Lançamento do livro Direitos Humanos no Brasil celebra resistências e homenageia defensores históricos

26ª edição do livro homenageia defensores e reforça a luta por vida digna como direito fundamental
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"A primeira coisa que é de direito do sujeito humano é a vida", afirmou Conceição Evaristo. Foto: Reprodução

Em um evento marcado por denúncias contundentes, celebração da resistência e reafirmação da esperança, foi lançada nesta terça-feira, 10 de dezembro, a 26ª edição do livro “Direitos Humanos no Brasil 2025”. Transmitido em programa especial pela TVT, o lançamento reuniu análises de especialistas, apresentações culturais e emocionantes homenagens a personalidades e organizações que são pilares na luta por justiça social no país. A data simboliza o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

A publicação, coordenada anualmente pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos desde 2000, reúne 30 artigos de 49 autoras e autores de diversas regiões do Brasil, abordando temas como educação, cultura, trabalho, meio ambiente, justiça climática e direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais. A edição de 2025 é ilustrada por uma série de fotografias de João Roberto Ripper sobre povos tradicionais.

Resistência no Cerrado e a luta contra o “ecocídio”

O programa abriu com um documentário potente sobre a atuação da Rede Social em parceria com o Coletivo dos Povos e Comunidades Tradicionais do Cerrado do Piauí. Representantes do coletivo denunciaram a pressão do agronegócio e do mercado financeiro sobre seus territórios. “Estamos falando de uma associação entre mercado financeiro e agronegócio que tem resultado, na nossa visão, no crime de ecocídio do Cerrado e, em alguns casos, de genocídio de povos”, afirmou Maurício Correia, assessor jurídico da Rede Social.

A esperança, no entanto, permanece viva. “Lutamos por territórios livres e que dias melhores possam vir. Temos que continuar esperançando, resistindo, insistindo, porque a nossa luta é pela vida, é na defesa dos nossos territórios e pelo Cerrado vivo”, declarou.

Homenagens a gigantes da luta pelos Direitos Humanos

Um dos momentos mais marcantes da noite foi a homenagem a quatro referências na defesa dos direitos humanos: a escritora Conceição Evaristo, o economista e político Eduardo Suplicy, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o já citado Coletivo do Cerrado.

A CPT, que em 2025 completa 50 anos, foi celebrada por sua atuação fundamental na documentação e no apoio às lutas do campo. Cecília Gomes, representante da CPT destacou: “Nosso centro de documentação traz os dados da realidade em que vivem as comunidades e os povos, principalmente no tocante às violências contra os corpos e contra os sujeitos que lutam e resistem para permanecer em seus territórios”.

Conceição Evaristo e a reivindicação pela humanidade

Em discurso profundamente filosófico e emocionado, a escritora Conceição Evaristo, homenageada, refletiu sobre o significado primordial da luta por direitos humanos para populações historicamente negadas. “Sem ter o processo que nega a humanidade do sujeito, não há como nem pensar em direitos. A primeira reivindicação desse sujeito é a reivindicação de ser reconhecido como humano”, afirmou.

Ela propôs uma inversão fundamental no conceito: “A gente faria justamente essa inversão, é pensar nos humanos direitos. O que que é de direito do sujeito humano? E a primeira coisa que é de direito do sujeito humano é a vida”. Em seguida, recitou trechos de seu célebre poema “Vozes-Mulheres”, arrancando aplausos da plateia.

Suplicy e a renda básica como direito

O economista Eduardo Suplicy, homenageado por sua trajetória política dedicada à justiça social, reiterou seu compromisso com a bandeira da Renda Básica de Cidadania, lei de sua autoria sancionada em 2004. “Um dia [a renda básica] se tornará universal e incondicional. Qualquer pessoa residente no Brasil vai ter o direito de participar da riqueza comum de nossa nação através de uma renda suficiente para atender as necessidades vitais de cada ser humano”, defendeu.

Crise climática e desigualdade: um só combate

A crise climática foi abordada como uma violadora de direitos humanos por excelência, atingindo com mais força as populações historicamente vulneráveis. Djeison Diedrich, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) do Rio Grande do Sul trouxe dados contundentes: no evento de maio de 2024, 87% das pessoas desalojadas tinham renda familiar de até dois salários mínimos. “Não é possível mais tratar de direitos humanos sem tratar de clima. E também não é possível tratar de clima sem tratar de direitos humanos”, afirmou. A agroecologia foi apontada como ferramenta fundamental para um novo modelo.

Plebiscito popular e justiça tributária

O evento também deu espaço à mobilização popular que ganha força em 2025. Representantes da Marcha Mundial das Mulheres e da Oxfam Brasil criticaram a estrutura tributária regressiva do país e defenderam o plebiscito popular por justiça tributária. “O 1% mais rico paga menos de 21% de tributos, já o brasileiro médio chega a mais de 42%”, denunciou Maitê Gauto. As pautas centrais são a redução da jornada de trabalho sem redução salarial e a taxação dos grandes rendimentos.

Um livro que é um “retrato vivo”

Encerrando a cerimônia, a Rede Social de Justiça destaca que o livro “Direitos Humanos no Brasil 2025” é um “retrato vivo das vozes que se organizam coletivamente e que sonham e semeiam um futuro possível”. A publicação se afirma não apenas como um registro de violações, mas como um documento propositivo, reafirmando “a força das vozes que constroem um país mais justo e igualitário, com solidariedade e esperança”.

O lançamento, que também contou com intervenções artísticas e música, serviu como um poderoso termômetro dos urgentes debates sociais no Brasil, unindo denúncia, memória, celebração da resistência e a defesa intransigente da vida em sua plenitude como primeiro e mais fundamental de todos os direitos.

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