Maior competição musical ao vivo do mundo, o Festival Eurovisão da Canção (Eurovision Song Contest, ESC) pode enfrentar um boicote sem precedentes após os organizadores decidirem manter a participação de Israel. Confira mais em TVT News.

Durante assembleia da União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês) — órgão que organiza o concurso e reúne emissoras públicas de 56 países — Irlanda, Espanha, Eslovênia e Holanda anunciaram que não devem participar da edição de 2026. A decisão foi motivada tanto por denúncias de suposta interferência de Israel na votação quanto pelas ações do país na guerra em Gaza.
Apesar da pressão, a EBU e algumas emissoras concordaram apenas em aplicar regras de votação mais rígidas a partir de 2026, mantendo Israel autorizado a competir.
Embora esteja fora da Europa, Israel participa do Eurovision desde 1973 porque sua emissora pública, a KAN, integra a União Europeia de Radiodifusão. O país é uma das potências do concurso, com quatro vitórias.
Sistema de votação gera polêmica no Eurovision
O sistema de votação do Eurovision tornou-se o epicentro das críticas após a cantora israelense Yuval Raphael — sobrevivente do ataque do Hamas em 7 de outubro — alcançar o segundo lugar na votação popular deste ano. Em 2024, outra artista israelense, Eden Golan, também teve ascensão meteórica, apesar da baixa pontuação concedida pelo júri.

Ao anunciar a retirada da Espanha, Alfonso Morales, secretário-geral da emissora RTVE, afirmou que “a situação em Gaza, apesar do cessar-fogo e da aprovação do processo de paz, e a utilização do concurso para fins políticos por Israel tornam cada vez mais difícil manter o Eurovision como um evento cultural neutro”.
A emissora irlandesa RTE também se manifestou. Em comunicado, declarou que a participação da Irlanda “continua inaceitável, dadas as terríveis perdas de vidas em Gaza e a crise humanitária que persiste, colocando em risco a vida de tantos civis”.
Israel comemora permanência
O presidente de Israel, Isaac Herzog, celebrou a decisão de manter o país no evento de 2026, afirmando que Israel “merece estar representado em todos os palcos do mundo”.
O país conta com apoio de nações europeias como Alemanha e Áustria, esta última responsável por sediar a competição no próximo ano. Em outubro, o chanceler alemão, Friedrich Merz, chegou a declarar que boicotaria o Eurovision caso Israel fosse excluído.
Boicote tem impacto político — e econômico
A saída anunciada por alguns países pode desencadear uma crise inédita na competição musical mais assistida do mundo, levantando dúvidas sobre se os fãs dessas nações continuarão acompanhando o evento.
A Espanha é um dos cinco maiores financiadores do Eurovision e, por isso, garante classificação automática nas finais anuais. A Irlanda, maior campeã da história do concurso, soma sete vitórias — marca alcançada apenas pela Suécia. Já a Holanda venceu cinco vezes e concentra grande audiência televisiva para o festival.
Frank Dermody, presidente do Clube de Fãs Irlandeses do Eurovision, que reúne 1.200 membros, afirmou que o grupo apoia o boicote e considera a medida “possivelmente o começo do fim do concurso” que acompanha desde a infância. “Não consigo nos ver voltando enquanto Israel estiver envolvido”, disse.
Dean Vuletic, autor de um livro sobre a história política do Eurovision, avalia, porém, que o boicote não deve gerar consequências graves e lembra que ausências já ocorreram anteriormente. A Áustria, por exemplo, não participou da edição de 1969, realizada na Espanha, em protesto contra a ditadura de Francisco Franco.
