Mesmo com avanços, juventude negra ainda enfrenta as maiores barreiras educacionais no Brasil

Relatório revela que estudantes negros continuam enfrentando barreiras na conclusão, permanência e aprendizagem
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Relatório foi divulgado pelo Instituto GUETTO; saiba mais informações na TVT News. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Um novo relatório divulgado pelo Instituto GUETTO reforça a necessidade de incorporar uma abordagem racial explícita nas políticas educacionais brasileiras. O estudo integra dados de conclusão, permanência e aprendizagem e conclui que, apesar dos avanços da última década, as desigualdades estruturais seguem atravessando o percurso escolar da juventude negra. Saiba mais na TVT News.

Progresso no fluxo escolar esconde desigualdades persistentes

Os dados analisados mostram que as taxas de conclusão do Ensino Fundamental até os 16 anos cresceram de 74,7% em 2015 para 88,6% em 2025. No Ensino Médio, o avanço foi de 54,5% para 74,3% no mesmo período. Apesar disso, um em cada quatro jovens ainda não concluiu a etapa até os 19 anos.

A distribuição dos progressos, porém, é desigual. Enquanto estudantes brancos e amarelos alcançaram 92,1% de conclusão do Fundamental em 2025, entre alunos pretos, pardos e indígenas (PPI) o índice foi de 86,3%. No Ensino Médio, a diferença permanece ainda mais expressiva: 81,7% contra 69,5%, respectivamente.

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Dados retirados da nota técnica do Instituto GUETTO

Renda, gênero e território ampliam disparidades

O relatório destaca que a interseção entre raça, renda e gênero amplia a distância entre os grupos. Entre os 20% mais pobres, a conclusão do Ensino Médio chegou a 60,4% em 2025, contra 94,2% entre os 20% mais ricos. Jovens homens PPI de baixa renda aparecem como o grupo mais vulnerável: apenas metade concluiu o Ensino Médio em 2025, mesmo com o avanço registrado em relação a 2015.

As disparidades regionais também seguem marcantes. Norte e Nordeste exibem os maiores progressos na década, mas ainda apresentam os índices mais baixos de conclusão, uma situação agravada em áreas de alta vulnerabilidade social, onde a juventude negra é maioria.

Fatores externos pesam no abandono escolar

A análise inclui dados sobre motivos de evasão e não conclusão. A necessidade de trabalhar permanece como uma das principais causas entre jovens de baixa renda e estudantes PPI. Em 2024, 8,2% desses estudantes apontaram o trabalho como razão para deixar a escola, proporção superior à de jovens brancos (6,7%). A falta de segurança no trajeto e dentro das escolas também impacta a permanência, atingindo especialmente adolescentes negros, segundo dados da PeNSE.

O estudo lembra ainda que o trabalho infantil segue concentrado entre crianças e adolescentes pretos e pardos, que representam 66% dos 1,65 milhão de menores de 17 anos nessa condição.

Aprendizagens essenciais também refletem disparidades

As desigualdades avançam ao longo da trajetória escolar e chegam à proficiência. No 9º ano do Ensino Fundamental, apenas 13,3% dos estudantes pretos e pardos apresentaram aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e Matemática, metade do percentual observado entre brancos e amarelos.

No Ensino Médio, a distância aumenta: só 4,7% dos estudantes PPI atingiram níveis adequados de aprendizagem, contra 12,3% dos brancos/amarelos. Os dados, segundo o Instituto, evidenciam que a desigualdade não se restringe ao acesso e à conclusão, mas à consolidação das competências fundamentais.

“Não basta avançar na média”, alerta o Instituto GUETTO

Para o presidente-executivo do Instituto GUETTO, Vítor Del Rey, os resultados mostram que estudantes negros percorrem trajetórias educacionais mais instáveis, marcadas por barreiras sucessivas. Já o gerente de Políticas Educacionais e Advocacy, Jackson Almeida, reforça que as políticas públicas precisam assumir a intencionalidade racial como eixo estruturante.

O conjunto de evidências apresentado indica que conclusão, permanência e aprendizagem são dimensões indissociáveis, e que superar as desigualdades exige enfrentar, simultaneamente, os efeitos da raça, da renda e do território.

O relatório integra a agenda do Novembro GUETTO, iniciativa anual dedicada ao debate sobre equidade educacional. Para o Instituto, o desafio central é consolidar políticas que unam qualidade e justiça racial, garantindo que os avanços educacionais cheguem de forma efetiva aos grupos historicamente marginalizados.

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