Lideranças de países árabes e muçulmanos reagiram com indignação ao plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de “tomar o controle” de Gaza, expulsando os palestinos. “Nosso país e nossa casa são a Faixa de Gaza”, declarou o enviado palestino às Nações Unidas, Riyad Mansour. O Hamas, grupo político que controla a Faixa de Gaza desde 2007, classificou como racista a fala de Trumpo, que pretende inclusive evacuar a região, expulsando os palestinos.
Para a Turquia, trata-se de uma proposta “inaceitável”. Já a Arábia Saudita rejeitou qualquer tentativa de deslocar os palestinos de suas terras.
“Nossa pátria é nossa pátria, se parte dela foi destruída, a Faixa de Gaza, o povo palestino escolheu retornar a ela”, disse o enviado palestino na ONU. “E acho que os líderes e o povo devem respeitar os desejos dos palestinos”, ressaltou, afirmando ainda que “nosso país e nossa casa são a Faixa de Gaza, é parte da Palestina”. disse ele.
“Nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos se concretizem, e o que é necessário é o fim da ocupação e da agressão (israelense) contra nosso povo, não sua expulsão de sua terra”, afirmou Sami Abu Zuhri, um dos líderes do Hamas. Disse ainda que as declarações de Trump são “uma receita para o caos e o aumento das tensões na região”.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou que os palestinos não abrirão mão de sua terra, direitos e locais sagrados, e que a Faixa de Gaza é parte integrante do território do Estado da Palestina, juntamente com a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Já o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita divulgou uma declaração completa após o plano de Trump. As autoridades árabes enfatizam o apoio “firme e inabalável” ao estabelecimento de um Estado palestino. “Arábia Saudita continuará seus esforços incansáveis para estabelecer um Estado palestino independente, com Jerusalém Oriental como sua capital, e não estabelecerá relações diplomáticas com Israel sem isso”, afirmou a pasta na rede social X.
O governo do Irã também condenou as intenções norte-americanas. “Acho que a comunidade internacional deveria ajudar os palestinos a garantir seu direito à autodeterminação, em vez de promover outras ideias que equivaleriam à limpeza étnica”, disse o porta-voz diplomático iraniano Emsail Baghai em uma coletiva de imprensa. “Limpar Gaza” significaria ‘apagar a Faixa de Gaza e toda a Palestina’”, reiterou.
O plano de “limpeza étnica” em Gaza
Nesta terça-feira (4), durante encontro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, Trump propôs o reassentamento dos palestino da Faixa de Gaza. Propôs que os EUA assumam “o controle para serem donos” da região. Além disso, disse que “os palestinos não deveriam estar encarregadas de reconstruir e ocupar a terra”. E ainda que enxerga os EUA assumindo uma “posição de posse de longo prazo” em Gaza.
“Ter aquele pedaço de terra, desenvolvê-lo, criar milhares de empregos. Vai ser realmente magnífico”, afirmou Trump.
Para tanto, Trump quer evacuar a região, proibindo o acesso dos palestinos, que seriam encaminhados para a Jordânia e o Egito, por exemplo. Com tal limpeza étnica, a intenção do presidente norte-americano, magnata do setor imobiliário, é construir hoteis e resorts na região, às margens do Mar Mediterrânio. Além disso, interessa a Trump e seus aliados explorar as reservas de gás nas áreas marítimas de Gaza.
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres disse que o plano de Trump para realocar a população palestina de Gaza equivaleria a uma “limpeza étnica”, e que se colocado em prática corre o risco de “tornar impossível um Estado palestino para sempre”.
Do mesmo modo, a congressista democrata Rashida Tlaib comparou a proposta de Trump a uma “limpeza étnica”: “Este presidente está pedindo abertamente a limpeza étnica, enquanto está sentado ao lado de um criminoso de guerra genocida”, disse Tlaib em um post no X.