A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) enviou nesta quarta-feira (10) um ofício à Enel Distribuição São Paulo exigindo esclarecimentos imediatos sobre o desempenho da concessionária na recomposição do fornecimento de energia após o ciclone extratropical que atingiu a capital paulista e a região metropolitana, provocando a interrupção do serviço para mais de 2 milhões de consumidores. A cobrança reacende o debate sobre a fragilidade da infraestrutura elétrica no maior centro urbano do país e aprofunda a crise entre regulador, governo paulista, prefeituras e a empresa responsável pela distribuição. Leia em TVT News.
O novo episódio ocorreu na noite de terça-feira (9), quando a ventania causada pelo ciclone deixou ruas bloqueadas por quedas de árvores, danificou postes e redes de distribuição e resultou em blecautes que atingiram dezenas de bairros de São Paulo, além de municípios da Grande São Paulo.
Nesta quinta (11), cerca de 1,5 milhão de clientes amanheceram sem energia na região metropolitana, impacto que comprometeu serviços essenciais, mobilidade urbana, atividades comerciais e a segurança de milhares de pessoas.
A Aneel determinou que a Enel apresente, em até cinco dias, um relatório detalhado com informações técnicas sobre o apagão, incluindo o número de equipes em campo, tempo médio de atendimento, ações emergenciais adotadas, avaliação da robustez da rede diante de eventos climáticos extremos e as razões pelas quais a resposta operacional voltou a falhar mesmo após alertas reiterados do órgão regulador. A exigência também inclui explicações sobre por que a concessionária não vinha adotando medidas preventivas suficientes, apesar do histórico recente de falhas.
O diretor-geral da Aneel, citado pela imprensa, afirmou que a agência “não tolerará reincidências” e que a população paulista enfrenta sucessivos episódios de interrupção prolongada de energia elétrica, o que configura possível descumprimento das normas de qualidade do serviço. Ele destacou que a Enel já havia sido alvo de advertências e processos administrativos depois do apagão de novembro, que também deixou milhões de clientes no escuro após outra tempestade severa.
Segundo relatos compilados pelos veículos de imprensa, o órgão regulador teme que a empresa tenha ampliado sua vulnerabilidade operacional, seja por falta de investimento, seja por falhas de gestão, e avalia adotar novas medidas punitivas. Entre as possibilidades estão multas adicionais, aumento do monitoramento e, em caso extremo e ainda distante, a abertura de um procedimento para caducidade do contrato.
A crise ocorre em meio a críticas de prefeitos, parlamentares e moradores que ficaram mais de 18 horas sem energia. As reclamações incluem dificuldades de comunicação com a concessionária, lentidão na recomposição e ausência de equipes em pontos críticos. Os episódios também têm reacendido o debate sobre o impacto das mudanças climáticas na frequência e intensidade de eventos extremos, que pressionam uma infraestrutura já considerada saturada por especialistas.
A Enel afirmou, em comunicados à imprensa, que mobilizou todas as equipes disponíveis e que acionou recursos extras para acelerar a recomposição do fornecimento, mas ainda não respondeu publicamente ao ofício da Aneel. A empresa justificou que a ventania derrubou centenas de árvores e provocou danos severos à rede, o que exigiu trabalho contínuo de reparo. Contudo, a resposta não tem sido suficiente para conter a insatisfação de órgãos públicos e consumidores, que argumentam que eventos climáticos intensos já são previsíveis e deveriam ser incorporados ao planejamento da concessionária.
A situação é agravada pelo fato de São Paulo enfrentar uma sequência de blecautes expressivos em um intervalo de poucas semanas. Para especialistas consultados por diversos veículos, a reincidência evidencia fragilidades estruturais na rede e necessidade de modernização urgente do sistema, incluindo substituição de postes antigos, enterramento de fiação em trechos estratégicos e ampliação de equipes de manutenção preventiva.
O governo estadual e a Prefeitura de São Paulo também solicitaram informações à Enel e pediram transparência sobre o cronograma de normalização do serviço. Autoridades municipais relataram que hospitais, semáforos e abastecimento de água foram afetados, criando um efeito cascata sobre a rotina da cidade.
Com a pressão crescente, a Aneel deve acompanhar de perto a resposta da concessionária ao ofício e avaliar medidas adicionais a partir do relatório que será apresentado na próxima semana. A crise da energia em São Paulo se tornou um dos principais focos de atenção do setor elétrico brasileiro e seguirá como tema central do debate público enquanto a população enfrenta os impactos diretos das falhas de fornecimento.
