirmativa do PSE Quilombola, a reserva de vagas para quilombola. Hoje eu sou a primeira mestra do município e a primeira doutoranda pela política de cotas”, disse, orgulhosa.
PRODUÇÃO AGRÁRIA — Itacoã-Miri desenvolve projetos voltados à sustentabilidade e à saúde. O Refloresta, iniciado em 2025, promove a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) com espécies nativas e agrícolas, em parceria com a Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg) no Pará, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) e a Universidade Federal do Pará (UFPA), com foco na recuperação ambiental, geração de renda e soberania alimentar.
RENDA E VALOR — O ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) reforçou o compromisso assumido pelo presidente Lula com a comunidade e assegurou que haverá o reconhecimento federal dos quilombos e a oferta de crédito para a mecanização produtiva. “Vamos contribuir agora no processo de mecanização e de processamento da produção de vocês. E junto com a mecanização e o processamento, florestas produtivas, que é a recuperação florestal com açaí, dendê, cacau e todas as coisas que quiserem plantar juntas para dar renda e agregar valor”, antecipou Teixeira.
VIDA SEM DESMATAMENTO — O presidente da Associação do Quilombo de Itacoã-Miri, Marcos Silva, celebrou o acionamento de políticas públicas para os moradores locais. “Tudo isso a gente pode agradecer aos programas sociais do Governo do Brasil, principalmente no governo Lula. A partir da COP30, as pessoas vão vir e conhecer a realidade. Elas vão chegar aqui e ver que existem pessoas dentro da floresta e que essa floresta é preservada por meio dessas pessoas, porque hoje o quilombola, o indígena, os povos tradicionais, conseguem sobreviver dentro da floresta sem desmatar”, contou.
Via Planalto
				