Niède Guidon morreu aos 92 na madrugada desta quarta-feira (4) em São Raimundo Nonato, no Piauí. O Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, fundado pela arqueóloga, se pronunciou nas redes sociais confirmando o falecimento, mas a causa da morte ainda será divulgada pela equipe médica. Saiba mais em TVT News.
Em nota, o Parque Nacional da Serra da Capivara se referiu à Niède como “uma das maiores defensoras do patrimônio histórico brasileiro”. A arqueóloga dedicou a vida à preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, onde está a maior concentração de sítios arqueológicos das Américas.

“Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país”, continua a nota. Além das pinturas rupestres, Niède identificou indícios de presença humana no Piauí que revelam que o homem povoou a região há pelo menos 60 mil anos, o que revoluciou os estudos sobre povoamento das Américas. De acordo com a arqueóloga, a presença humana no Brasil pode datar de até 105 mil anos.
A arqueóloga morava em uma casa aos fundos da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), em São Raimundo Nonato, no sertão do Piauí, e convivia com artrose desde que contraiu chikungunya, em 2016.
Governo Lula lamenta morte de Niède Guidon
O presidente Lula lamentou a morte de Niède Guidon. “A ciência brasileira fica mais triste com o falecimento de Niède Guidon, que nos ajudou a entender as origens do homem no continente americano”, disse em nota.
O trabalho da arqueóloga foi definido como “fundamental para tornar a Serra da Capivara um patrimônio cultural da humanidade e para levar ao mundo o conhecimento sobre as riquezas pré-históricas localizadas em São Raimundo Nonato, no Piauí” pelo presidente.
Lula demonstrou solidariedade à família e aos amigos: “Expresso meus sentimentos por essa perda e desejo que o conforto chegue aos corações de seus amigos, familiares e colegas de trabalho.”
Niède Guidon e a Serra da Capivara
A arqueóloga, formada em história natural pela Universidade de São Paulo (USP), liderou importantes escavações na Serra da Capivara. Entre os mais de 700 sítios pré-históricos identificados pela arqueóloga, estão 426 paredes de pinturas rupestres e evidências de ocupação humana na região do Piauí.
Na década de 1970, a descoberta de indícios de presença humana na Serrra da Capivara revolucionou o que se acreditava até então sobre povoamento das Américas. A arqueologia tradicional defendia que o homem havia chegado ao continente americano há cerca de 13 mil anos pelo estreito de Bering. Primeiro, na América do Norte, e depois desceu ao sul.

Quem foi Niède Guidon
Niède foi pioneira em defender que a presença dos Homo sapiens no Brasil era mais antiga do que se acreditava até então e enfrentou ceticismo da comunidade científica dentro e fora do Brasil. A arqueóloga embarcou para a Serra da Capivara, em um local remoto da Caatinga, em 1973, mas já sabia da existência do local desde 1963, quando tentou acessá-la de fusca, mas não conseguiu.
Niède se exilou da ditadura militar em Paris, em 1964, e foi com o apoio do governo francês que conseguiu organizar uma missão para a Serra da Capivara. Para preservar os vestígios arqueológicos dos primeiros seres humanos que habitaram a região, a arqueóloga lutou pela criação do Parque Nacional, o que conquistou em 1979. O local é considerado patrimônio mundial pela Unesco desde 1991.

O parque de 129 mil hectares é administrado pela Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), criada em 1986 por Niède, que se aposentou da presidência da organização em 2020, aos 90 anos. Além do trabalho de preservação do tesouro arqueológico e contra seu abandono, Niéde também se preocupava com o desenvolvimento socioeconômico do sertão e a integração das populações que viviam ao redor do parque.
Niède transformou moradoras da região, que eram donas de casa em sua maioria, em responsáveis pela vigilância do Parque Nacional da Serra da Capivara. Chamadas de “guariteiras”, elas recepcionavam visitantes e fiscalizavam a caça de animais silvestres.
Filha de pai francês e mãe brasileira, Niède Guidon nasceu em Jaú, no interior de São Paulo, em 12 de março de 1933. Depois da graduação na USP, fez especialização em Arqueologia Pré-Histórica na Universidade Paris-Sorbonne e concluiu seu doutorado em pré-história na mesma universidade. Dedicou-se às pesquisas arqueológicas durante toda sua vida e não deixa filhos.
Lula e Ministério da Ciência lamentam a morte de Niède Guidon
O presidente Lula e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) emitiram notas sobre a morte da arqueóloga Niède Guidon.
Veja a nota de pesar do Presidente Lula sobre a morte de Niède Guidon
A ciência brasileira fica mais triste com o falecimento de Niède Guidon, que nos ajudou a entender as origens do homem no continente americano. Sua atuação foi fundamental para tornar a Serra da Capivara um patrimônio cultural da humanidade e para levar ao mundo o conhecimento sobre as riquezas pré-históricas localizadas em São Raimundo Nonato, no Piauí.
Expresso meus sentimentos por essa perda e desejo que o conforto chegue aos corações de seus amigos, familiares e colegas de trabalho.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Leia a nota do Ministério da Ciência e Tecnologia sobre a morte de Niède
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) lamenta o falecimento da pesquisadora Niède Guidon, ocorrido na madrugada desta quarta-feira (4), aos 92 anos.
Reconhecida internacionalmente, Niède foi uma das maiores cientistas brasileiras e referência na arqueologia mundial. Dedicou sua vida à pesquisa e à preservação do patrimônio pré-histórico nacional, especialmente na região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí — onde revelou ao mundo vestígios que transformaram o entendimento sobre o povoamento das Américas.
Com coragem, rigor científico e compromisso com a educação, Niède construiu um legado que transcende a ciência. Fundadora da Fundação Museu do Homem Americano, membro da Academia Brasileira de Ciências e Grande Oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico, foi também uma das vozes mais firmes na defesa da valorização do conhecimento e da presença feminina na ciência.
Niède Guidon deixa uma marca indelével na história do Brasil. O MCTI presta solidariedade aos familiares, amigos, colegas e a todos que, direta ou indiretamente, foram inspirados por sua trajetória.
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