Bolsonaro alega teve alucinação e surto para violar tornozeleira eletrônica. Na audiência de custódia, ex-presidente disse que tomava Pregabalin e Sertralina. Saiba em TVT News o que são essas medicações e se elas podem provocar alucinações.
Quais são os medicamentos que Bolsonaro usa?
Após audiência de custódia realizada no início da tarde de domingo (23), a juíza auxiliar Luciana Yuki Fugishita Sorrentino homologou o cumprimento do mandado de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, constatando que não houve “qualquer abuso ou irregularidade por parte dos policiais”, conforme consta da decisão.
Na audiência, Bolsonaro confirmou que mexeu na tornozeleira eletrônica. O ex-presidente disse que “teve uma certa paranoia de sexta para sábado em razão de medicamentos que tem tomado receitados por médicos diferentes e que interagiram de forma inadequada”. Os medicamentos apontados são o anticonvulsivante Pregabalina e o antidepressivo Sertralina.
A TVT News conversou com a psicóloga clínica e neuropsicóloga Aline Rezende Graffiette sobre o uso de medicamentos.
“Psicólogos não prescrevem medicamentos, mas nós acompanhamos diariamente pacientes que fazem uso deles e podemos, sim, explicar para que servem, como atuam, quais efeitos são comuns e quando um sintoma pode ser um sinal de alerta, especialmente considerando o impacto emocional e psicológico”, conta a psicóloga Aline.
Pregabalina: o que é, para que serve e pode causar alucinações?
A pregabalina é um medicamento que atua no sistema nervoso reduzindo hiperexcitabilidade neuronal. Apesar do nome lembrar “GABA”, ela não é um calmante tradicional, mas um modulador que estabiliza circuitos cerebrais.

Para que a Pregabalina é indicada?
- Dor neuropática, como neuralgia pós-herpética (dor crônica que persiste após uma crise de herpes zoster (cobreiro), neuropatia diabética
- Transtorno de ansiedade generalizada
- Fibromialgia
- Crises convulsivas específicas
É muito utilizada quando o corpo está em “alerta exagerado”, gerando dor crônica ou ansiedade intensa.
Pregabalina pode causar alucinações?
“Sim, mas raramente”, afirma a psicóloga. Quando acontece, normalmente está associado a:
- dose muito alta,
- uso combinado com álcool ou outros depresssores do SNC,
- interrupção abrupta,
- sensibilidade individual elevada a efeitos sedativos.
As alucinações com Pregabalina mais relatadas são:
- visuais leves (sombras, luzes, movimentos periféricos),
- auditivas sutis (barulhos que não existem),
- sensação de estar “fora do corpo” ou “sonhando acordado”.
“Psicologicamente, o que observo em consultório é que alguns pacientes podem perceber um estado meio desrealizado, como se tudo estivesse distante, que não chega a ser alucinação, mas confunde”, afirma.
Sertralina, o que é?
A sertralina é um antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Amplamente prescrita no Brasil, é indicada para tratar depressão, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do pânico e estresse pós-traumático. O medicamento atua aumentando a disponibilidade de serotonina no cérebro, substância ligada ao equilíbrio emocional e ao bem-estar.
Por ser um fármaco de uso controlado, a prescrição de Sertralina deve ser feita por profissionais habilitados, que avaliam histórico clínico, outros tratamentos em andamento e possíveis interações medicamentosas. A sertralina costuma ser iniciada em doses baixas, com ajustes graduais conforme a resposta do paciente.
Em que casos a Sertralina é indicada?
Os médicos costumam prescrever sertralina para tratar:
- Depressão leve, moderada ou grave
- Ansiedade generalizada
- Síndrome do pânico
- TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo)
- Fobia social
- TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático)
- Disforia pré-menstrual
“Ela é especialmente conhecida por agir bem em quadros de ansiedade com sintomas físicos intensos, como aperto no peito, taquicardia, sudorese, preocupação excessiva e dificuldade de relaxar”, relata a psicóloga Aline.
Quais os riscos do uso da Sertralina
Apesar de ser considerada segura quando utilizada de forma supervisionada, a sertralina pode trazer efeitos adversos. Entre os mais relatados estão náusea, alteração de sono, redução da libido, dor de cabeça e agitação. Em alguns casos, sintomas podem surgir nas primeiras semanas e diminuir com o tempo.
Sertralina pode causar alucinações?
Alucinações não estão entre os efeitos mais frequentes da sertralina, mas podem ocorrer em situações muito específicas. Esses episódios costumam estar associados a doses altas, uso combinado com outras substâncias que afetam o sistema nervoso central ou condições pré-existentes, como transtornos psicóticos.
“Mas é muito raro ter alucinações com sertralina e é considerado um efeito adverso grave, precisando de avaliação médica imediata”, alerta Aline.

Como remédios podem causar alucinações?
De acordo com a neuropsicóloga Aline Rezende, “de forma psicológica e neuroquímica, há três motivos principais”:
- Sedação intensa – o cérebro fica entre vigília e sono, facilitando percepções distorcidas.
- Interação com álcool ou outras substâncias – aumenta o risco.
- Vulnerabilidade emocional prévia – ansiedade extrema, pânico, trauma, privação de sono.
Perguntas e respostas de medicamentos que podem causar confusão mental
Além dos medicamentos citados na audiência de custódia, a neuropsicóloga Aline Rezende Graffiette explicou para a TVT News sobre outros medicamentos que também foram citados pela equipe médica de Bolsonaro, a Clorpromazina e a Gabapentina.
Medicamentos com Riscos de Confusão Mental
| Pergunta | Resposta |
|---|---|
| É remédio controlado? | Sim. |
| Serve para ansiedade? | Sim, especialmente ansiedade generalizada. |
| Vicia? | Pode gerar dependência psicológica em alguns pacientes. |
| Pode dar alucinação? | Raramente, sim. |
| Pergunta | Resposta |
|---|---|
| É calmante? | Não exatamente, mas reduz hiperatividade neural. |
| Dá sono? | Bastante, em algumas pessoas. |
| Pode causar alucinação? | Raro, mas possível. |
| Pergunta | Resposta |
|---|---|
| É antipsicótico? | Sim. |
| Serve para crises emocionais intensas? | Sim, em contexto médico. |
| Causa alucinação? | Não é comum, mas pode gerar confusão mental. |
O que um psicólogo observa nesses casos?
Segundo Aline, “de maneira bem humana, a pessoa pode sentir medo de estar enlouquecendo”
- Pode confundir efeito colateral com recaída emocional.
- Pode se isolar por vergonha de relatar sintomas estranhos.
- Pode acreditar que “perdeu o controle” quando, na verdade, é apenas ajuste de dose.
“O maior risco não é o medicamento em si, mas o silêncio do paciente”, afirma Aline. “Quando a pessoa conta o que está sentindo, o médico ajusta a dose, troca o remédio e tudo segue um caminho seguro”.
Quem sofre surto, lembra do que aconteceu?
TVT News ouviu também a médica Gabriela Passos Arantes, especialista em Clínica Médica sobre as pessoas que sofrem surto.
De acordo com a médica, alucinações são efeitos adversos raros, mas podem ocorrer. “Quando as medicações são usadas separadamente e de maneira correta, esse risco é geralmente muito baixo”, conta Gabriela. “Ele aumenta em grupos mais vulneráveis, como idosos, pessoas com doença renal ou hepática e indivíduos com transtornos psiquiátricos prévios”.
“Entre os efeitos colaterais mais comuns, a pregabalina causa sonolência e tontura”, explica a médica.
E como fica a lembrança após o delírio?
“Muitas pessoas têm memória parcial, fragmentada ou até nenhuma lembrança do que ocorreu. Isso acontece porque o delirium afeta diretamente a atenção e a capacidade do cérebro de registrar informações de forma adequada”, relata Gabriela.
“Quanto a admitir o episódio, isso varia de pessoa para pessoa”, diz Gabriela. “Em muitos casos, o indivíduo não reconhece imediatamente que passou por um quadro de delirium, justamente por causa da falta de memória ou pela confusão intensa que faz parte do estado. O reconhecimento costuma acontecer depois que o paciente está estabilizado, quando as informações são revisadas com a equipe médica ou com familiares”, explica a médica.
A neuropsicóloga concorda. “O estado alterado de consciência falha na formação de memória. Quando isso acontece, é comum a pessoa acordar ou voltar sem entender o que houve”.
Sobre as fontes ouvidas nessa matéria
Neuropsicóloga Aline Rezende Graffiette
Aline Rezende Graffiette é psicóloga clínica e neuropsicóloga com vasta experiência em saúde mental e reabilitação neurocognitiva. Fundadora da Mental One, rede de atendimento psicológico do Brasil. Atua como pesquisadora na Faculdade de Medicina da USP, com foco no treino de reabilitação neurocognitiva para Comprometimento Cognitivo Leve (CCL). Mediadora judicial e extrajudicial pelo instituto Mediativa. Perita forense, vara criminal e familiar pelo IMPAT Forense. Além disso, é palestrante em congressos e professora.
Gabriela Passos Arantes
Médica especialista em Clínica Médica, integrante da equipe do INKI, plataforma de consultas médicas particularES, com amplo conhecimento sobre as doenças crônicas do paciente adulto. Pós-graduanda em Obesidade e Emagrecimento e cursando MBA em Gestão em Saúde.
