Por Luis Nascimento
Braskem na COP30: discurso verde sob a sombra do maior desastre socioambiental urbano do mundo
Enquanto a Braskem sobe ao palco da COP30 para falar em “bioeconomia” e “neutralidade climática”, a cidade de Maceió ainda afunda sob os impactos do maior desastre socioambiental urbano do planeta. A participação da petroquímica no principal evento climático do mundo reacende o debate sobre o greenwashing, a estratégia de marketing que mascara danos ambientais com discursos sustentáveis.
A empresa confirmou presença em dois debates oficiais na quinta (13) e sexta-feira (14), às 15h, na chamada Blue Zone, o espaço da Confederação Nacional da Indústria (CNI) dentro da conferência. Em seu site institucional, a Braskem afirma que “a indústria faz parte da solução”, destacando investimentos em polímeros verdes e metas de descarbonização até 2030.
Mas, enquanto o discurso sustentável ganha holofotes na Amazônia, o passivo deixado pela empresa em Maceió continua como ferida aberta. O solo da capital alagoana havia cedido após décadas de extração de sal-gema pela Braskem, provocando o deslocamento de cerca de 60 mil pessoas e a destruição de bairros inteiros.
Segundo informações do Observatório do Caso Braskem, o desastre levou ao fechamento de 40 escolas e 12 unidades de saúde, configurando o maior colapso socioambiental e urbano em curso no mundo.

Danos ambientais da Braskem em Maceió
Para o Observatório do Caso Braskem, não há sustentabilidade possível sem reparação, e a questão fundamental é: o que seria uma reparação justa para as famílias atingidas em Maceió? A resposta envolve restabelecer o nível de vida que as pessoas tinham antes do desastre e equipará-lo ao que têm agora, num cenário de clara piora na qualidade de vida. Mesmo quando foram pagas indenizações, a valorização imobiliária de cerca de 21% naquele ano tornou incompatível a recomposição justa da moradia.
Além disso, territórios inteiros passaram por “ilhamento social”: escolas, postos de saúde e igrejas foram fechados, deixando comunidades sem o mínimo de estrutura, e moradores convivem com adoecimento e perdas há sete anos, em face de um desastre que, segundo diversos relatórios, ocorreu por negligência.
“É difícil confiar no discurso de sustentabilidade de uma empresa que traz marcada em sua história recente o maior desastre socioambiental e solo-urbano do mundo e agora ocupa o centro da COP30 para falar sobre o futuro industrial do planeta”, afirma Evelyn Gomes, idealizadora do Observatório do Caso Braskem. “Enquanto as casas foram evacuadas por risco de desabamento e as pessoas perderam suas referências de território, a empresa fala de inovação verde. Essa contradição expõe o abismo entre a narrativa corporativa e a realidade de quem vive as consequências.”
A presença da Braskem na COP30, portanto, reacende questionamentos sobre o que está por trás das estratégias corporativas de marketing ambiental. “A CPI mostrou que a Braskem se autorregular por anos. E a autorregulação não protege territórios, ela expõe territórios. Protege apenas a própria empresa, que continuou lucrando enquanto Maceió afundava”, lembra Evelyn Gomes, idealizadora do Observatório e presente em Belém.

O Observatório alerta que discursos sobre neutralidade de carbono e bioeconomia não podem estar dissociados de práticas concretas de reparação e justiça climática. Um futuro sustentável só será possível se incluir quem foi deixado para trás, e isso passa pela transparência, pela escuta da sociedade civil e pela reconstrução justa dos territórios.
O caso de Maceió expõe as contradições entre o discurso e a prática da sustentabilidade corporativa. Falar em transição ecológica e responsabilidade climática perde sentido quando não há compromisso efetivo com a reparação dos danos causados e com a dignidade das comunidades atingidas.
A verdadeira sustentabilidade não se mede por metas de carbono ou selos verdes, mas pela capacidade de enfrentar as consequências da destruição ambiental com justiça e transparência. Assim, o futuro que se constrói deve ser pautado não apenas pela inovação tecnológica, mas, sobretudo, pela reparação histórica e pelo reconhecimento das vidas e territórios sacrificados em nome do lucro.
