Sâmia Bomfim (PSOL-SP) fez críticas ao relatório do deputado Guilherme Derrite (PL-SP) sobre o Projeto de Lei Antifacção
Em entrevista ao TVT News Primeira Edição, conduzida pela jornalista Talita Galli e com comentários de Eduardo Castro e Laura Capriglione, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) fez críticas ao relatório do deputado Guilherme Derrite (PL-SP) sobre o Projeto de Lei Antifacção, encaminhado pelo governo federal ao Congresso. Para Sâmia, o texto apresentado por Derrite, ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo e aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), é “uma vergonha” e “um instrumento político de autopromoção e blindagem de corruptos”.
“A escolha do Derrite como relator tem um intuito político de projetá-lo para as eleições e pavimentar o caminho de Tarcísio, que perdeu fôlego como presidenciável. Eles estão apostando no populismo penal, no massacre, nas grandes operações midiáticas que não resolvem nada”, afirmou a deputada.
Ataque à Polícia Federal e favorecimento ao centrão
Segundo Sâmia, o relatório de Derrite retira poderes da Polícia Federal (PF) e cria dependência das polícias estaduais e dos governadores para a atuação contra facções criminosas — algo que, na prática, enfraquece a única corporação com capacidade nacional de investigação e combate ao crime organizado.
“Se você tira o poder da PF e condiciona sua atuação à autorização de governadores, está tirando a capacidade da única polícia que tem estrutura para enfrentar organizações ramificadas em todo o país”, disse.
A parlamentar destacou ainda que o texto favorece parlamentares envolvidos em escândalos de corrupção e desvios de emendas. De acordo com apuração citada no programa, integrantes da PF e do Judiciário consideram que as mudanças inseridas no relatório blindam investigações sobre lavagem de dinheiro e superfaturamento de emendas — práticas que vêm sendo alvo de ações do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal (STF).
“É um duplo crime: salva as organizações criminosas de serem investigadas e salva parlamentares corruptos. Enquanto isso, o problema real da violência urbana e do crime organizado continua sem resposta”, afirmou Sâmia.
A deputada comparou o caso à PEC da Blindagem, que foi derrubada após forte reação popular em 2023. “É disso que se trata novamente: uma manobra para proteger o centrão e enfraquecer os mecanismos de controle e fiscalização”, completou.
“Sinalização direta ao trumpismo”, diz Sâmia
Sâmia também afirmou que o relatório tem conotações geopolíticas perigosas, por equiparar facções criminosas a organizações terroristas, o que, segundo ela, pode abrir brechas para intervenções externas dos Estados Unidos.
“Essa equiparação é uma sinalização direta para Donald Trump e seus aliados. São os mesmos sabotadores que querem colocar o Brasil de joelhos sob o jugo dos EUA. Isso não vai aprimorar a segurança pública, vai abrir espaço para intervenções como as que vêm ocorrendo na Venezuela e na Colômbia”, criticou.
A parlamentar classificou a iniciativa como “anti-Brasil” e alertou que o projeto pode prejudicar a economia nacional, fragilizando o país diante de sanções políticas e comerciais internacionais.
Risco de criminalização de movimentos sociais
Outro ponto levantado pela deputada foi o risco de criminalização de movimentos populares e organizações civis.
“Dependendo da forma como se define o que é uma ‘organização terrorista’, o texto pode enquadrar movimentos sociais que utilizam ações diretas, manifestações e mobilizações legítimas. É uma tentativa de intimidação política”, explicou.
Sâmia afirmou que o texto de Derrite é “despudorado e desrespeitoso com a população brasileira que se preocupa com a violência e quer soluções reais”. Para ela, o relatório foi incluído na pauta de votação de forma oportunista, em uma semana esvaziada por causa da COP30, que acontece em Belém.
“É uma bomba sendo discutida num plenário esvaziado. Enquanto boa parte do Congresso está voltada para o debate ambiental, a Câmara será dominada pela bancada da bala, que está pouco se lixando para o meio ambiente ou para soluções reais de segurança pública”, ironizou.
“Um pacotão da impunidade”
A deputada também criticou o papel do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que teria escolhido Derrite como relator “sabendo do que ele seria capaz”. Ela afirmou que a tramitação acelerada do projeto revela um acordo entre a extrema direita e setores do centrão.
“O PL Antifacção é um pacotão da impunidade. Eles querem enganar o povo com o discurso do combate ao crime, mas estão blindando a corrupção e enfraquecendo o Estado. É um desrespeito com o povo brasileiro”, afirmou.
Mobilização popular e alerta final
Sâmia Bomfim encerrou a entrevista pedindo pressão popular e mobilização social para impedir a aprovação do projeto:
“Precisamos ocupar as redes, a imprensa e as ruas. É mais um golpe orquestrado por um Congresso inimigo do povo. Querem vender a ideia de que é um projeto contra o crime, mas na verdade é um projeto a favor da impunidade e do entreguismo.”