No último domingo (2), os artistas que se apresentavam na Av. Paulista com caixa de som foram expulsos do local pela polícia. A tropa de choque alegou que a prefeitura de São Paulo havia proibido o uso de equipamentos eletrônicos para os artistas de rua — ainda não há decreto que sustente o argumento. Se a situação não se resolver, artistas farão manifestação na famosa avenida neste domingo (9).
Nesta sexta-feira (7), às 16h, os artistas irão se reunir com a prefeitura para chegar em um acordo de mútuo benefício. Caso não chegue em uma conclusão, no domingo (9) haverá um ato em defesa da arte de rua na Paulista, a partir das 11h.
O que aconteceu no domingo (2) na Paulista?
A banda Picanha de Chernobill fez um vídeo denunciando a situação, ainda no domingo. A publicação conta com quase 500 mil visualizações e com mais de 5 mil comentários, reunindo artistas, políticos e a população geral, em apoio às apresentações na avenida.
Leia também: Grammy 2025: Ministério da Cultura repudia tratamento dado a Milton Nascimento
O grupo musical que tem apresentação marcada para o próximo Lollapalooza São Paulo, em março, tem 70% da renda mensal vinda dos shows públicos. “Estamos sempre nas ruas passando o chapéu, não só na Paulista, também nos apresentamos no centro duas vezes na semana”, explica para a TVT News o vocalista e guitarrista Chico Rigo, da banda Picanha de Chernobyl.
O vereador de São Paulo, Nabil Bonduki, manifestou seu estranhamento com a situação já que esteve envolvido na implementação do “Programa Ruas Abertas” e na implementação das leis de viabilização dos artistas nas ruas livres para pedestres.
Leia também: “Sons não têm gênero, são apenas sons”, afirma Manu Santos
A Avenida Paulista, assim como outras ruas do município, fica fechada para carros das 9h às 16h, permitindo que pedestres ocupem de diversos modos as oito faixas feitas para os veículos. O projeto foi, inicialmente, implementado em 2015 e oficializado com o programa Ruas Abertas, em 2016, com o decreto Nº 57.086/2016.
Consequências da Paulista sem som
Sem a liberação para o uso de caixas de som, diversos artistas estarão impossibilitados de se apresentarem na Av. Paulista, um dos principais pontos turísticos da capital. É o caso de Jonathan de Jesus Oliveira, o Porquinho da Paulista.
Sempre vestido com sua fantasia rosa de porco, Jonathan canta e dança como se fosse um karaokê em céu aberto na Paulista. Ele soma 160 mil seguidores no Instagram e mais de 440 mil seguidores no TikTok. Os vídeos que alimentam as redes são gravados diariamente na avenida, porém com a proibição do som eletrônico, ele não poderá mais se apresentar no local.
Leia também: Masp abre novas instalações no aniversário de 471 anos de SP
A arte estabelecida na avenida é um atrativos que se soma aos museus e lojas espalhados no quase três quilômetros. Expulsos, os artistas são forçados a migrar para diferentes áreas da cidade, o que pode reduzir o fluxo de pessoas na Paulista e, consequentemente, diminuir o comércio da região, repleta de restaurantes e bares.
Além disso, pode impactar diretamente a renda dos artistas de rua — que de trocado em trocado pagam suas contas mensalmente. As mudanças também acendem um alerta para a continuidade do projeto que mantém a Paulista (e outras ruas da cidade) fechadas. Artistas e moradores temem que a avenida pare de ser dos pedestres nos domingos.
@joow.j No último domingo, a Prefeitura de São Paulo proibiu o uso de caixas de som por artistas de rua na Av. Paulista, um espaço que sempre foi sinônimo de cultura e expressão. Este vídeo é um pedido para que a Prefeitura disponibilize outros espaços onde possamos continuar levando nossa arte ao público. A música, a dança e o entretenimento de rua fazem parte da alma da cidade – e precisam de um lugar para existir! Vamos juntos nessa causa? #rihanna #umbrella ♬ som original – Porquinho da Paulista
Ruas Abertas em São Paulo
O programa Ruas Abertas inicialmente previa que os carros só voltaria a circular a partir das 22h. Porém, não foi para frente e a prefeitura determinou o retorno às 19h. A Paulista chegou a ter até 10h reservadas para pedestres — das 9h até às 19h. Mas gradualmente os cidadãos foram perdendo seu tempo de lazer para o tráfego de carros.
A mudança mais recente aconteceu na primeira gestão de Ricardo Nunes (MDB). Na época, a avenida estava livre das 8h às 16h, mas a prefeitura ordenou que o fechamento das vias deveriam acontecer somente às 9h. A pandemia também foi um divisor entre os horários permitidos, antes da crise epidemiológica, a Paulista ficava aberta das 10h às 18h.
Leia também: Nunes eleva a tarifa de ônibus em São Paulo para R$ 5
A banda Picanha de Chernobill é de origem gaúcha, mas se mudaram para São Paulo e tocam na Paulista desde o início do programa Ruas Abertas. Durante quase 10 anos de apresentações, a banda sempre lidou com as intervenções policiais devido às reclamações de barulho vinda de moradores.
“A polícia sempre nos tratou bem, pedia para abaixar o volume do som e nós reduzíamos. Mas dessa vez o carro de choque ameaçou confiscar nossos equipamentos, ficamos de mãos atadas”, relatou Chico.
Leia também: Não é dinheiro público. Entenda a Lei Rouanet de uma vez por todas
O serviço militar informou que a Subprefeitura da Sé não havia permitido o uso de caixa de som pelos artistas. Só poderia continuar se apresentando em formato acústico. Entretanto ainda não foi encontrado o decreto que sustenta o argumento, assim como não foi feito um aviso prévio para os artistas sobre a nova decisão.
*Em atualização.