Ex-diretor da PRF Silvinei Vasques é preso no Paraguai durante tentativa de fuga

Condenado por participar da tentativa de golpe, Silvinei rompeu tornozeleira eletrônica e planejava rota do Paraguai ao Panamá, com destino final em El Salvador
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Silvinei comandou bloqueio a eleitores de Lula em 2022. Foto: Reprodução

A prisão do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, nesta sexta-feira (26), no Paraguai, marca um novo e decisivo capítulo na responsabilização de agentes do Estado que atuaram diretamente na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por sua participação nos ataques à democracia, Silvinei foi detido durante uma tentativa de fuga do país, após romper a tornozeleira eletrônica que utilizava por determinação judicial. Leia em TVT News.

De acordo com as investigações, o ex-chefe da PRF deixou o Brasil por via terrestre rumo ao Paraguai e pretendia seguir viagem em um roteiro internacional cuidadosamente traçado. O plano incluía a saída do país vizinho com destino ao Panamá e, posteriormente, a El Salvador, país governado por Nayib Bukele e que, nos últimos anos, tem sido apontado como destino de figuras investigadas ou condenadas por crimes políticos em seus países de origem. A tentativa de evasão reforçou, segundo autoridades, o risco concreto de fuga e fundamentou a decretação de sua prisão preventiva.

Silvinei Vasques foi condenado pelo STF por integrar o núcleo de agentes públicos que atuaram para sabotar o processo eleitoral de 2022 e criar condições para uma ruptura institucional. À frente da PRF, ele teve papel central na coordenação de operações rodoviárias no segundo turno das eleições presidenciais, especialmente em estados do Nordeste, região onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva obteve ampla vantagem sobre Jair Bolsonaro. As ações da corporação, sob seu comando, resultaram em bloqueios, abordagens seletivas e retenção de eleitores, em uma tentativa deliberada de dificultar o deslocamento de cidadãos às urnas.

As investigações apontaram que as ordens para intensificar fiscalizações partiram da cúpula da PRF e não tinham respaldo técnico ou justificativa operacional plausível. Mensagens, depoimentos e documentos reunidos ao longo do inquérito demonstraram que a atuação da corporação foi politicamente orientada e violou princípios constitucionais como a legalidade, a impessoalidade e a igualdade do voto. Para o STF, tratou-se de uma ação coordenada para interferir no resultado eleitoral e alimentar o discurso golpista que culminaria nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Mesmo após a condenação, Silvinei respondia em liberdade monitorada, com o uso de tornozeleira eletrônica. O rompimento do equipamento, identificado pelos sistemas de monitoramento, acionou imediatamente os órgãos de segurança e levou à intensificação das buscas. Informações de inteligência indicaram que ele já havia cruzado a fronteira com o Paraguai, onde acabou localizado e preso com apoio das autoridades locais.

A prisão ocorre em um contexto mais amplo de avanço das investigações e punições contra integrantes da engrenagem golpista que tentou impedir a posse do presidente Lula e desestabilizar o regime democrático. Para ministros do STF e investigadores, a tentativa de fuga internacional evidencia não apenas a gravidade dos crimes cometidos, mas também a disposição de alguns condenados em escapar da Justiça brasileira, reforçando a necessidade de medidas cautelares mais duras.

A atuação de Silvinei Vasques à frente da PRF tornou-se um dos símbolos do uso político e ilegal de estruturas do Estado durante o governo Bolsonaro. Sua queda e prisão representam, na avaliação de juristas e defensores da democracia, um passo importante no processo de reconstrução institucional e de afirmação de que crimes contra o voto popular não ficarão impunes.

Com a detenção no Paraguai, Silvinei deverá ser submetido a procedimentos de cooperação internacional para retorno ao Brasil, onde permanecerá à disposição da Justiça. O caso reforça o recado de que a democracia brasileira, apesar dos ataques sofridos, segue reagindo por meio das instituições e da responsabilização daqueles que tentaram subvertê-la.

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