À beira do abismo: mundo entre guerras, colapsos e novas ordens

Promessa de cooperação global sofre com guerras abertas, disputas econômicas radicais, autoritarismos em ascensão e crise climática
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De Gaza a Kiev, de Cartum a Washington, guerras se alastram, enquanto os organismos internacionais revelam impotência. Foto: RS/via Fotos Publicas

O século XXI avança na linha do tempo enquanto o mundo parece recuar em alguns termos. A promessa de uma ordem internacional baseada em cooperação e direitos humanos sofre sob o peso de guerras abertas, disputas econômicas radicais, autoritarismos em ascensão e uma crise climática que não espera por diplomacia. De Gaza a Kiev, de Cartum a Washington, guerras se alastram, enquanto os organismos internacionais que surgiram com certa missão de zelar pela paz revelam impotência e anacronismos. Entenda na TVT News.

Ucrânia, Gaza, Sudão: mapa da atualidade

A guerra na Ucrânia segue como o maior conflito armado europeu desde a Segunda Guerra Mundial, em um embate que já deixou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados. A ação russa, iniciada em 2022, entrou em um impasse com bombardeios contínuos e uso crescente de armamentos pesados. Trata-se de uma escalada que desperta o medo de um confronto direto entre potências nucleares.

Rússia e Ucrânia

Grupos políticos, inclusive vinculados à extrema direita, além de velhas potências em torno da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) avançaram nas últimas décadas ameaçando a soberania russa. Enquanto isso, a própria Otan parece perecer diante de uma política voltada para o isolacionismo dos Estados Unidos com Donald Trump que também dá sinais de abandonar o apoio aos senhores da guerra na Ucrânia.

Do lado russo, uma reação bélica com ações militares de elite parecem controlar e receber espólios contínuos de guerra, com economia crescente e um reflorescimento do país como grande potência que parecia adormecida, mas agora reclama seu pedaço de hegemonia.

Genocídio em Gaza e guerras silenciosas

No Oriente Médio, a situação é ainda mais alarmante. A ofensiva israelense na Faixa de Gaza e os ataques ao Líbano configuram, segundo especialistas em direito internacional, atos com indícios de genocídio e limpeza étnica. Mais de 35 mil palestinos já foram mortos, a maioria civis, incluindo crianças, enquanto bairros inteiros viraram ruínas. A justificativa de segurança é questionada por parte significativa da comunidade internacional, que observa a repressão com crescente indignação e impotência.

No Sudão, guerras entre forças armadas rivais mergulhou o país em uma guerra civil que já causou milhares de mortes e provocou uma das maiores crises humanitárias da atualidade. A situação se alastra para países vizinhos e é ignorada pela mídia e pela diplomacia global, em mais um retrato do racismo estrutural das relações internacionais.

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Israel promove limpeza étnica e mata milhares de crianças na Palestina. Foto: Mohammad Emad /IRMA

Trump, protecionismo e autoritarismo

Enquanto as guerras explodem nos campos de batalha, os EUA, que antes se posicionavam como império global pela força econômica e bélica, caminham para um isolacionismo autoritário sob a nova ascensão de Donald Trump. O republicano intensificou uma guerra comercial contra a China, com políticas protecionistas agressivas que ameaçam desestabilizar ainda mais a economia global.

Paralelamente, Trump ignora regras e tratados internacionais, rasgando acordos históricos e propondo a retomada de um projeto de armamento nuclear orbital no espaço, um retrocesso perigoso à lógica da Guerra Fria. Ações que desrespeitam regras do direito internacional e acordos globais como da Organização Mundial do Comércio (OMC) e o de manter o espaço como local neutro e desmilitarizado.

A hostilidade não se limita ao plano geopolítico. Trump defende também o desfinanciamento da OMS, acusando-a de favorecer interesses chineses durante a pandemia de Covid-19, uma postura que os EUA já haviam ensaiando. A Argentina, sob o extremista de direita e aliado incondicional de Trump, Javier Milei, também deixou a OMS, adotando uma linha negacionista similar. O multilateralismo, já frágil, vê-se agora abandonado por alguns lados.

Organismos como a ONU e a OMC são cada vez mais esvaziados e desrespeitados, incapazes de conter abusos de poder, violações de direitos humanos, guerras e bloqueios comerciais unilaterais. Seus pronunciamentos se perdem em relatórios ignorados, enquanto a lógica das armas e do capital impõe sua lei.

Brics, Índia, China e um novo eixo de poder

No vácuo da liderança ocidental, os Brics ganham força. A China avança em sua influência econômica e tecnológica, enquanto a Índia emerge como peça-chave nas disputas do Sul Global. No entanto, esse novo eixo também carrega tensões: Índia e Paquistão mantêm um conflito latente, com disputas territoriais na Caxemira e discursos nacionalistas.

A aliança sino-indiana, ainda que cooperativa em fóruns multilaterais, é atravessada por desconfianças e interesses geopolíticos divergentes. O novo jogo de forças não se traduz, necessariamente, em um mundo mais pacífico ou democrático, mas redistribui os polos de influência. Neste quesito, a China vem se posicionando como um ponto de razão; ampliando financiamento à OMS, reforçando o respeito à soberania e autodeterminação dos povos, e apontando para uma nova liderança global cada vez mais inevitável.

Guerras: questão europeísta

A União Europeia discute abertamente a criação de um exército unificado e forte, alegando a necessidade de autonomia militar diante das incertezas da Otan e da imprevisibilidade americana. Ao mesmo tempo, governos europeus distribuem manuais de sobrevivência em caso de guerra à sua população, um sinal claro de que a paz já não é considerada garantida.

A política migratória endureceu em todo o bloco. A retórica contra imigrantes, principalmente vindos da África e do Oriente Médio, tornou-se central em campanhas eleitorais, alimentando a xenofobia e o crescimento da extrema direita. Em países como França, Espanha, Portugal, Itália e Alemanha, partidos ultranacionalistas disputam, e por vezes ganham, o poder com propostas que associam imigração a ameaça cultural e terrorista.

Questão climática

Enquanto as nações se digladiam por territórios e hegemonias, a emergência climática avança. Secas severas, enchentes catastróficas e temperaturas recordes tornam-se eventos corriqueiros, especialmente nos países mais pobres. A extrema direita global, no entanto, nega a ciência, corta investimentos em pesquisa e sabota acordos ambientais.

Os mesmos líderes que prometem armas no espaço são os que desmantelam políticas ambientais e sabotam cúpulas do clima. No lugar de cooperação para enfrentar um desafio comum à humanidade, o planeta assiste à multiplicação de muros, literais e simbólicos.


Um novo mundo

O que se desenha pode não ser apenas uma crise geopolítica, mas uma reconfiguração da ordem mundial. A combinação de guerras convencionais, desastres ambientais, colapsos institucionais e extremismos políticos indica que o mundo não vive apenas uma crise passageira, mas um período de alterações no tecido social global.

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